ePIRLS 2016 – Os Recursos em Casa

Admiro imenso as pessoas que acham que as escolas têm como missão apagar todas as desigualdades que existem fora dela. E que acham que é no seu interior que estão os problemas, desistindo de uma intervenção séria na sociedade, melhorando a vida das famílias com que tantos enchem a boca hipócrita. Mas como o Centeno foi para o Eurogrupo, certamente que serão pulverizadas situações como as encontradas nos ePIRLS acerca dos recursos disponíveis na casa dos alunos para apoiar as suas aprendizagens, sejam os livros e as habilitações dos pais, sejam os próprios zingarelhos tecnológicos. Repare-se que entre quem tem mais recursos em casa e os que têm apenas recursos “médios” a diferença no desempenho é de 43 pontos (561 e 518, respectivamente), sendo menor o efeito da falta de dispositivos digitais (a diferença baixa para 27 pontos).

E que tal reparar na “diferença colossal” entre os recursos acessíveis aos alunos em casa nos países do norte da Europa, Canadá ou mesmo Irlanda e os que os nossos têm. Certamente será porque os nossos economistas e políticos têm sido dos melhores ao nível do desenvolvimento do país e das condições de vida de grande parte da população. Só pode…

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Um tipo anacrónico como eu conclui (certamente de forma errada e míope do ponto de vista conceptual) que a falta de recursos domésticos para apoio ao estudo é um factor muito importante e que essa importância é maior no caso dos suportes mais tradicionais.

(mas como se sabe eu sou arraçado de matusalém do restelo e não recorro a gel na careca)

PIRLS 2016 – Claro Que o “Problema” É A Necessidade de Mais “Formação” de Professores

Assim sempre se podem alimentar uns nichos de formadores e não olhar para coisas como um 41º lugar na lista em que se avalia se os alunos têm uma biblioteca na sala ou não. Os alunos portugueses que a têm apresentam mais 10 pontos no seu desempenho (533) em relação aos que a não têm (523).

Mas claro que a “solução” para melhorar os resultados (que, lembremo-nos, se forem de outro tipo de provas “específicas” não interessam nada…) é “mais formação” para os professores (em primeira, segunda, penúltima e última instância a culpa dos “insucessos” é sempre deles e da sua fraca preparação) e não equipar devidamente as salas de aula.

Mas também este detalhe será, por certo, considerado devidamente quando as “análises” dos “especialistas” ultrapassarem os quadros mais óbvios.

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(afinal, o 1º ciclo é competência das autarquias, certo? aquelas para onde se querem passar todas as escolas, correcto? isto é mesmo uma palhaçada…)

PIRLS 2016 – O Que Não Teve Destaque

Em 50 países, Portugal encontra-se em 10º lugar no grau de satisfação dos pais com as escolas. Como é natural, os júdices, os baldaias e os moitasdedeus não terão feito parte da amostra consultada. E em 5º na sensação de “pertença” dos alunos em relação à sua escola.

Foi certamente distracção, estes dados não terem feito grandes títulos, mas acredito que amanhã ou depois tudo isto terá o merecido destaque.

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E Depois Há os Oportunistas

João Costa está a desprezar o facto da prova ter sido feita já quando se tinha anunciado o fim do “exame da 4ª classe” e toda a mensagem de “lixem-se para isso da avaliação” que transmitiu? Isto não é negar os erros de Crato – que não foram poucos, como a leitura ao cronómetro e a obsessão com a Matemática – mas não gosto da malta que aparece para reclamar como seus os sucessos dos PISA 2015 (naquela de “todos somos responsáveis”, quando nem lá estavam e nisso Crato tem razão), mas depois já renega os PIRLS 2016. Toda esta peça é feita sobre declarações que são uma mistura de oportunismo e os anúncios do costume, com incoerências pelo meio (os alunos andavam a ser “treinados” para um “momento de avaliação”, mas depois “falharam” nas provas do PIRLS).

O secretário de Estado da Educação, João Costa, considerou nesta terça-feira que a descida dos resultados dos alunos do 4.º ano de escolaridade na literacia em leitura se deve “às medidas tomadas entre 2012 e 2015” pelo então ministro Nuno Crato.

Mais de uma pessoa me disse que parece que embirro com o SE Costa. Confirmo. Pessoalmente, parece que é uma pessoa simpática. Politicamente, enfim, deixa muito a desejar em várias áreas relacionadas com a forma como, no meu escasso entendimento, gere os silêncios e as aparições. Parece que aprendeu com @s piores.

manteigavsmargarina

 

A Queda

Seria bom que pensássemos um pouco acerca disto. A data da prova (Fevereiro de 2016 para alunos a meio do 4º ano), talvez ajude, talvez baralhe, as explicações. Por acaso (ou não) quem dá Português ao 5º ano – nem que seja apenas no  meu quintal – notou isto mesmo, a chegada de alunos pior preparados a vários níveis.

Os alunos portugueses do 4.º ano de escolaridade (9/10 anos de idade) são os que mais afirmam gostar muito de ler (72%) e aparecem em segundo lugar na afirmação de que têm “grande empenho” nas aulas (83%). Mas nos testes que aferiram a sua literacia em leitura, realizados em Fevereiro de 2016, a média destes estudantes (528) desceu 13 pontos por comparação a 2011 (541), data da última avaliação. São os resultados do estudo Progress in International Reading Literacy Study (PIRLS), divulgados nesta terça-feira. Participaram 50 países.

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