Isto É Todo Um Manual de Hipocrisia

Do senhor IAVÉ, cuja explicação é risível:

O investigador que tem sido, no Instituto de Avaliação Educativa (Iave), o coordenador nacional dos estudos internacionais sobre o desempenho dos alunos foi afastado no mês passado, a poucas semanas da divulgação dos resultados da avaliação PIRLS (Progress in International Reading Literacy Study) que afere a literacia em leitura das crianças que frequentam o 4.º ano de escolaridade. Os resultados foram divulgados nesta terça-feira.

Ao que o PÚBLICO apurou, o afastamento de João Marôco, que no relatório internacional do PIRLS continua a figurar como o coordenador português, terá sido concretizado pouco depois deste ter apresentado ao presidente do Iave, Helder de Sousa, a primeira proposta do relatório sobre o desempenho dos alunos portugueses.

Este relatório tinha mais de 150 páginas, à semelhança do que se passa com o documento que no ano passado deu conta dos resultados do TIMSS (Trends in International Mathematics and Science Study), um estudo internacional que visa avaliar a literacia em matemática e ciências também entre os alunos do 4.º ano. Mas o relatório divulgado nesta terça-feira não vai além das 48 páginas, onde está incluída igualmente a análise ao novo estudo ePirls, que tem como objectivo avaliar as competências digitais em leitura.

O responsável pelo Iave, que é o organismo responsável pelos exames e pela aplicação dos estudos internacionais em Portugal, justificou esta opção de reduzir o tamanho da análise com uma “nova estratégia de comunicação” deste instituto público. “Constatámos que as pessoas não valorizavam toda a informação secundária disponibilizada antes e que depressa desligavam” da leitura do relatório, justificou Helder de Sousa em declarações ao PÚBLICO, acrescentando que os dados que não foram agora utilizados darão origem a outras análises, que serão “publicadas com regularidade”.

(pelos vistos somos burros… desistimos de ler às 50 páginas…)

Do SE Costa, que nunca é capaz de se responsabilizar seja pelo que for de mais controverso:

O afastamento de João Marôco foi oficializado por um despacho do secretário de Estado da Educação, João Costa, datado de meados de Novembro. O governante diz que se limitou a concordar com a proposta que lhe foi apresentada pelo Iave.

onfire

 

(algo me diz que o plano A – lembrem-se que a prova é feita em Fevereiro de 2016 – era capitalizar com os eventuais bons resultados  como tentaram fazer com os TIMMS 2015; o plano B foi culpar o Crato…)

O Ódio Irracional aos Professores

Este mês no JL/Educação, com poucas papas na língua e dando o nome às criaturas, porque se ficamos pelas observações generalistas, toda a gente assobia para o ar e passa pelos intervalo dos raios de Sol.

 

“O professor merece reverência, a começar pelo cargo que representa, pelo simples facto de ser professor. A partir do momento em que se mina esse sentimento, tudo pode acontecer.” João Lobo Antunes (Ensino Magazine, 2009)

Nem sempre é possível manter o debate em torno da Educação no plano elevado das ideias, dos conceitos, das visões estratégicas, das metodologias pedagógicas, quando o espaço público é invadido por uma investida alargada contra os professores, contra a sua dignidade profissional e mesmo pessoal, através de um linguagem intoleravelmente acintosa na forma e conteúdo.

Nas últimas duas semanas, os professores portugueses foram apresentados por alguma opinião publicada de uma forma torpe e difamatória por uma série de figuras públicas com espaço permanente na comunicação social (jornais, televisões), sem direito a qualquer tipo de contraditório, seja por parte dos próprios, seja por parte de quem lhes permitiu esse tipo de discurso que vai muito além da liberdade de opinião, pois apresenta como verdadeiros factos que são falsos.

Tivemos na televisão pública, em dose dupla, um “especialista em comunicação” declarar que os professores são “miseráveis”, “idiotas”, responsáveis por uma “borga” de décadas” que teria destruído o sistema de ensino, conduzindo os alunos a “resultados miseráveis” (Rodrigo Moita de Deus, RTP3, 17 e 24 de Novembro). Em outro canal televisivo, um ex-bastonário da Ordem dos Advogados e um dos pretensos “senadores” do regime (José Miguel Júdice, TVI24, 20 de Novembro) considerou-os uma “raça estranha”; um dos articulistas residentes do que se pretende ser um semanário de referência, escreveu que eles representam o “triunfo da mediocridade” e que se caracterizam por uma “total ausência de qualquer avaliação de desempenho” (Miguel Sousa Tavares, Expresso, 25 de Novembro); um outro considerou que os professores viveram até 2011 “incólumes” a qualquer corte nos seus direitos, enquanto um escriba menoríssimo, achou-se no direito de afirmar que os professores são uns “privilegiados” que nunca foram alvo de qualquer avaliação para progredirem na carreira (um desconhecido Rodrigo Alves Taxa no jornal I).

Mas outras figuras aproveitaram as colunas de “opinião” para repetirem críticas, qualificando os professores como “medíocres”, “privilegiados”, seres menores e incapazes de quererem ser avaliados pelo seu “mérito”. Em outro programa da RTP3, um sortido de eternas jovens esperanças políticas, (José Eduardo Martins, Pedro Adão e Silva e Rui Tavares) preocuparam-se mais em criticar os “excessos” das reivindicações “corporativas” do que em analisá-las com objectividade. Pedro Marques Lopes escreveu (a 19 de Novembro, no DN, pela enésima vez?) que “ o que ficou, pela enésima vez transparente, é que a passagem do tempo tem uma importância vital para os professores muito simplesmente porque é o único critério para a sua progressão nas carreiras”, enquanto o subdirector do Jornal de Notícias, Anselmo Crespo de sua graça, decidiu apresentar como “paradigmático” o caso dos professores quando se trata de “discutir progressão profissional apenas com base no número de anos de trabalho, sem discutir os critérios de avaliação que levam a essa progressão” (JN, 20 de Novembro).

(continua…  em outra altura  publicarei a versão integral)

Há Contratos Inoxidáveis e Há Os Outros

Eu também pensava ter um contrato de trabalho com o Estado que ele deveria cumprir, o que não fez. Ou então ressarcir quem ficou lesado, mas parece que isso não entra nas prioridades deste governo. Já em relação a outras matérias, parece que os contratos são sagrados e para cumprir mesmo que lesem o Estado e os “contribuintes”. Parece que se aplica só a grandes empresas e a estrangeiros.

Ministério acha “difícil” reverter contratos das cantinas escolares

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Segundo António Costa, “houve um conjunto de investimentos que foram feitos, porventura com regras que não deviam ter existido”, por um conjunto de investidores com importância para a economia nacional.

“Portugal não pode nem deve dar sinal aos investidores internacionais de alteração unilateral das regras, mas renegociar com os operadores a redução da tarifa”, disse.

Já pensaram mandar a SE Leitão tratar do assunto da “alteração unilateral das regras”? Era em três tempos… limpinho, limpinho.

Frade

Isto É Um Suponhamos

Parece-me incontroverso que os resultados no PIRLS foram abaixo do desejável. Assim como me parece claro que os alunos que fizeram estas provas foram os que levaram com as novas metas curriculares do mandato de Crato em cima do lombo, com uma série de disparates para os quais foi chamada a atenção logo que entraram em discussão e foram aprovadas. Parte desse disparates é endémica, pois os programas e metas são, em regra (com algumas excepções) da autoria de pessoas muito doutoradas em coisas e investigações especialíssimas, mas que do 1º e 2º ciclo têm uma visão do tipo voo de ave lá no alto do monte a olhar cá para baixo. Do trabalho com a miudagem no concreto têm uma visão episódica, em investigações â medida ou visitas vip. Há excepções mas são isso mesmo. As metas para Português dos tempos de Crato padeciam desse mal em excesso. Mas o Português também foi vítima da obsessão com a Matemática e com a prioridade que lhe foi atribuída, como se as Letras e Humanidades fossem coisas para observar como inutilidades sem grande aplicação no mundo dos negócios e dos empreendedores (neste mandato são para semestralizar). Essa obsessão trouxe-nos – pelo menos em parte – uma melhoria do desempenho em Matemática nos TIMMS 2015.

De quem era, nesse caso, a responsabilidade pelo “sucesso”? No final de 2015, o actual SE Costa reclamou logo a responsabilidade para os governos do PS, anteriores a Crato, mas a descida em Ciências já se devia a este. Já Crato, claro, reclamava para si a responsabilidade pela coisa, pois era a ele que se deviam as novas metas da Matemática.

A dúvida que se me coloca, de forma recorrente é: alguma vez esta malta tem a coragem de, de uma forma sincera e clara, sair da frente e deixar de reclamar sempre os sucessos e descartar-se dos insucessos?