Por Uma Avaliação do Desempenho Televisivo

Só para tentar perceber – para além das disputas relativas entre si – qual o desempenho dos três grupos que dominam o panorama televisivo nacional e se os seus dirigentes e estratégias têm tido “sucesso” no “mercado” ou se temos pouco a aprender com o seu “mérito”.

A Televisão em Portugal – Análise das audiências e dinâmicas concorrenciais do mercado  televisivo português entre 1999 e 2016

Vale o que vale, mas quem diz que o “mercado” é que é a medida do “sucesso” talvez pudesse tirar as suas conclusões do continuado declínio. Por exemplo, os canais SIC estão metade do que eram (daí que seja preciso vender tudo o resto para os manter e ao Expresso); a RTP em 10 anos seguiu um caminho semelhante. A queda dos canais TVI é menor e mais recente, mas desde 2008 que o plano é deslizante.

Televisões

Se os professores devem ser avaliados pelos resultados (que têm subido neste mesmo período em termos comparativos internacionais) ou satisfação dos “clientes”, o que deverá acontecer nas paragens televisivas em que tanto emproado aparece com lugar regular a destruir qualquer esperança de credibilidade? Porque isto parece-me um desempenho “medíocre” para não dizer “miserável”.

Se este tipo de “análise” é simplista e demagógica? É capaz de ser, é capaz de ser… mas lá que diverte, diverte. Até porque é giro devolver a estratégia. Em especial em relação aos que andam mesmo preocupados em denegrir os professores por todos os métodos dos opinadores avençados às notícias seleccionadas.

 

Memórias da Grande Marcha dos Professores – Epílogo

Talvez ajude a perceber alguma coisa do que se vai passando por estes dias. Pode parecer publicidade, mas não há problema… o livro esteve pouco tempo em exposição e já o sacaram das livrarias há muito…

1 de Julho de 2010. Quinze horas. A pequena secção de Ciências Sociais da Livraria Almedina-Saldanha está apinhada e continua a encher-se de personalidades que aguardam o lançamento do livro da ex-ministra Maria de Lurdes Rodrigues, marcado para as 14h30. Há de tudo um pouco: das representantes da burocracia ministerial como directoras de escolas e agrupamentos e directoras-gerais e uma vasta elite de vultos da vida política e mediática nacional. Na linha da frente, uma substancial representação da família Soares, pois o seu patrono e decano era a principal figura escolhida para fazer a apresentação da obra[1]; ao lado, sentar-se-iam alguns assessores/consultores da Presidência da República, numa rara aliança. Atrás, de tudo um pouco, de um distanciado Pacheco Pereira a observar as prateleiras de livros a uma agitada Isabel Alçada, sucessora de Maria de Lurdes Rodrigues na pasta, a ajudar à «arrumação» de colegas de Governo que vão chegando, encaminhando-os para o espaço ainda livre da secção das Ciências da Educação e Naturais. Mário Lino, Paulo Campos vão passando, enquanto se espera a chegada das duas estrelas da tarde: a autora e o primeiro-ministro que lhe deu todo o apoio e a nomeou para a FLAD no mesmo dia em que Isabel Alçada e Mário Nogueira alcançaram o chamado «acordo das pizzas»[2].

Há rostos que se reconhecem dos meios académicos, com destaque para a casa-mãe de Maria de Lurdes Rodrigues, o ISCTE. Colegas e amigos. Colaboradores de antes e depois, num leque político-partidário relativamente amplo.

Há gente da imprensa que ali está para cobrir o evento e os que estão para demonstrar o apreço pela ex-governante. Ser estranho em ambiente estranho, ouço um conhecido comentador televisivo elogiar longamente o programa Novas Oportunidades a uma pequena audiência de burocratas do ministério. Paira no ar um ambiente, natural, de satisfação em quem se reconhece de passados comuns e de diversas «lutas», muito em especial da «luta» travada abertamente ou nos bastidores ao lado de Maria de Lurdes Rodrigues contra os professores.

Só naquele momento tive a percepção verdadeira e mais completa da impossibilidade de sucesso dos professores no seu confronto com o Governo e a ministra da Educação em 2008 e 2009. Porque nunca teria sido possível vencer uma coligação tão ampla de gente que se percebe admirar a acção tida como «firme» da ex-governante. Quase todo o arco da governabilidade está presente – faltam figuras maiores ligadas ao CDS num primeiro olhar – acrescido de muita gente que ainda navega nas franjas à esquerda do PS, gente com uma história comum nas décadas de 70 e 80, de radicalismo reconvertido ao mainstream académico e político.

Há um paradoxo enorme, uma contradição evidente, entre a sensação de inclusão, de partilha, de orgulho dos professores quando descem a Avenida da Liberdade em 8 de Março de 2008 e o seu profundo isolamento fora da sua própria classe, não em relação à população mas em relação à classe política e às cúpulas de muita comunicação social. O tempo das «massas» já passou e a sua «vitória» seria a «derrota» de todos aqueles que renegaram esse tipo de ideais no seu passado, tanto quanto de todos os que sempre lutaram contra «o poder da rua».

O que se passou em Março de 2008 foi uma «grande ilusão», apesar da singularidade histórica de uma mobilização ímpar de uma classe profissional. Essa ilusão tem traços específicos resultantes da situação concreta vivida, mas é também significativa da crescente oposição entre eleitores, cidadãos, de um lado, e uma «classe política» cada vez mais distanciada do seu papel de representação política e preocupada em manter o seu poder imune a pressões externas. É uma classe política estreitamente ligada ao poder mediático, no sentido de promiscuidade e partilha de interesses que Peter Oborne (2005, 2008) e Owen Jones (2015) já descreveram com detalhe para a Inglaterra e que em Portugal começa a perder alguns véus (Sampaio 2013 e 2014, Matos 2015)

Cerca das 15h30, chega o primeiro-ministro, antecedido por alguns seguranças que lhe abrem o caminho depois de terem avisado os repórteres de imagem. Maria de Lurdes Rodrigues esperara por ele e a chegada é adequadamente conjunta, sentindo-se um frémito palpável por toda a sala, já apinhada. Só se nota indiferença num conhecido e experiente repórter de uma estação radiofónica.

Era o momento de eu sair, antes de começarem os discursos de encómio e autocongratulação da ministra que podia, sem receio de incorrer em falsidade, afirmar que raramente tinha dúvidas e nunca se enganava. Aliás, as mais de 300 páginas do seu livro são isso mesmo. Uma longa autolegitimação da sua acção política sem espaço para qualquer tipo de contraditório, omitindo por completo a ampla contestação que lhe foi feita pela larga maioria dos docentes.

Sobre o que se passou em Março de 2008, um imenso silêncio ou a truncagem do que se aconteceu em concreto, refugiando-se numa formulação que escamoteia por completo a realidade da contestação generalizada a muitas das suas políticas.

«Em Janeiro de 2008, publicou-se o regime de ADD e, em Fevereiro, foi criado o Conselho Científico para a Avaliação de Professores (CCAP). Os objectivos consistiam em assegurar o acompanhamento e a monitorização da ADD e elaborar recomendações, orientações, pareceres e propostas para o progressivo aperfeiçoamento do processo.

O reconhecimento das dificuldades de aplicação imediata sentidas pelas escolas e pelos professores levaram à assinatura, em Abril de 2008, de um Memorando de Entendimento com a plataforma sindical que reunia todas as organizações sindicais de professores, do qual constavam regras especiais e transitórias para o primeiro ciclo de avaliação (anos lectivos 2007/08 e 2008/08).» (Rodrigues, 2010, 273, negrito meu)[3]

Passei pela caixa e comprei um exemplar (aquele que acabei de manusear para transcrever a passagem anterior, com preço de capa de 20,19 euros), para incredulidade da minha cara-metade, em grande parte responsável pela ideia de estar ali e passar uma das mais instrutivas horas de educação política da minha vida. Foi uma espécie de encerramento de um ciclo da minha vida pessoal e profissional, aquilo que os anglo-saxónicos denominam como closure, ou seja, como resolução final de uma questão que tinha ocupado boa parte do meu tempo nos dois-três anos anteriores. Porque confirmei muito do que tinha entrevisto à distância em 2008 e 2009: um enorme consenso da maioria do arco da governabilidade e suas extensões académicas em defender Maria de Lurdes Rodrigues e a sua política de «reformas» em confronto aberto com os professores. A «firmeza» elevada a qualidade em si mesma, quase que independentemente do mérito e da forma demagógica como se enunciavam as «causas».

Antecipava-se algo que um ano depois se confirmaria de uma forma singular. Muitos dos políticos, da esquerda à direita, que durante um par de anos fizeram tudo por dar a entender que defendiam a causa dos professores, ou pelo menos parte dela, e que fariam o possível por tornar mais razoáveis algumas das medidas impostas desde 2007, tornar-se-iam, com pouca surpresa, surdos e mudos. Uns por omissão, outros por explícita acção, deixariam os professores quase isolados perante as investidas do Governo de Passos Coelho e do ministro Nuno Crato para concluir a obra que tanto tinham criticado aos antecessores. De Ana Drago a Paulo Rangel, a larga maioria deixaria de dar qualquer tipo de apoio à continuação de uma luta contra a objectiva degradação do estatuto profissional dos professores. Uns porque consideravam já ter feito muito e terem agora outras causas prioritárias, outros porque tinham apenas prestado um apoio táctico para se promoverem.

Não deixa de ser sintomático que a Educação tenha desaparecido quase por completo dos temas debatidos na campanha as eleições legislativas de Outubro de 2015 e tenha surgido nos programas dos maiores partidos praticamente em termos de continuidade com o que tinham apresentado anteriormente, sem qualquer especial preocupação em cativar o eleitorado docente.

Apesar de todos os desânimos, desilusões e frustrações, apesar de tentativas para apagar da História a singularidade e o efeito de choque da manifestação de 8 de Março ou para a relativização do seu impacto na opinião pública tendo em conta posteriores manifestações de grandes dimensões (caso da realizada sob o lema “Que se lixe a troika! Queremos as nossas vidas!”, também conhecida como manifestação anti-TSU de 15 de Setembro de 2012), a verdade é que ela foi um momento inédito, sem comparação até essa data, de mobilização de uma classe profissional contra um conjunto de políticas governamentais, tendo essa mobilização sido feita pela primeira vez em moldes que ultrapassaram em muito os canais tradicionais do protesto sindical, com recurso alargado às novas tecnologias de circulação da informação.

«Nos últimos anos, assistimos a um fenómeno relativamente novo que merece uma atenção especial. Falamos do que ficou conhecido por “movimentos de professores”, que assumiu proporções até então nunca conhecidas. Nascido da contestação ao novo modelo de avaliação de professores e ao Estatuto da Carreira Docente, este movimento ganhou expressão pública e demonstrou uma capacidade de mobilização que surpreendeu as próprias organizações sindicais, que em certos momentos foram claramente ultrapassadas. Para isso muito contribuiu o recurso generalizado às novas tecnologias de informação e comunicação, com os blogues e as mensagens electrónicas a estruturarem autênticas redes sociais de informação, debate e mobilização, como nunca tinha acontecido. Foi claramente o primeiro movimento social da era da Internet a ter uma projecção nacional e a alterar a lógica tradicional de conflito entre os órgãos de poder e um corpo profissional.» (Justino, 2010,123)

 E o dia 8 de Março foi a data que marcou de forma decisiva essa nova etapa da contestação socioprofissional e em que as ruas de Lisboa se encheram de uma forma completamente inesperada.

«Ao contrário dos que temeram que a abertura da discussão e do debate acentuasse divisões na classe docente, a realidade demonstrou que é mais eficaz a mobilização de um grupo profissional informado, esclarecido e seguro das suas opções do que de uma massa acrítica e informada de forma selectiva e enviesada. A transparência e o rigor são armas mais eficazes para a mobilização do que a névoa e o facciosismo.» (Guinote 2009b, 44)

Mas essa era uma ameaça ao establishment cujos efeitos era necessário conter e foi isso que foi feito nas semanas seguintes, nos meses seguintes, nos anos seguintes com o aumento da precarização dos contratados e o empurrar de muitos dos mais experientes para aposentações antecipadas, embora, como se voltaria a constatar na greve rotativa às avaliações de final de 2014, sem alcançar a desejada completa domesticação.

[1] Na nota de lançamento anunciava-se que «a sessão de apresentação do livro contará com intervenções do antigo Presidente Dr. Mário Soares, do Professor Manuel Sobrinho Simões, da Directora do Colégio Moderno, Isabel Soares, e dos editores».

[2] Na TSF, Paulo Tavares revelava que «a nomeação de Maria de Lurdes Rodrigues foi conhecida horas depois da reforma que defendeu para a Educação ter sido descartada pela actual ministra da Educação» (cf. http://www.tsf.pt/PaginaInicial/Portugal/Interior.aspx?content_id=1465384).

[3] A mesma atitude é tomada por Maria de Lurdes Rodrigues em relação às manifestações de Novembro de 2008 (a 8, convocada pela Plataforma Sindical, e a 15, convocada pelos chamados «movimentos independentes de professores»), apresentando as modificações introduzidas no modelo de avaliação do desempenho como resultando de um processo de «auscultação» e acusando os sindicatos de abandonarem o processo negocial, sem fazer qualquer referência ao novo e enorme protesto nas ruas (Rodrigues, 2010, 274).

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O Alexandre É Giro, Mas Não Tanto Assim

Gostava de ser moitadedeus, mas ao mesmo tempo sente a necessidade de manter algum decoro. Por isso, gosta de introduzir termos como “medíocres” mas depois faz ali umas piruetas, porque até sabe que há que manter algum decoro e ligação à verdade. Repare-se neste exemplo:

 O mérito não pode estar refém da antiguidade e, neste momento, é isso que sucede na educação, onde a progressão dos professores é quase-automática.

O “quase” é um mimo neste tipo de discurso. Se o Alexandre Homem Cristo quer passar por investigador e especialista (com assento no CNE) sabe que não pode escrever que a progressão dos professores é “automática”. ele sabe que a net não perdoa e que, mesmo sem ser em papel, esse tipo de prosa seria guardada e voltaria para o assombrar. Como ainda não é júdice ou marquesmendes, sabe que não pode partir à desfilada. E aquele “quase” é cirúrgico, representando que não mergulhou ainda por completo na “pós-verdade” de outros assanhados comentadeiros.

Mas há algo que ele escreve e que deveria explicar de forma fundamentada porque dá a entender que valorizar as condições de trabalhos dos professores é contra o interesse dos alunos.

A terceira consequência está no dano provocado pela mensagem política associada ao acordo: a de que os interesses e calendários corporativos (também representados parlamentarmente por PCP e BE) se sobrepõem aos do sistema educativo – isto é, aos dos alunos.

Este tipo de insinuação é grave, muito grave e ele deveria saber que um dia isso poderá aplicar-se a quem seja pago apenas para “investigar” certos assuntos, sem que isso tenha qualquer impacto nas aprendizagens dos alunos. Até porque tendo os resultados dos alunos melhorado substancialmente nas comparações internacionais (em contra ciclo com os dos sistemas de ensino que AHC elogiava até há muito poucos anos), quer-me parecer que investir nos professores é investir de forma quase directa na qualidade do trabalho com os alunos.

Este tipo de discurso – o interesse dos professores é contrário ao dos alunos – é “sustentável” porque quem sustenta certos observadores é exactamente quem acha que os interesses de donos de colégios privados não são contrários aos dos alunos. E há quem seja “avaliado” com base na prestação de serviços. Que podem ser “medíocres” desde que sirvam a “causa”.

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A Bojarda do Dia

Parece que saem da toca a cada dia, com a mesma cartilha. É especialmente grave quando é gente que dirige redacções ou jornais, com carreiras de anos de queda das vendas e da credibilidade e que já teriam tempo para se informar que as coisas não são assim.

São medíocres, mas acham-se no direito de chamar medíocres aos outros.

A ideia de que alguém progride na carreira, ou seja, é promovido e aumentado, apenas porque cumpriu na profissão o número de anos suficiente nunca me fez sentido. Mais ainda quando essa pessoa não pode ser despedida.

(…)

Até ser colocado numa escola, um professor passa por várias fases. Estuda, faz exames, é avaliado e testado em frente a uma turma de alunos. A partir do momento em que é colocado numa escola, o relógio começa a contar. É como se os professores fossem todos iguais, como se não houvesse melhores e piores, professores com mais vocação e outros que claramente erraram na escolha que fizeram. Quem paga são os alunos que lhes aparecem à frente, mas isso, para os sindicatos, não interessa nada. O que interessa é que o relógio nunca pare de contar. A pergunta que me sobra sempre é: que motivação tem um bom professor para procurar a excelência? Se, ao seu lado, um professor medíocre progride só porque sim?

A resposta final é uma contradição nos seus próprios termos, porque um bom professor define-se por procurar ser sempre melhor. A questão nem faz sentido. Preocupa-se com a concorrência dos medíocres quem está no meio deles. os anselmos, por exemplo. Isto é demagogia rasteirinha, disfarçada de “argumento” por parte de quem, em boa verdade, só é “avaliado” pela fidelidade a “projectos” com pouco a ver com jornalismo a sério.

Antes disso, Anselmo Crespo escreve em piloto automático sem sequer raciocinar. Os professores que ele diz terem errado na “escolha” são os mesmos que diz terem sido testados frente a turmas, estudado, feito exames. Este pessoal nem pensar em condições consegue, nem se apercebendo da sucessão de disparates que fazem publicar. Os professores não são avaliados? prestam um mau serviço? Troquemos um ano de funções que me aparece descansar, trabalhar às horas que me apetece, consultar umas cenmas na net, fazer uns telefonemas e escolher imagens enormes para poupar no texto das “notícias”. Com jeitinho, ser dócil qb para conseguir uns patrocínios publicitários maneirinhos (agora que os zeinais e salgados se foram, as coisas ficam-se pelos mexias e pouco mais, que o bpi é mais espesso).

Sorte nossa que cada vez menos gente os lê. Azar nosso que sejam os proenças, os júdices e aqueloutros “investidores” em projectos para servirem de correia de transmissão.

(e ainda falam do velho o diário)

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