É a única sensação que pode sentir-se perante uma classe política que legisla em interesse próprio e quer apagar o rasto. Esta gente não merece qualquer respeito e tem a sua graça quando se ouvem uns a criticar os abusos na Madeira e os outros a apontar o dedo à Festa do Avante e depois se unem para uma solução que isenta ambos de “chatices”.
Foram nove meses de discussão na Assembleia, num grupo de trabalho dito “informal” (mas que no site do Parlamento aparece como formal) e que funcionou sempre à porta fechada, sem que os jornalistas pudessem acompanhar as discussões.
José Silvano, o deputado do PSD que coordenou os trabalhos, reconhece o método adoptado: “Se é um grupo informal, não há propostas [oficiais]. Os partidos sugeriram essas propostas, mas não sei qual e em que pontos”, disse ao PÚBLICO. E não há provas documentais do processo? “Não existem actas, de documental só existe a lei que foi aprovada. No grupo de trabalho não havia votação e as propostas eram apresentadas oralmente”, confirma o deputado. E com a colaboração dos responsáveis financeiros dos partidos, que foram envolvidos — o que Luís Patrão, do PS, reconhecia na notícia do PÚBLICO que deu o caso ao conhecimento de todos.
A ideia era que tudo fosse como no jogo do “amigo secreto” – todos davam as prendas, mas ninguém teria que saber de quem era. Porque o objectivo era que, no final, houvesse unanimidade na votação das alterações à lei. Só que o CDS estava contra. E bloqueou o processo que estava a ser feito em contra-relógio logo em Julho, impedindo os restantes partidos de aprovarem o bónus antes do Verão e a tempo das autárquicas.
(…)
Foi assim que, no dia 21, a lei foi aprovada de uma assentada na generalidade, em especialidade e votação final global, apenas com votos contra do CDS e do PAN.
(…)
Tudo começou em Abril, quando o presidente do Tribunal Constitucional alertou os deputados para dois problemas relativos à sua responsabilidade de fiscalizar os partidos. Primeiro, que o tribunal estava a funcionar como instrutor e decisor ao mesmo tempo, o que levantava um problema de inconstitucionalidade. Segundo, que não havia direito a recurso de uma decisão. Acontece que, se este foi o mote inicial, o grupo de trabalho acrescentou-lhe dois pontos: acabar o valor máximo para os fundos angariados (uma reclamação do PCP para não ter mais problemas com a Festa do Avante!, mas que o PSD aproveita no Chão da Lagoa) e deixar preto no branco que os partidos passam a ter devolução do IVA de todas as suas despesas (ao contrário do que o Fisco tem determinado em vários casos, o que já levou o PS a reclamar cinco milhões em tribunal).
Um PR a sério vetará isto sem sequer ter de se explicar.

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e agora…como noutros tempos….poder-se-á criar “bordéis”….para o iva ser devolvido….e o melhor é não dar mais ideias….
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Nojo?
Há mais!
Financiamento dos partidos. BE contra devolução do IVA, mas votou a favor em nome da “convergência”
http://rr.sapo.pt/noticia/101622/be-discorda-da-devolucao-do-iva-aos-partidos-e-votou-a-favor-em-nome-da-convergencia?utm_source=rss
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Não estou bem dentro da coisa, deve ser por isso. E tenho a sensação que os grandes partidos políticos (e sublinho, os grandes partidos políticos) gerem a coisa muito bem gerida. São experts em financiamentos por debaixo da mesa.
Assim sendo, há que saber o que se passa, antes dos tão cómodos “nojos” e populismos afins.
E é nestas alturas que me vem sempre à ideia aquela frase: Se a Democracia é cara , experimentem a Ditadura.
Eu sei, eu sei, lá vou eu ” levar na carola”.
Mas já são muitos anos e anos a virar frangos.
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Pois… se o PCP e o Bloco aprovaram é porque deve ser bom.
Se fossem apenas o PSD e o PS já seria outra coisa.
O CDS está contra? Então é bom.
Coerência?
Depende da cor dos votos.
Se isto é dar na carola?
Não sei.
Mas sempre desgostei de quem não tem coragem de ser para além das cores das camisolas.
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Eu também desgosto, se me permite, da argumentação na base da cor das camisolas.
Primeiro, porque existem uns resquícios de daltonismo desde a infância; em segundo lugar, porque o debate político tem de ser credibilizado e não associado a desportos e outras organizações afins.
Finalmente, gosto do amarelo. Deve ser ainda do daltonismo. Mas gosto.
Um bom 2018!
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O CDS votar contra ou a favor do que quer que seja é uma gracinha se soubermos o que a “casa gasta”!
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