Desculpem-me o regresso ao tema das Webinares da DGE. Mas o tema é para mim especialmente importante porque revela a origem de muitos equívocos sobre o que é o ensino em Portugal. Ou sobre o que se pensa ser o ensino e – horro! – o seu futuro.
Vejamos… o ME decide produzir (?) vídeos para divulgar a sua nova sebenta sobre o que deve ser a escola do século XXI, os seus conceitos e práticas “inovadoras” e mergulha-nos directamente nas trevas do passado. A pressa em divulgar o Verbo ou fornecer materiais para “formações”, assim como a eventual escassez de recursos, não pode ser desculpa para tal pobreza franciscana ou, pior, para considerarem que aquilo pode funcionar como qualquer forma de estímulo ou base para a “mudança”. Aquilo é o passado em todo o que tinha de mau e nada de bom. Uma mesa, umas pessoas (“especialistas”, sendo que em alguns casos até me custa comentar directamente porque conheço algumas que ali estão e acredito que estão na plenitude das infernais boas intenções e acreditando mesmo que estão no futuro), uma conversa mal amanhada, uns clichés despejados num enquadramento estático, sem qualquer debate, alteração de tom ou registo, sem qualquer demonstração práticas das possibilidades que os meios digitais permitem, um grau zero de capacidade de comunicação, uma auto-satisfação e auto-complacência em alguns intervenientes, levam-nos a perceber que é aquilo que consideram ser a forma certa para “formar” professores nas “novas competências”. O que é assustador. O vídeo com alunos sobre o “Plano Nacional de Cinema” é especialmente revelador de tudo o que está errado na concepção que têm do que é falar com alunos que não sejam escolhidos a dedo para estarem ali a dizer umas coisas, sendo notório que desconhecem por completo o que é uma aula nos tempos que correm.
Gravíssimo mesmo é achar que são estas pessoas que podem “renovar” a “formação de professores” ou que têm quaisquer competências para a escola do século XXI. Aquilo não são monólogos diálogos vitorianos, no pior é mais formalista dos sentidos, porque está lá uma câmara de filmar. Como querem que acreditemos em que nem sabe demonstrar o que pretende “ensinar” a fazer aos outros?
(haverá aulas mais deprimentes do que muitas das disciplinas ditas “pedagógicas” em que @ docente fala do “novo paradigma” que não pratica, nem saberia praticar?)
A sério? Acham que é assim que demonstram estar na posse de qualquer saber acrescido ou que estão em condições de nos transmitirem uma nova forma de estar? Isto nem em vídeos caseiros ou amadores, se admite, quanto mais numa “produção” institucional. É verdade que lá por fora os promotores nas new skills e deste tipo de abordagens e flexibilidades também não se destacam pela imaginação, embora tenham o bom senso de fazer vídeos mais curtos ou com muito melhor qualidade técnica (eis o caso inglês, o finlandês ou o canal da World Innovation Summit for Education -WISE e nem é bom falar em outras coisas que os nossos “especialistas” nunca conseguiriam fazer mais do que copiar a url. Para isso bastam minutos, quiçá segundos.
Nem interessa se concordo com tudo… pelo menos reconheço qualidade no esforço.
Volto à frase do dr. Paulus no vídeo anterior:
“A escola abomina a diferenciação”
Falso. Verdadeiro será dizer-se que à escola não são dadas condições para essa diferenciação, de modo contínuo.Trabalhar-se com turmas com perto de 30 alunos não é o mesmo do que trabalhar-se com turmas de 12 ou 15 alunos. As políticas educativas que se vão sobrepondo em camadas contraditórias que permanecem, também não ajudam. Os regulamentos internos das escolas estão longe de facilitar a inovação. A falta de recursos também. Os horários dos professores e a burocracia também não ajudam. 45m de trabalho colaborativo semanal é o que nos dão. E o que fica registado em reuniões de agrupamento/departamento/Dts, etc, caem no esquecimento ou são refutadas com argumentos não aceitáveis para quem gosta do que faz e ainda se indigna. A formação contínua dos professores tem pouca qualidade, repetindo-se as mesmas ideias e eliminando qualquer contraditório. A gestão das escolas está longe da realidade e da prática do dia a dia e mais interessada em sublinhar números de sucesso a atingir e/ou melhorias desse sucesso. Para ficar registado em Planos Anuais de Agrupamentos.
Estes vídeos deste post são bem mais interessantes. Mas não referem o que acima referi. Em que contextos? Em que condições?
Finalmente, o do “ensinar sem palavras” na TED talks levantou-me dúvidas- se a diferenciaçãndamentalmente linguística o pedagógica e as teorias do séc XXI se baseiam em grande medida na teoria das inteligências múltiplas (8) analisadas por Howard Gardner há décadas, então como ficam os estudantes cuja inteligência/modo de aprendizagem é fundamentalmente linguística?
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“levantou-me dúvidas- se a diferenciaçãndamentalmente linguística o pedagógica”
Errata: se a diferenciação pedagógica e as teorias do séc XXI se baseiam…….
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Se me é permitido, aqui vai um link de um vídeo que me foi enviado- Educar em Portugal – só ouvi um bocadinho.Quando tiver tempo, lá vou ouvi-lo melhor.
http://www.rtp.pt/play/p3150/e280811/sociedade-civil
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Curiosamente, ou não, com métodos tradicionais.
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Bem, eu desenrasco-me bem, com tecnologias e sem tecnologias didácticas.
O mais importante é, quanto a mim, transmitir a informação de forma pedagogicamente correcta e usando a criatividade de meios para me fazer entender junto dos alunos.
A vantagem de não haver tecnologias é não haver as burocracias que hoje conhecemos, mas a regressão do processo iria manter certamente a obsessão por processos informáticos, o que seria certamente um inferno! Pois há quem goste de ser burocratazinh@ nesta nossa profissão…
Quanto às tecnologias, conheço um Agrupamento que investe em Cursos Profissionais fortemente dependentes de recursos informáticos e tecnológicos (máquinas fotográficas e de filmar) e paradoxalmente o parque informático é obsoleto (computadores lentos, com quase 10 anos); rede internet praticamente inexistente (em teoria existe, mas é mais lenta que a existente nos modems caseiros de 2000); vírus informáticos recorrentes, pois não há antivírus. Sem quadros interactivos, obviamente.
Quatro cursos profissionais que recorrem ao Multimédia, cada um com 3 anos a decorrer. O tratamento de vídeo e de fotografia são os mais exigentes em termos de recursos de hardware, e os alunos vêem-se na necessidade de adquirir computadores portáteis.
Pergunto-me quem decide tomar estas decisões de abrir cursos sem haver o mínimo de condições logísticas numa Escola?
Será em nome dos alunos? Ou de alguns professores do quadro?
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