O Rui Cardoso divulgou no blogue do Arlindo o documento que o ME terá apresentado aos sindicatos na passada 6ª feira: APRESENTACAO-REUNIAO-15-12-VF. A coisa em si tem bastante informação, apresentada numa forma que se aproxima da propaganda, pois começa (pp 3 e 5) por mencionar medidas tomadas que pouco ou nada têm a ver com o actual processo negocial. Existem, porém, alguns detalhes que nos ajudam a perceber melhor a insistência do Governo e da equipa das Finanças, de que a da Educação é há uns quantos mandatos mero apêndice operacional para estas questões, em insistir na sua operação mediática de amesquinhamento dos docentes para melhor insistir em medidas claramente injustas.
Vamos lá por ordem. Comecemos pelo quadro seguinte:

Existem aqui uns quantos truques se lermos a última linha da página, na qual se escreve “apenas considerando o requisito de tempo previsto no ECD”. E a questão mesmo essa. Existem três pontos de progressão em que não conta apenas o tempo. Repito isto pela enésima vez. É ler a coisa (artigo 37º).

Isto significa quem em 2018 estão sujeitos a requisitos para além do tempo 17312 docentes (38,2% dos que se afirmam ir progredir), em 2019 são 3376 (26,1%) nessa situação, em 2020 são 7978 (34,5%) e em 2021 são 6846 (29,1%).
Não são verdadeiros, portanto, os números do ME quando afirma que em 2018 vão progredir 50.000 docentes sem quaisquer entraves e que as progressões são todas “automáticas”. É ler as letrinhas pequenas se não for demasiado esforço.
Claro que em 2018 haverá muita gente a progredir (o maior “problema é quem chega aos 9º escalão), mas não serão todos aqueles que o ME fez saber cá para fora e a quase totalidade (o “quase” é uma espécie de salvaguarda para algo que eu possa não ter lido) da comunicação social (mesmo os dois ou três opinadores desalinhados com o mainstream comunicacional) assumiram como verdadeiro, permitindo que a discussão se fizesse em terreno contaminado pela distorção dos factos.
Outra distorção para a qual se tem chamado a atenção de forma repetida, mas com escasso efeito, é o facto de ninguém estar no “topo da carreira” (10º escalão, índice 370, como qual se fazem comparações sem sentido com outros países), como os próprios dados do ME confirmam:

Estão a ver alguém no índice 370? Nos dias que correm não há generais na carreira docente, só muitos coronéis e tenentes-coronéis. Nada mais do que isso. Portanto, por favor, podem parar com os clichés requentados sem qualquer fundamento?
Há quem o faz por pura má-fé, há apenas que seja imbecil. Mas eu sei que ainda há quem seja inteligente e íntegro, apenas mantém a ingenuidade de querer acreditar em tudo o que lhe dizem com fonte “oficial”. Quantas vezes eu tentei explicar isto, por escrito ou mesmo de viva voz? Perdi a conta.
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