A nossa classe política tem, em larga medida, um complexo enorme em relação ao seu valor académico e mesmo em relação à própria certificação das suas habilitações. Enquanto menoriza de forma permanente que tem qualificações mais do que públicas e reconhecidas, recria o seu próprio passado académico ou tenta contornar as formalidades para exibir o que não é ou fez. O caso Relvas foi apenas o mais evidente. O caso Pinho, com lugar patrocinado, um dos mais ridículos. Depois de muitos outros que inventaram currículos ou parte deles para parecerem ser algo é a vez de mais um querer dar a entender que foi alguma coisa lá fora, apostando em que ninguém vai verificar, de tão embasbacado, o título de visiting scholar. Há quem diga que somos um país de doutores com reverência pelos títulos académicos. Não me parece. Somos é um país de arrivistas complexados que, mal podem, querem exibir um pedigree académico que não têm, ao mesmo tempo que gostam de amesquinhar quem o tem.
A explicação de Feliciano Barreiras Duarte é ridícula em várias passagens, pois “garante que a «relação» como ‘visiting scholar’ se deu, ainda que a «estadia», por outro lado, não se tenha consumado.” Alguém o deveria informar que mesmo malta razoavelmente distante de Berkeley, sabe que é difícil ser visiting scholar sem “estadia”, pois aquele estatuto pressupõe que se passe tempo na Universidade a investigar e leccionar. Que um tipo que foi governante e é secretário-geral de um partido desça a fazer o que é considerado uma falsificação por parte da pessoa que alegadamente assinou um pseudo-certificado é deprimente mas não é novo. A mediocridade não se mede por ter ou não um certo grau ou estatuto académico, mas por aquilo que se faz para aparentar que se tem. Resta saber se a data não calha a um domingo.

(a direcção de rio começa a revelar-se um manancial de rigor e excelência)
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