A Ver Se Percebo… Se Acabarem os Exames Acabam as Desigualdades e os Pobrezinhos Passam Todos a Entrar em Medicina e Arquitectura e na Carreira Diplomática e Etc?

Este tipo de estudos  (tese aqui, com acesso restrito) constata o que é evidente e falha no óbvio. Sim, os alunos com maiores meios económicos têm mais possibilidades de terem apoios extra nos estudos. Mas… perante isso devemos acabar com os exames – como se depreende das declarações cobertas de boas intenções da investigadora – ou devemos tentar que todos os alunos e as respectivas famílias tenham um nível de vida que lhes permita ter pelo menos parte desses meios?

No primeiro caso, temos a manutenção das desigualdades reais, cosmetizada com a eliminação dos exames; no segundo, temos uma verdadeira tentativa de “igualdade de oportunidades”. Eu optaria sem hesitar pelo segundo caminho que, eu sei, é o mais difícil e incómodo para os políticos de ocasião. Quem diria que eu sou “reformista”.

profpardal

(é impressão minha ou esta notícia surge mesmo a antecipar o que por aí virá no fim de semana?)

54 opiniões sobre “A Ver Se Percebo… Se Acabarem os Exames Acabam as Desigualdades e os Pobrezinhos Passam Todos a Entrar em Medicina e Arquitectura e na Carreira Diplomática e Etc?

  1. É só mais uma imbecil a ter os seus 5 minutos de fama.

    Parece-me é que os papás dos meninos bem não irão gostar muito da ideia.

    Acabe-se com os exames! Já!

    Nesse instante as desigualdades acabarão e um novo mundo abrirar-se-á perante os nossos olhos.

    Mais: as retenções descerão e as médias da CIF dispararão.

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  2. Então e se deixássemos de ter exames no final do Secundário – cujo maior impacto se deve à circunstância de as suas classificações se reflectirem na (possibilidade/impossibilidade de) entrada no Superior – e entregássemos a este último nível de ensino justamente a definição dos critérios e o processo de ingresso que ele próprio pretende? Se no final do Secundário houvesse apenas uma certificação, talvez este drama em torno do exames (com repercussões em todo o sistema por aí abaixo) acabasse por se atenuar ou extinguir. A pensar…

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  3. Os exames são solidários com uma concepção de ensino sobretudo utilitária (nesse sentido, repercutem e fomentam as desigualdades que se observam na esfera mercantil), por isso, talvez seja interessante pensar para além desse plano…

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  4. “E as provas de ingresso na Universidade não são solidárias dessa concepção utilitária?” São, mormente nas “universidades-viradas-para-o-mercado-de-trabalho”. Mas também quem quiser fazer tais provas já saberá ao que vai…

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    1. Já agora, esses exames de entrada na universidade feitos nas universidades deveriam ter uma componente de entrevista.

      Todos sabemos de casos em que alunos com classificação de 14 valores, por exemplo em medicina, passam à frente de outros com muito melhores classificações.

      Mas eu gostaria de referir o seguinte, muito à pressa pois tenho de ir trabalhar, com todas estas modernices dos perfis do séc XXI, das flexibilidades e das transversalidades e das soft skills, estamos mesmo a ver que o caminho irá ser esse. Os” exames” do secundário irão ser transformados em certificados de conclusão dos cursos.
      É que , como todos temos dito, não bate a bota com a perdigota. Estas pedagogias e currículos do séc XCXI estão em contramão total com os exames tal como eles hoje existem. Daí as dificuldades/incongruências na sua aplicação nas escolas piloto.

      Por outro lado atentem no que tem saído na CS sobre o que querem os empregadores, especialmente das grandes multinacionais – repetem à exaustão que preferem de longe as tais de “soft skills”. Poderíamos entender o porquê se estivéssemos a ser totalmente honestos. Mas estes empresários escondem o óbvio que não expõem ainda claramente: estes “colaboradores” das tais de soft skills receberão menos , trabalharão mais e mais precariamente.

      Mais ainda do que o que já acontece.

      No meio disto tudo, já não sei como resistir.

      Reformulo, sei. É dar cada vez mais conhecimentos e princípios de cidadania e de justiça aos alunos. E em força.

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      1. “Estas pedagogias e currículos do séc XCXI estão em contramão total com os exames tal como eles hoje existem.” Concordo e por isso afirmo que essa flexibilidade não vai funcionar se mantiverem os exames com a estrutura atual.

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  5. Pessoalmente, enternece-me quando pensamos apenas pela negativa e não conseguimos ver as consequências do que pensamos.

    Em especial, aquelas que abrem as portas a todo o tipo de desmandos e arbitrariedades.

    Mas isso sou eu que não penso.

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  6. Que tal se existisse uma média de secundário (os professores diferenciam sempre) + envio de curriculum vitae ou carta de candidatura ao curso ( tipo – motivação para o curso) ?

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    1. Em termos ideais, claro que esse modelo seria o melhor.
      Infelizmente, entre nós, o compadrio é uma regra instalada, a “!cunha”, o amiguismo.
      Por isso, mais do que modelos ideais, prefiro aqueles que sejam mais imunes a esses fenómenos. Não existe verdadeiramente nenhum mas o modelo das entrevistas e cartas motivacionais que existe em Universidades americanas de topo apresenta alguns problemas evidentes.

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      1. A cunha persiste na mesma. Pode não ser na entrada mas: há mudanças de curso; inflação das notas do filho X; endogamias óbvias quando toca a arranjar posições, etc. Além disso, o Privado está cheio de casos e cunhas como bem sabemos pela CS. A Cunha é uma Instituição Nacional – há que assumir e enfrentar.
        Porém, há também pessoas honestas na Universidade Pública – essas que desenhem formas de acesso claras e que se submetam ao escrutínio publico.

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  7. Continuo a considerar que as exigências do secundário, ainda são, alguma preparação, para a universidade. O ensino universitário também se degradou muito, com a sua autonomia, porque, é mais um negócio, têm que ter índices de aprovação satisfatórios e por aí fora! De modo que isto é tudo um engano, uma mentira, uma corrupção, um negócio e… . Toca a lixar o outro, que cada um tem que fazer pela vida!

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  8. Rafael… há pessoas honestas e desonestas em todo o lado. Na Universidade Pública (passei por duas entre a licenciatura e o doutoramento) encontrei de tudo, até esquerdistas seduzidos por apelidos de direita.

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    1. Na eterna luta entre o Bem e o Mal ( adoro “La Piovra”) façamos alguma coisa. Se consideras o modelo Americano superior e houver muita gente a concordar .. porque não pensar em defende-lo como o Ideal e aplica-lo?

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      1. Porque não tenho a certeza de ser o melhor quando aplicado à nossa realidade.
        Uma razão que para mim é importante é que esse modelo pode “desligar” quase em definitivo o que se faz no Secundário em muitas escolas e as exigências das Universidades mais exigentes.
        Acho que deverá existir uma combinação entre a média do Secundário e a de uma eventual prova de acesso. A ideia da entrevista não me agrada muito ao nível da licenciatura em universidades públicas. A menos que o peso fosse residual ou para efeitos de desempate.

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  9. Concordo com o fim imediato dos exames e da desigualdade: já é mais do que tempo de os professores que lecionam disciplinas de exame também poderem relaxar no cumprimento do programa e de não terem de estar sujeitos aos períodos de correção dos mesmos.

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    1. subscrevo. um prof deve estar profissionalmente interessado em banir os exames das escolas, que em nada ajudam no seu trabalho pedagógico, sendo até um engulho à planificação anual do curriculo e um condicionante à liberdade curricular dentro da sala de aula. Como os exames são principalmente um método de seleção de entrada na universidade, que fossem feitos e corrigidos nesse nível de ensino.

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  10. Paulo Guinote, o seu post fez-me sorrir. Eu sem dúvida que optaria pela segunda hipótese. Não hesito um microssegundo e tenho a certeza de que nenhum pai hesitaria. Só não sei porque fala em “tentativa de igualdade de oportunidades”. Tentativa?

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    1. Infelizmente o que escrevi é assim mesmo. Preferimos reproduzir os mecanismos de desigualdade na sociedade e economia e depois, nas escolas, fingir que não é assim. Uma tristeza, multiplicada pelas mentalidades que funcionam em piloto automático, encerradas em lógicas espartilhadas. Acabar com os exames, tão anos 60 e 70 do século passado, substituiu a exigência da regulação do mercado de trabalho em termos de horários e salários. A “Esquerda” rendeu-se à globalização. Não sei se porque, assim, a China já pode demonstrar as vantagens do seu modelo dual se por qualquer paralisia.
      A Direita fala em “humanismo” e no imenso valor da vida humana, mas depois quer impor as engrenagens que a trituram todos os dias.

      Ahhh… já agora… eu também sou encarregado de educação. E também quero o melhor para a minha filha. Se o tem ou não, é outro campeonato. Mas não é por causa dos “exames”.

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  11. Há uma coisa curiosa. Não sei porque é que isto dos exames é motivo de debate, como se houvesse duas partes, porque de facto a cultura dominante no nosso ensino é o dos testes e exames. Sempre foi assim e sempre assim será, porque está enraizado na própria sociedade. Não é representativo de nada aparecerem de vez em quando uns excêntricos com a mania das pedagogias a desconversar em blogues e na academia. Levam logo com o porrete do “eduquês”. Eu tentei uma vez, em reunião de pais, ter uma conversa com uma diretora de turma do meu filho sobre avaliação continua e personalizada e fui olhado com complacência e levei um sermão sobre exigência no ensino, preparação para a vida (o seu filho vai ter de ser testado ao longo da vida, blablá) e deveres de pais. Enfim, talvez porque também fosse o único pai a colocar tal questão tão esdrúxula. A geral falta de sentido crítico dos pais e a sua reverência perante os professores é um caso de estudo. Somos de extremos: ou amochamos, ou explodimos em violência.
    E basicamente é isto. Portanto, uma “tentativa” de dar iguais oportunidades às famílias, para que os filhos entrem na sala de exame em situação de igualdade? Tentativa não é nada. Ou é, ou não é. Se for, perfeito, mas também digo que é a coisa mais revolucionária que ouvi não só sobre ensino, como de politica social em geral, aqui e no mundo. Vamos lá todos aqui desenvolver coisa tão linda?

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    1. Uma tentativa a sério de construir a igualdade de oportunidades para os alunos parte da sociedade, da forma como se dão condições às famílias para apoiarem o trabalho (sim, trabalho) dos alunos.
      Enquanto assumirmos a narrativa de que é só dentro da escola que isso se faz, entramos na lógica que nos aprisiona.
      Acabar com os exames é o mesmo que pintar uma casa e deixá-la com as canalizações todas a verter, porque as Universidades irão fazer critérios de entrada à sua medida e não dos alunos “desiguais”. O mesmo para o mercado de trabalho e muitos pseudo-cursos profissionais.

      A Escola pode mudar a Sociedade, mas precisa que a ajudem e a não responsabilizem por tudo.
      Não me apetece agora explicar como a avaliação dos meus alunos vai evoluindo de ano para ano. A do 9º não é igual à do 7º ou do 5º, mas isso só me é possível devido a um trabalho em continuidade. Já “flexibilizei” há muito, mas não em versões extremadas que inviabilizam um terreno de debate comum
      Por exemplo, acho profundamente estúpido “diferenciar” pedagogias” e depois exigir avaliações comuns e indiferenciadas.

      Uma casa constrói-se a partir dos alicerces, não se remenda para parecer palacete.

      Infelizmente, entre nós, a maioria actua ou fala (a maior parte das vezes) a partir de clichés e depois acusa os outros de falta de visão (que só é certa se for a sua). Eu defendo é coerência nos fins e meios. E na conversa.

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      1. Começo por lhe agradecer o seu esclarecimento de que os alunos têm de trabalhar, com enfase no “(sim, trabalho)”. Passemos em frente. Não sei quem é que assume a narrativa de que só dentro da escola é que os alunos têm de trabalhar. Não eu, certamente. Para que fique esclarecido, porque parece que surgiu aí uma dúvida: os pais são os primeiros responsáveis pela educação dos seus filhos. É precisamente por isso que disse que os pais devem continuamente questionar a escola, chatear, maçar. Na turma do meu filho, e isso é regra geral na escola, os pais têm todos uma só hora e meia num dia determinado na semana para falar com a senhora diretora de turma, estando-lhes vedado pelos estatutos, a não ser em casos extremos ou com muita boa vontade (lá se dá um jeito), falar com os demais professores da turma.
        É também por serem os principais responsáveis pela educação dos seus filhos que os pais devem ajudá-los em casa, questioná-los, responsabilizá-los, não esquecendo, já agora, esse pormenor insignificante de que o tempo diário que têm com os filhos não se compara com o tempo que passam na escola, a quem os entregamos para que os especialistas os eduquem.
        Por último, tanto são os pais os principais responsáveis pela educação dos seus filhos, quanto é certo que são eles que são apontados quando os filhos não têm sucesso na escola ou na vida e que são eles que têm de interiorizar esse sentimento de culpa.

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      1. Obrigado. Sobretudo que nenhum pai ou mãe esqueçam que são também “especialistas” em educação, os principais, e que devem sempre lutar pelos direitos dos seus filhos. Não me comovem nada as eternas queixas das dificuldades dos professores, porque infelizmente tenho uma má experiência com a sua sobranceria geral, seja com os miúdos, seja com os pais, com alguma honrosas excepções. Estou à vontade para falar, porque a minha mulher foi professora durante vinte anos, em condições difíceis (contratada) e a minha sogra foi professora primária toda a vida, e partilham da minha opinião.

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      2. “os pais também deviam poder continuamente questionar a UNIVERSIDADE, chatear, maçar”, pois ocorrem situações incomensuravelmente mais escabrosas do que na escola básica/secundária, sendo estas, comparativamente, um paraíso para os alunos…

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    1. “são também “especialistas” em educação” mas não são especialistas na pedagogia e didática do processo de ensino-aprendizagem (a não ser que tenham tido a formação académica) e por isso não deveriam se comportar como ‘treinadores de bancada’, interferindo no trabalho dentro da sala de aula, como se entendessem o motivo de determinadas estratégias.

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  12. As notas internas do secundário deviam ter peso 0 no acesso ao ensino superior. Compararmos a escola A que dá 30% ao trabalho de grupo, com a escola B que dá 10%, com a escola C, onde este não existe, ou onde o comportamento e atitudes valem 40% ou qualquer outro valor arbitrário, é um profundo disparate.

    Os exames podem ser nacionais, feitos pelo ME e obrigatórios para todos os alunos, ou podem ser feitos pelas universidades e só os realizam os alunos que quiserem prosseguir estudos. Neste aspecto, valorizo mais a coerência do que a superioridade de um ou outro modelo, dado que não tenho respostas definitivas sobre a utilidade dos exames, nem confesso compreender muito bem quais os objectivos dos mesmos, à excepção da seriação de alunos.

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  13. Renato,
    As regras existem em todos os espaços públicos.
    Mas tudo depende da forma como são interpretadas.
    Eu já tive situações em que o meu horário de atendimento era para cumprir escrupulosamente, para evitar excessos (e acredite que os há) e outras em que o contacto pode ser permanente (mas sem usar telemóvel na sala de aula).

    Repito: eu também sou encarregado de educação (a generalidade dos professores também o é). Há é quem não tenha jeitinho nenhum para relações humanas e quem esteja já demasiado esgotado para conseguir manter-se são de espírito.

    Quanto a “culpas”, vai-me desculpar mas os professores são os principais bombos da festa na esfera pública quando há problemas, em especial quando os políticos tomam a palavra, mais os “especialistas”.

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    1. Paulo, eu entendo perfeitamente a mágoa dos professores quando se sentem atingidos na sua dignidade pessoal e profissional. Mas note que isso se passa mais na esfera politica. E, aliás, quem costuma levar porrada é o Nogueira (dito aquele sindicalista que não trabalha), não exactamente os professores. Enfim, ainda não perceberam o que é e para que serve um sindicato. Os professores levam porrada como leva qualquer funcionário público. Para muita gente, um funcionário público, por definição, é um parasita. Mas não é tanto assim no dia a dia, na comunidade, no contacto de pais com os professores, etc. Eu tenho procurado envolver-me na escola, já fui durante três anos representante dos pais e a única coisa para que me queriam era para assinar papéis e atas. Pronto, deixei. Nem sequer tenho muita necessidade de ir agora à escola, porque não gosto de chatear e sobretudo porque o miúdo não dá trabalho que o justifique. A minha luta agora é que não marquem três testes em dias seguidos numa semana, se bem que já me tenham provado cientificamente que é assim e não pode deixar de ser assim.
      Note que nunca poderia ter nada contra os professores, porque tenho familiares chegados que o são ou foram e, de qualquer maneira, se tenho a formação que tenho, devo-a a professores.
      Tenho reparado numa coisa e peço-lhe que me confirme se tem essa percepção (se quiser): grande parte dos professores parece ter medo dos miúdos… Vou reformular: parece haver uma percepção de que os miúdos são potenciais delinquentes, pelo menos. Já recebi recados indignados na caderneta, com muitas recomendações de correcção, de que o meu filho olhou para o lado e falou com um colega. Assino, tomei conhecimento, muito obrigado, serão tomadas as medidas adequadas, e digo: “filho, deixa lá isso” 😉

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      1. Muitos professores têm medo, não dos miúdos, mas de tudo o que pode envolver uma crítica mais acesa ou uma tomada de decisão mais firme. Não se trata de eles serem potenciais “delinquentes”, mas sim de não ser possível uma defesa contra uma reacção menos apropriada ou violenta de um aluno. Raramente passei pelo “que é que vai fazer? não me pode tocar!”.

        E só muito recentemente passei por uma ameaça parental velada… que levou posteriormente a resposta adequada.

        Há, sim, uma grande incompreensão, nascida em muitos casos de situações mal resolvidas do passado. Seja entre os “autoritários”, seja entre os “amedrontados” ou os “bem-intencionados”… entre outras tipologias.

        Isto só se resolve a médio/longo prazo.

        Quanto ao “parasitismo”, nenhuma classe profissional teve uma ministra que se preocupou especificamente em amesquinhá-los e gabar-se disso.

        No meu caso nem é mágoa, é mesmo desprezo. Extensível aos seus prolongamentos comunicacionais.

        Repito: sou encarregado de educação e como dt ou professor o meu comportamento segue, pelo menos no essencial, o que gostaria de ter como serviço docente para a minha filha. Sem desculpas…

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      2. Caro Renato,

        Já sorri com este seu comentário.
        Desde a alusão ao “sindicalista que não trabalha” (uma das “porradas” preferidas de muitos professores), passando pela papelada a assinar enquanto representante dos pais (ai, a papelada….), até aos recados na caderneta do seu filho porque, ó grande escândalo, olhou para o lado e falou com um colega e passando ainda por aquela coisa da marcação de testes em 3 dias consecutivos-

        Quanto ao não fazerem a mínima ideia do que é um sindicato, já estou habituada. Mas vêm ter comigo para saberem novidades e como é que é. Rasgaram o cartão, ó tanta árvore assassinada!

        Quanto a ser-se representante dos pais, se se quer ir para além da papelada e do interesse muito individualizado no respectivo educando, esqueça porque continuará a assinar papéis e ninguém lhe liga nenhuma por uma série enorme de razões.

        Quanto aos recados, há um exagero incrível por parte de muitos professores que, não sabendo/não tendo experiência de como agir, usam e abusam das missivas. Aliás há quem permanentemente faça queixa ao DT porque um aluno chegou 3 minutos atrasados no dias anterior.

        Finalmente quanto aos testes, até que está a ser bastante comedido. Eu vejo turmas com testes marcados durante toda a semana. Mais, eu vejo testes marcados para o longo do ano inteiro logo no início do 1º período.

        Sorri com o seu comentário porque já vivenciei isso tudo. Tanto como EE como professora.

        Lamento dizê-lo, mas há, como diz o Paulo Guinote, gente de toda a espécie no ensino como noutros sectores sócio-profissionais.

        Apenas que, nesta área profissional, quando isto acontece a gente indigna-se talvez mais.

        Gente cinzenta, gente inflexível, gente cheia de si, com uma enorme dificuldade em se questionar, sem qualquer imaginação, empatia ou pensamento out of the box.

        Eu, professora, sinto-me muitas vezes envergonhada.

        Será uma minoria, sem dúvida. Mas as consequências são desastrosas. Para os outros profissionais e , especialmente, para os jovens e menos jovens alunos.

        Sei que também vou levar “na cabeça”.

        Não me preocupo minimamente. Neste momento da minha vida e desde há muitos anos deixei de me preocupar com isso. Até acho piada. E divirto-me imenso.

        Uma muito boa tarde.

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      3. quando o seu educando na universidade tiver de fazer 3 EXAMES NO MESMO DIA, e verificar que nem sequer pode ‘piar’, comparativamente 3 testes numa semana até nem parece muito violento…

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  14. Obviamente só posso falar pelas escolas pelas quais o meu filho passou (duas), mais concretamente pelas suas turmas, e ou elas são completamente atípicas, o que não acredito, ou algumas coisas que aí se passaram revelam algo mais geral. Há, por exemplo, um curioso entendimento sobre a forma como os pais se devem envolver na escola. Como a sua responsabilização por coisas tão simples como a falta de atenção dos seus filhos nas aulas. Parece ser suposto que os pais comandem à distância os seus filhos na sala de aula, ou que consigam em casa corrigir-lhes certos comportamentos hormonais na sala de aula. Sentarem-se direitos, olhar em frente, não olhar para trás ou para o lado, não falar. A propósito, já perguntei, com voz doce, o que estavam os professores a fazer na sala de aula.
    Não são tanto situações mal resolvidas, mas sim falta de conhecimento de noções básicas de psicologia. Ou, muitas vezes, como já verifiquei, pura falta de paciência, sobretudo de professores mais velhos, já em fim de carreira, com mal disfarçada vontade de deixar de aturar a miudagem. E eu entendo e qualquer pessoa razoável pode entender. É preciso é que isto fique claro. Falta até, muitas vezes, de conhecimento da própria legislação que lhes diz diretamente respeito e aos alunos, seja ao nível material, seja ao nível procedimental.
    É preciso um equilíbrio, sempre difícil, tomando atenção entre muitas coisas a esse tal medo de que fala. Mas não vejo em que relação a outra profissão as pessoas devam ter mais exigência, do que em relação à profissão de professor dos seus filhos e quem os tutela. Julgo que nem em relação à profissão de inspetor de finanças.

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  15. “Ou, muitas vezes, como já verifiquei, pura falta de paciência, sobretudo de professores mais velhos, já em fim de carreira, com mal disfarçada vontade de deixar de aturar a miudagem”

    Aqui, Renato, discordo.

    Não é bem assim.

    Mais uma vez, como EE e como professora, a minha experiência é precisamente a contrária.

    Sem querer generalizar porque não considero correcto, as piores experiências que tive como EE dos meus 2 filhos não foram com professores mais velhos porque com menos paciência. Foram precisamente com professores bastante mais novos. Como professora, os /as colegas mais velhos têm muito mais paciência. Talvez porque já tiveram os seus filhos a estudar e porque muitos até já têm netos. A falta de vontade em aturar a miudagem não é o resultado da sua idade. É que, com a idade, vão trabalhando muito mais nomeadamente numa miríade de actividades a que chamam de actividades não lectivas, sendo que na realidade são mesmo lectivas- apoios a granel a grupos de alunos com NEE ou, imagine-se, a alunos mal comportados. Há professores que começam a trabalhar às 8:30h com estas actividades (ele há outras) e têm a 1ª aula do dia ao último tempo da tarde.

    Quanto à falta de conhecimento de noções básicas de psicologia, confirma-se.

    Mas, mais do que isso, confirma-se ainda mais a falta de noções básicas de pedagogia e de estratégias mais interactivas e variadas.

    Várias vezes passo pelos corredores e olho para dentro das salas, um reflexo normal.
    O que vejo é tudo meio escuro, muito quadro mágico, muito projector e muito power point. O professor está sentado. Os alunos copiam.

    Sorrio para dentro e penso: bom, são as aulas do séc XXI. Tanto gadget tecnológico. Tudo sentadinho a copiar. Tão giro!
    Havia de ser agora aluna e haviam de ver!

    (mais cacetada na cabeça, certamente)

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  16. “Mas, mais do que isso, confirma-se ainda mais a falta de noções básicas de pedagogia e de estratégias mais interactivas e variadas.”

    Exatamente, F. Se tiver paciência (e o nosso anfitrião), voltarei aqui amanhã para continuarmos esta bela discussão.

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  17. Renato,
    Eu conheço muito mais do que duas escolas, desde que comecei como aluno há quase 50.
    Como professor, uma dezena, embora numa área relativamente “curta”.
    Como visita ocasional, mais do que isso.
    Por conhecimento indirecto, via conjugal, mais um punhado (ainda passámos por um par delas em comum em anos diversos).

    Acredite… há muitas semelhanças, mas também muitas diferenças, por vezes escolas quase paredes-meias.
    Passei por uma escola ou duas (estou a disfarçar) a que nunca voltaria por minha vontade.
    Há “colegas” que não gostaria de ter (e já tive de o explicar olhos nos olhos, mais de uma vez, ao longo dos anos).
    E muita gente que faz muito mais do que o seu dever mais restrito.

    Basta dizer-me em que zona são as escolas que conhece como EE e digo-lhe até que ponto serão atípicas ou “típicas” de um certo contexto. Porque já ando nisto há muito tempo.

    Lá teria uma ou outra vez de concordar com a F.. realmente, nos tempos que correm, a juventude não é garantia de maior aplicação, inovação ou mesmo paciência.

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  18. mesmo que os exames fossem banidos, os pobrezinhos continuavam a não poder entrar em medicina ou arquitetura, porque simplesmente não tinham capacidade financeira para pagar a brutalidade de custos de estudar na universidade…
    por isso, o que se tem de banir é o fosso de rendimento na sociedade…

    (embora considere que os exames na escola básica/secundária são um empecilho ao seu funcionamento e que estudar medicina com as perspetivas futuras laborais nessa área, será um esforço colossal com retorno minúsculo…)

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