Dia: 5 de Novembro, 2017
O Problema de Qualquer Concurso Interno Antecipado para Resolver as Burradas Desde Ano
Vejo os colegas que têm lutado contra a situação criada a 25 de Agosto a debater os termos em que o ME quer lançar um novo concurso em 2018, alegadamente para resolver as injustiças (que o próprio ME não admite terem sido cometidas…) criadas pelo concurso de Mobilidade Interna deste ano. E discordo deles por diversas razões, uma delas de ordem mais táctica: se aceitam discutir os termos do concurso do próximo ano é porque dão por perdida a “batalha” deste ano. Se os tribunais lhes derem razão não é necessário nenhum novo concurso que, a acontecer, por acaso pode piorar as coisas se os obrigar a concorrer.
Mas há uma outra razão, mais profunda, que me faz discordar da própria ideia de um concurso interno antecipado e que é o facto de ele não ter condições para ser “mais justo” ou poder acontecer sem “lesar” – no sentido de não eliminar injustiças ou mesmo vir a causar novas – mais ou menos colegas.
Porquê?
Porque, independentemente do articulado, colocam-se duas situações possíveis:
- Ou se obriga toda a gente que concorreu este ano (colocada a 25 de Agosto ou depois na RR) a concorrer de novo em 2018 e assim se está a prejudicar quem este ano teve colocação plurianual e não esteve envolvido nas chamadas “ultrapassagens” (basta pensar em quem estava em posição acima de quem foi prejudicado e teve colocação ajustada, em horário completo de acordo com a sua graduação e prioridades).
- Ou concorre só quem quiser e então nada obriga que quem em 25 de Agosto ficou em vaga “indevida” dela venha a sair, caso tenha componente lectiva para 2018-19. pelo que não há maneira de fazer “justiça” em relação ao que se passou este ano.
E ainda há a possibilidade de nesse concurso antecipado se vir a consolidar a indicação de, num primeiro momento, apenas serem providos horários completos como foi feito este ano à margem da lei em vigor. Ou seja, passar a ser regra o que agora foi atropelo.
Posso estar enganado, estar a ver isto mal, mas a mim parece (seja qual for a maneira como lermos o ante-projecto em discussão) que um concurso para o próximo ano ou causa mais injustiças (e não deve ser prática aceite cometer uma nova injustiça para compensar parcialmente uma cometida antes) ou então é, na melhor das hipóteses, em grande parte inócuo.
Pelo que… como no caso dos colegas indevidamente excluídos pela outra burrada da dgae, a única solução que não prejudica ninguém é aquela que a SE Leitão, mais as suas juristas designadas, se recusa a aceitar… a da colocação administrativa.
(ainda ninguém percebeu que a enorme pressa em apresentar este “ante-projecto” se destina apenas a “enterrar” o assunto”)
Quanto Mais Fala Mais se Enterra
António Costa não percebe nada de carreira docente, nunca quis perceber e deve ter uma raiva danada – e não é só ele – a quem percebe alguma coisa. E os seus assessores vão pelo mesmo caminho, pois devem ser daqueles que estão mais preocupados no efeito mediático a curto prazo das declarações do que no seu rigor e numa vaga relação com os factos.
Eis o último exemplo:
Este tipo de afirmação é de um vazio de conteúdo imenso. Porque – não sei se honra lhes seja feita, pois pelos vistos tudo foi de uma enorme inutilidade – quase todos os professores “dos quadros” continuaram a fazer os seus relatórios de auto-avaliação todos os anos durante o período de congelamento e houve mesmo quem (nos escalões mais massacrados) tenha cumprido aquela coisa das aulas assistidas, isto para não falar na religiosa acumulação de créditos ao ritmo de 25 horas de “formação” por cada 2 anos de carreira (e muita gente fez mais). Ou seja, para a larga maioria – mesmo que se assumisse a destruição da carreira encetada por Maria de Lurdes Rodrigues, continuada por Crato e não revertida por Tiago Brandão Rodrigues – os deveres inerentes a uma carreira regular continuaram a ser cumpridos.
A “reconstrução” seria muito simples, bastando verificar se, apesar do esforço de “destruição”, as pessoas não continuaram a cumprir todas as suas obrigações, das meramente burocráticas às de “mérito”.
António Costa pode dizer que não tem dinheiro ou que, se o tem, não o quer aplicar na tal “reconstrução” da carreira docente, porque não acha que isso é prioritário ou sequer relevante. Não “reconstrói” porque não quer. Não adianta começar com rodeios da treta, como se todos fossemos tão parvos quanto ele pensa que somos. Há uns quantos que são… mas isso é outro campeonato, o dos que acham que podem ganhar outras coisas “por fora” como recompensa pela fidelidade.
Note-se que ninguém lhe está sequer a pedir que pague retroactivos por uma década perdida. Essa perda foi considerada irremediável e em boa verdade duvido que alguém tenha pensado nisso mais do que uns segundos. Já o “reposicionamento” na carreira podia ser ainda uma esperança remota. Mesmo se Costa foi um fiel de Costa e Maria de Lurdes Rodrigues e nunca se lhe ouviu um pio em desconformidade naqueles tempos. Os professores que foram dos mais sacrificados será “descongelados” como todos os outros e, em muitos casos, ainda o serão em circunstâncias piores do que outras carreiras.
E não me venham com a treta do argumento conjugal, ok?
(mas tudo isto já fazia parte do guião da geringonça, certo? não adianta darem a entender que nunca discutiram isto em 2015… porque eu não acredito minimamente em alguns recentes ataques de solidariedade retórica… já lá vai o tempo que eu ia nisso…)
As Variáveis da Docência
Existem muitos estudos, propostas, opiniões, investigações e sugestões metodológicas, conceptuais e pedagógicas em torno da qualidade do trabalho dos professores. E há aquela coisa da “formação” como se fosse uma espécie de panaceia que cura todos os males, mesmo se os “médicos” quantas vezes nem eles sabem aplicar os remédios que prescrevem e leram algures antes de passarem para um powerpoint (ou prezi ou coisa mais moderna e animada).
Mas a formação, em boa verdade, só consegue funcionar – e é quando as pessoas estão disponíveis para isso – em torno de duas das variáveis da docência que podem parecer únicas mas estão longe de o ser, mesmos e são indispensáveis: os conhecimentos do docente e as suas capacidades pedagógicas para os transmitir.
Depois há a outra dimensão que é a das variáveis mais propriamente “humanas” da docência (como do exercício da medicina, justiça, etc) e que são as da capacidade de despertar confiança nos alunos e conseguir uma relação empática com as turmas e a generalidade desses alunos. Quando essas capacidades – que não se desenvolvem com a leitura de citações de autores, por muito consagrados que sejam – estão ausentes, dificilmente o resto consegue funcionar sem ser com mais esforço. Em especial a capacidade de nos relacionarmos com os outros, é algo que pode desenvolver-se com o tempo, com a troca de experiências, mas também é bem provável que seja vítima do processo inverso, de erosão em virtude da degradação das condições da evolução da própria vida profissional (ou pessoal). A empatia dificilmente se ensina/aprende, quando muito há quem a consiga fingir, mas isso raramente funciona muito tempo.
Quanto à confiança, à capacidade de demonstrar aos outros (neste caso aos alunos) que podem confiar, salvo esta ou aquela excepção, no nosso bom julgamento das situações e que o que fazemos é para o “bem comum” (no sentido de grupo de trabalho turma/professor), resulta também dos traços de personalidade de cada um de nós. E isso é daquelas coisas que – falamos de carácter, honestidade, transparência de processos – ou se tem ou não se tem. Não há formação que consiga mais do que sublinhar a sua importância.
Sobre as Irregularidade no Concurso de Mobilidade Interna
A captação do som não é a melhor… é preciso subir o som. Agradeço ao Paulo Fazenda o envio.