Nesta Pausa, Lucidez

O facto das negociações em torno do descongelamento e recuperação do tempo de serviço calharem em plena pausa natalícia aconteceu, claro, apenas por acaso. Assim como terá sido igualmente por acaso que esta equipa do ME (incluindo os que dizem que a culpa é toda das Finanças) e os seus pontas de lança na imprensa apostaram, como há uma década, na divisão dos docentes, procurando destacar as “injustiças” entre mais velhos e mais novos, apontando para os valores que ganham uns e outros.

Infelizmente, esse argumento tem tido algum eco numa espécie de lumpen docente alinhado com qualquer situação que prometa migalhas, mas que perde qualquer perspectiva de médio longo prazo. Tamanha é a ânsia de terem um lugar que não se incomodam em querer que os mais “velhos” percam direitos ou vejam a sua progressão reduzida, sem entenderem – para professores, lamento-lhes a falta de perspicácia e flexibilidade de raciocínio autónomo dos interesses passageiros – que isso é reduzir as suas próprias perspectivas de terem uma carreira decente. Apostam no curto prazo, acreditando que “ganham” algo, sem perceberem que o balanço lhes será sempre negativo. 

Em vez de lutarem pela manutenção de uma carreira que lhes permita um futuro, preferem entrar na guerrilha do presente efémero, nem sempre se apercebendo que, quantas vezes, vão na conversa doce da única meia dúzia que se safará à custa do encosto ao Poder. Nos últimos anos (décadas) sempre foi assim. Não é preciso apontar agora os nomes, estamos em época de desejável boa vontade. Até porque já o fiz em devido tempo

Era bom que nesta pausa muita gente parasse um pouco para respirar e pensar com o cérebro devidamente oxigenado. Claro que há casos perdidos, porque as falhas de carácter ou o oportunismo militante são coisas que não desaparecem com duas passagens de lixívia da antiga, mas muitos mais são aqueles a quem o desespero, a pressa, causam a perda de uma visão a mais longo prazo, perdendo a noção que estão a hipotecar o seu próprio futuro.