Parece que há por aí uma espécie de proposta encoberta (não se percebe bem de quem terá partido a ideia, mas se fizermos umas contas chegamos lá perto) de trocar os anos de congelamento da carreira pela antecipação do tempo necessário para a aposentação.
Vamos lá ser bem claros: este tipo de proposta beneficia em primeiríssimo lugar os ministérios da Educação, das Finanças e da Segurança Social e só em segundo lugar, muito à distância, os professores que, estando nos últimos escalões da carreira (8º ou 9º), só queiram mesmo ver isto pelas costas.
Eu explico porquê: a troca proposta é benéfica para os interesses governamentais a três níveis:
1. Ao não repor o tempo de serviço que permite a progressão salarial dos professores, fica sem se preocupar com os encargos de tal reposição e enterra de vez um problema incómodo.
2. Os professores, ao não recuperarem o tempo de serviço, irão aposentar-se com valores de referência bastante mais baixos para o cálculo da sua “reforma”. Mesmo que a idade/tempo de serviço para não ter penalização baixe, estarão, em média, dois escalões abaixo do que deveriam.
3. Antecipando a aposentação dos mais velhos/caros poupará, nas suas despesas correntes com o pessoal, ao contratar (ou vincular extraordinariamente ou ordinariamente) professores mais novos/baratos.
Esta solução é uma espécie de triplo jackpot para o governo que está a apostar no imenso desgaste da classe docente e no seu desespero em ver uma saída rápida do manicómio labiríntico. Como disse, esta solução, assim colocada, só pode ser atractiva para quem esteja mesmo nas últimas e a querer sair a qualquer custo do activo. Sei que há muita gente, mas é bom que percebam o que lhes poderão estar a oferecer. Até porque duvido que a generosidade na antecipação da aposentação não esteja dependente duma fórmula que, em defesa da “sustentabilidade”, reduzirá tudo a, no máximo, metade do tempo congelado.
Dito isto… consigo imaginar uma solução híbrida e minimamente justa: repõem os 2 anos e 4 meses dos tempos do engenheiro e antecipam a aposentação nos 7 anos do congelamento de 2011 a 2017, permitindo-a a partir dos 60 anos. É uma solução que diminui os encargos imediatos e continua a limitar o valor da aposentação de quem sair aos 60 anos, mas, ao menos, devolveria os 9 anos e 4 meses que nos querem apagar da vida. Reduziria encargos, sem ser totalmente obscena.
Outro tipo de propostas, plantadas por aí pelos pontas-de-lança do ps governamental, não passam de manobras para provocar a erosão de qualquer tipo de resistência ao abuso e arbítrio.

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