O Miguel Tavares Desistiu de Opinar No Dia em Que Entregou a Alma ao Espírito Santo

E, realmente, se os professores, que são os mais privilegiados de todos os funcionários públicos em horas de trabalho, tempo de férias, absentismo, remuneração média comparada, e total ausência de qualquer avaliação de desempenho para progredir nos tais escalões, bastando-lhes para tal esperar sentados que passem sucessivamente ciclos de 4 anos (o triunfo da mediocridade sobre a competência e a grande vitória sindical de Mário Nogueira em 20 anos à frente da Fenprof), qual o argumento para negar o mesmo aos outros?

O Expresso e a SIC dão-lhe todo o espaço para dizer disparates sem fundamento (lembremo-nos dos 50 euros por exame classificado) e dão-lhe ainda destaques especiais. Percebe-se a razão do ódio irracional, mas começa a cansar, porque mentir é mentir e é especialmente grave quando já se explicou inúmeras vezes como são as coisas. Isto é o triunfo da mediocridade opinativa num semanário que mais do que ser do regime quer ser o regime.

Quem é MST para acusar seja quem for em matéria de coragem e coerência?

Durante dez anos, Miguel Sousa Tavares não escreveu uma palavra sobre o BES. Não escreveu sobre a operação Monte Branco e as lavagens de dinheiro da Akoya, não escreveu sobre o inside trading durante a privatização da EDP nem sobre o escândalo do BES Angola, muito menos escreveu sobre os 14 milhões de euros que Ricardo Salgado recebeu de prenda de um construtor, ou sobre os seus curiosos esquecimentos nas declarações ao fisco. Sobre tudo isto, a sua vigorosa pena manteve-se em recatado silêncio.

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Miguel Sousa Tavares terá investido cerca de dois milhões de euros no Grupo Espírito Santo, em unidades de participação do fundo ES Liquidez, através de cinco movimentos bancários realizados em 2013. Contudo, o escritor afirmou desconhecer tal investimento.

De acordo com o jornal Sol, que terá tido acesso a sete listas de clientes do Banco de Portugal, o nome de Miguel Sousa Tavares, bem como o seu número de contribuinte, aparece cinco vezes. 

Todavia, após ser confrontado, Miguel Sousa Tavares negou os alegados investimentos referindo que “nunca, com o meu conhecimento ou autorização, fui investidor de produtos do BES e do GES”.

Os dados do jornalista que se encontram numa das listas do Banco de Portugal são, segundo o Sol, indiscutíveis. 

No documento verifica-se que o escritor terá começado a investir em Dezembro de 2012, com um valor de 80.384 euros. Posteriormente, em Março de 2013, terá investido mais 181.257 euros e três meses depois outra quantia de 868 mil euros. O quarto investimento deu-se passado outros três meses com um valor de 875 mil euros, e em Dezembro do mesmo ano ainda investiu 90.954 euros.

MST

(DN, 14 de Março de 2015)

De facto, Miguel Sousa Tavares sobrevive graças ao mito e ao medo que criou à sua volta, à boçalidade que usa e abusa para ameaçar e chantagear inimigos e adversários, tudo disfarçado com umas pinceladas de escrita criativa e cuidada,embora  por vezes consiga ser genial.

Escritor pimba, bom escritor apesar de tudo, para quem gosta do género, conseguiu construir uma imagem de impunidade à sua volta.

Contudo o caso BES borrou a pintura e revelou o fim de um dos mitos que ainda iam sobrevivendo sobre as suas opiniões, o mito da independência.

Quem primeiro o desmascarou foi um humorista, que já tinha tido um caso polémico com Sousa Tavares no jornal A Bola, o José Diogo Quintela, que, em 31 de Março de 2013, escrevia no jornal Público a seguinte crónica:

O que vale é que os compadres nunca se zangam

“Fim de Março, época do IRS. Enquanto nas casas da maioria dos portugueses se procuram facturas para apresentar, na de Ricardo Salgado esconde-se o camembert. Para que o banqueiro não se esqueça de declarar tudo o que ganhou. Como no ano passado, em que olvidou 8,5 milhões de euros.

“Duvido de que este ano Ricardo Salgado se esqueça de declarar um boião de brilhantina que seja. Ainda deve estar a tremer com o que foi dito nos jornais. Principalmente com o que escreveu Miguel Sousa Tavares no Expresso. Eis um resumo do que M.S.T. teve a dizer sobre a tentativa de fuga ao fisco:

“Logo na semana em que foi noticiada a amnésia fiscal, M.S.T. não hesitou e escreveu sobre esse tema prenhe de actualidade que é o acordo ortográfico.

“Não satisfeito com isso, na semana seguinte, zás!, falou sobre o excitante e nada programado regresso de Portugal aos mercados.

“Na terceira semana, com toda a gente impaciente para ler o que tinha a dizer sobre a falta de memória do CEO do BES, a original crónica de M.S.T. teve ainda mais impacto. Foi sobre o (também muito pertinente) descarrilamento (sic) de um camião de porcos na A1.

Também não falou de Salgado na quarta semana. Nem na quinta. Nem na sexta. Ou na sétima. Nem há duas semanas. Nem na semana passada.

“Como o leitor deve imaginar, Ricardo Salgado não dorme há dois meses. Tem terror do que M.S.T. irá dizer quando finalmente resolver falar. É que, para estar há tanto tempo calado, M.S.T. só pode andar a investigar, fundamentando bem a bordoada que irá aplicar no traseiro capitalista. Cada semana que passa mudo, é mais balanço que dá à perna alçada. O suspense é terrível.

6 opiniões sobre “O Miguel Tavares Desistiu de Opinar No Dia em Que Entregou a Alma ao Espírito Santo

  1. Para além do dez magníficos directores que querem o bloqueio do 10º escalão temos também o Professor Doutor João César das Neves autocriticando-se por ter redução de horário injustificável e vencimento incomportável para a república.

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  2. Lá vem este cromo bolsar mais uma vez o seu ódio aos professores. Repetindo mentiras que ele próprio não pode deixar de saber que já foram cabalmente desmontadas. Tratar bem os professores não é desistir de governar nem é governar mal: pelo contrário, é uma das formas mais eficazes de governar bem, porque poucas acções governativas se repercutem de forma tão positiva no bem comum.

    Desistiria de governar, isso sim, ou governaria em detrimento do país, um governo que fizesse as vontades todas aos analistas financeiros e aos comentadeiros televisivos. O pior governo que Portugal poderia ter seria um governo de que Miguel de Sousa Tavares gostasse.

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  3. Os Comentadores, devem e muito bem, inquirir os entrevistados, sejam eles Políticos, Banqueiros, Capitães da Indústria, Presidentes de Confederações Patronais, Bastonários de Ordens Profissionais, Sindicalistas etc. Mas inquirir não significa ofender e cortar as Palavra sistematicamente aos entrevistados. E para os “Ilustres Comentadores do nosso País todos os Entrevistados são iguais mas alguns, são mais iguais que os outros…” E os Comentadores ficam muito ofendidos, quando surgem notícias Perturbadoras sobre a sua Conduta Moral.

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