Dia: 17 de Novembro, 2017
Por Uma Avaliação a Sério do Desempenho Jornalístico – 3
Eu sei que os gurus mediáticos dizem que estamos num “novo paradigma” e que agora é o online que conta, mais as “plataformas digitais”. Mas nem tudo explica a incapacidade de alguns gestores do jornalismo que dizem ser jornalistas mas só produzem opinião enviesada para ultrapassarem o declínio. O relatório do Obercom que referi em post anterior é claro sobre a forma como avalia a fase do processo em que se encontra essa transição de “paradigma”.
Mas passemos aos indicadores sobre o enorme mérito de quem dirige os “projectos” que se dizem “jornalísticos” entre nós.
Circulação impressa paga entre 2008 e 2015: perdas acima dos 36%.
Vejamos os números por título. O Expresso tem perdas de 35%. O Público desce para menos de metade (48,3%) do que era. O Diário de Notícias para pouco mais de um terço do que era (circulação em 2015 representa apenas 34% da de 2008). No mesmo grupo, o Jornal de Notícias fica um pouco acima dos 50%. Até o Correio da Manhã perde circulação, embora apenas na ordem dos 10%.
Veja-se a descida no indicador da eficiência:
Veja-se como a evolução é pior entre o sector dos jornais económicos, dos semanários e diários de informação geral.
Isto é apenas o resultado da crise? Pode ser. E pode não ser. O que é interessante é que, mesmo com crise, pediu-se sempre às escolas e aos professores que fizessem mais (sucesso) com menos (meios), mas essa lógica perde-se em outros “ambientes”, onde qualquer camilolourenço despeja sentenças como se de desarranjo opinativo se tratasse.
Se eu gosto que isto aconteça? Não, porque fragiliza a imprensa livre e torna-a ainda mais refém de interesses exógenos ao jornalismo… só que seria bom estudar se isto é apenas a tal mudança de paradigma se é algo mais profundo e que passa por uma crescente perda de confiança. Se as coisas não pioraram mais com a percepção dos leitores de que a informação estava progressivamente “contaminada”.
Quanto ao desvio das verbas da publicidade (a composição desta publicidade por órgão de informação seria uma investigação muito, muito interessante, para se perceber quem ganhou e muito com pêtês, édêpês, bes, galpes e etc) para outros meios, vejamos a informação disponível desde 2004:
É fácil perceber que a redução na imprensa é muito superior ao que é investido na internet e, mais relevante, a fatia da imprensa desce de 27,4% para 14,4% do total (o que é uma evolução independente da contracção do investimento publicitário). E a aposta nas plataformas digitais não sei até que ponto não terá já atingido alguma estagnação, pois parece ter mesmo entrado em quebra desde 2013.
Não sei se isto explica uma enorme acrimónia em relação ao resto do mundo, mas não me parece razoável que explique tanta sanha anti-professores na orientação editorial mais recente da generalidade destes órgãos de informação, com destaque para alguns dos seus principais vultos directivos (o Observador é um caso particular, por ser recente e não ter edição em papel que nos permita fazer comparações).
O que isto me transmite é a necessidade da gestão do jornalismo impresso entre nós se repensar, ao nível da avaliação do seu próprio desempenho, antes de começar a largar bitaites sobre tudo e nada, como se soubessem alguma coisa acerca daquilo de que notoriamente não percebem.
Quanto dizem (os baldaias, os dinis, os fernandes, as garridos, os tavares e tantos outros espalhados pela imprensa que se gostaria que fosse séria, rigorosa e não preconceituosa) que os professores fogem à avaliação pelo mérito e progridem “automaticamente”, o que poderíamos nós dizer tendo em atenção estes números e o facto de vermos sempre as mesmas caras a rodar de cadeiras e a aparecer nas televisões como se fossem portadores de um qualquer conhecimento acima do comum dos mortais?
Já pensaram aplicá-lo na vossa própria actividade/casa?
(e se o grande argumento é que nada disto é com “dinheiros públicos”, talvez fosse boa ideia ir lá atrás à tal publicidade que era feita a empresas com capital público maioritário e já nem falo na preparação das privatizações…)
E ao 3º Dia…
… o senhor ministro da Educação levantou-se a andou para casa. Ainda bem, porque nada lhe desejo de mal e vi a aflição no olhar de algum professorado feminino jovem sempre que se fazia alguma piada com a dizziness do governante, sendo-lhe impermeável a ironia. Apercebi-me também que o que eu achava ser um síndrome quase desconhecido já atingiu, afinal, imensa gente em idade jovem e com modo de vida saudável, a acreditar no que dizem (“ah… eu sei, já tive e é horrível…” foi uma das frases que mais ouvi na 5ª feira, nem sempre de forma voluntária). Tiago Brandão Rodrigues tem futuro nisto, pois há outros governantes que, mais experientes, atraem um público mais maturado, mas penso que menos firme.
A continuação das melhoras, senhor ministro, pois eu detestaria ver a infelicidade no olhar do futuro da classe docente.
Pequeno Guia Para Uma Avaliação do Desempenho (da Gestão) Jornalística
Por Uma Avaliação a Sério do Desempenho Jornalístico – 2
Gosto de colocar a coisa em números. Fui ao site da APCT e saquei os números da circulação dos jornais generalistas portugueses para 2005 e 2016 em excel e comparei-os. Os resultados são bem reveladores sobre o “desempenho” de quem os dirige e da forma como o “mercado” responde à sua acção. Exclui os jornais gratuitos e coisas como as Selecções do Reader’s Digest ou a Visão História. Em 2005 ainda há jornais que entretanto desapareceram. Em 2016, faltam as tiragens do Sol e I, mas isso é ultrapassável.
A realidade é que a circulação desceu para menos de 2/3 do que era e mesmo que era e mesmo que arredondemos os valores para 3.000.000 em 2016 ficamos com um valor de 72% em relação ao de 2005. Deve ser tudo do “valor acrescentado” e do “mérito”. Ou então é o “contexto desfavorável” a explicar. Nunca a responsabilidade de quem dirige os “projectos”.
(e atenção à “NOTA: A Circulação Total Impressa inclui a Circulação Total Digital”)
Ahhh… são “as redes sociais”. E devem ser também as redes sociais que explicam o descalabro do nicho mais curioso do nosso “mercado comunicacional”, ou seja, os das publicações de “economia, negócios e gestão”. Porque certamente os nossos “empreendedores” guiam a sua informação pelo instagram e pelo snapchat.
A circulação total anual é menos de 50% do que era. A “crise”, claro, explica tudo. Foi feito um “ajustamento” e só ficaram os “melhores”… o pior é que mesmo os “melhores” levaram uma bela cacetada.
E é interessante, se nos dermos ao trabalho, de ver a diferença entre a tiragem e a circulação paga. Em 2005, a circulação era inferior a 70% da tiragem, mas em 2016 já ultrapassa os 78%. No caso dos generalistas a coisa ainda é mais substancial, pois em 2005 a circulação atingia menos de 62% das tiragens e em 2016, apesar de subir, ficou pelos 67,8 (e se incluirmos o Sol e o I acho que ainda desce).
Explicações podem existir várias (duas delas muito pouco caridosas), mas deixemo-las para o relatório de auto-avaliação do desempenho jornalístico de “quem sabe””, os faróis do conhecimento acerca da matéria, os cultores da progressão apenas pelo “mérito” e pela avaliação dos “utentes”.
O engraçado sem graça é que são sempre os mesmos, numa rotação de cadeiras entre “operacionais” deste tipo de “projectos”, os quais depois acumulam com “análise” nas televisões, nunca os tendo eu visto fazer uma espécie de declaração de interesses, a explicar que não é propriamente “jornalismo” o que “projectam”.
(mas é óbvio que a culpa disto foi da crise internacional e, como já referi, das “redes sociais”, não da degradação do jornalismo enquanto actividade independente e trustworthy, para usar termos lá de fora, como fact-checking e accountability… desde que os shareholders paguem… a malta “reajusta” despedindo os mexilhões mais inconvenientes…)
Por Uma Avaliação a Sério do Desempenho Jornalístico
Nota prévia: neste texto refiro-me ao que eu considero “operacionais” de projectos que têm muito mais de político ou económico (ou de vaidade pessoal) do que efectivamente de “jornalístico” e que circulam pelas direcções e chefias de órgãos de comunicação social como se fossem uma espécie de jogadores de futebol em circulação por clubes associados aos interesses de agentes do “mercado”. Não falo de quem , nas redacções faz o seu trabalho o melhor que sabe e lhe deixam, procurando sobreviver na selva.
Para que fique ainda mais claro falo dos baldaias, dinis, fernandes ou, no caso das vaidades, de um certo tavares protegido de alguém que não se importa da sua cegueira em relação ao que levou milhares de milhões ao erário público, mas a quem confunde muito que um professor ganhe mais 100 euros ao fim do mês.
(nem sequer incluo aqui aquele tipo que adorava as boalchinhas da mlr e que andou pelo cm e pelo i, conforme lhe deram a mão…)
Falo daqueles que sistematicamente criticam os professores e insistem em considerar que a classe docente não quer ser avaliada pelo seu mérito ou pelo desempenho dos seus alunos. Que no privado é que é, que no privado é que dói muito e só vence o tal “mérito”.
E eu reverto o argumento:
O que sabemos sobre o “mérito” de algumas destas figuras? Que “enterraram” as vendas de quantas publicações? Que “valor acrescentado” (para além de cortes nas redacções e despedimentos a granel) têm estas figuras para apresentar? Qual a evolução das vendas das publicações que dirigiram ou dirigem? E não me venham com o online, porque para isso era necessário demonstrar (o que nunca vi) que aquela publicidade funciona mesmo e paga “projectos” como o Observador que, se não tivesse investidores interessados em promover uma agenda político-ideológica muito específica não teria condições para andar a contratar os despojos de outros “projectos”, enterrados pela elite que temos de directores de jornais.
Poderão estes senhores (e algumas senhoras) explicar qual a “avaliação” que têm para nos apresentar? Se forem as vendas, estamos falados… só o cm se safaria. Nem o bastião do regime escaparia e basta ver o que o balsemão vai fazer ao seu grupo de comunicação, para se perceber que o “mérito” tem pouco reconhecimento no “mercado”. E nem sequer podem falar em grande concorrência – não me digam que é o facebook que os derrotou? – porque estão quase todos em falência mais do que técnica.
O que observa quem lê jornais e revistas há 35 anos e os comprou a fio durante décadas é uma atroz endogamia entre “investidores” e alguns jornalistas em cargos de chefia, bem como uma relação pantanosa com alguns interesses económicos. Basta ver como, subitamente, ninguém se lembra da publicidade plantada pelos salgados e bavas (e mexias e tantos outros) para obterem “boa imprensa”. Alguém terá coragem de avaliar o dinheiro que entrou em certos “projectos jornalísticos” com esta origem?
Ou – já agora – porque se falou numa lista de jornalistas com certo “rasto” nos papéis do panamá, a qual depois desapareceu sem deixar o tal “rasto” visível? Será muito estranho associar isso a certas movimentações que então aconteceram entre órgãos e grupos de comunicação social? É esse o “mérito” de que falam e querem que os outros demonstrem.
Os professores desenvolvem o seu trabalho de forma transparente. Há bons, maus, medíocres, suficientes e excelentes em diversas gradações e proporções. Como em muitas outras profissões, mas há uma meia dúzia de luminárias com direito a coluna regular e voz de comando nas redacções que se acha com valor e competência para duvidar sistematicamente da sua qualidade. Os alunos melhoraram o desempenho? Foram @s ministr@s da sua estimação que fizeram leis boas. As coisas correm mal este ou aquele ano nos exames ou provas de aferição? É falta de “formação” dos professores.
Mas se um jornal apresentar sistematicamente quebra de vendas ou de publicidade já é o “contexto” que explica tudo e não a incapacidade ou incompetência de quem os dirige que é sublinhada.
O duplo padrão é a moeda corrente das análises dos baldaias, dinis e fernandes. E nem falo da diva da página qualquer coisa do espesso semanário)
Mas ainda bem que nos exigem aquilo que não praticam.
Percebem que estamos em planos éticos realmente muito diferentes.
(e aposto que, apesar de muito liberais e defensores da liberdade de opinião sem verificação à tavares, não gostam nada que se lhes aponte este tipo de coisas…)