Da Visão Holística ao Desenho Universal para a Aprendizagem

Um@ colega, por pressão dos créditos, tem andado a frequentar algumas formações da moda, daquelas em voga, com formadores entre o replicador aplicado e o guru inclusivo. Da mais recente enviou-me uma apresentação com dezenas de slides que irão merecer a minha mais atenta desconstrução, porque eu acho que as coisas para serem bem feitas precisam de ser bem feitas ou então é apenas banha da cobra oleada a verbas 2020.

Vou hoje usar apenas dois desses slides para algumas incongruências, falhas, preguiça, desatenção ou apenas inconseguimento conceptual de quem anda a espalhar o Verbo Inclusivo e Flexibilizador pelo país.

Comecemos pela coisa holística:

Inclu

Ora bem… uma abordagem “holística” ou “sistémica” não se apresenta desta forma, com uma espécie de flecha com círculos coloridos em sequência. Por definição, uma abordagem “holística” ou “sistémica” (concordemos com ela ou não) é confluente, tem uma espécie de lógica hegeliana… os diversos elementos confluem para um resultado, seja ele o indivíduo em toda a sua pluralidade única ou para um resultado, cujas partes remetem e constituem o todo.

Portanto, com toda a humildade, permitam-me que faça uma versão alternativa a este “fluxo”, porque estes conceitos não podem ou devem – em coerência com os princípios sistémicos ou holísticos – ser apresentados desta forma, mas sim de uma muita mais harmónica, integradora e confluente para o objectivo da “Inclusão”:

Inclu Alt

A sério… acho as minhas bolinhas – ou bolhinhas – mais fofuscas

Por outro lado, é introduzido um novo conceito em tudo isto que é o DUA:

Inclu1

Sim, a imagem do puzzle, quebra-cabeças de peças que é necessário encaixar está quase bem conseguida. O problema é que esta forma de apresentar a problemática levanta-me duas reservas:

a) Nem sempre as peças a encaixar têm formas concordantes, pelo que se deveria reforçar a ideia do que é necessário fazer para que elas encaixem. Ou seja, o “cimento” que permite que elas se liguem, mesmo ultrapassando asperezas mais localizadas ou espalhadas. Assim, parece tudo muito simples…

b) Esta representação dá a sensação de uma certa rigidez no posicionamento e aleatoriedade na vizinhança entre as diferentes peças… Aqui, sim, justificavam-se umas intersecções, sobreposições, setinhas para demonstrar que a posição de cada conceito ou prática (há por ali alguma confusão entre as duas coisas…) pode ser intermutada e intermutável com as restantes. Não faço bonequinho alternativo, porque acho que aqui existe mesmo uma falha grave em termos conceptuais… porque uma coisa são os tais conceitos, outra as estratégias para os concretizar.

ommm

Leia-se “Contratar Barato” ou “Contratar Precário” ou “Contratar Empresas Amigas em Outsorcing”

Meter dentro que é necessário para depois subir na hierarquia. Concursos à medida, como alguém me dizia há uns dias. Ou contratar – alegando falta de recursos próprios – os serviços externos “certos” (basta ver o exemplo do seu delfim na CML).

Costa recusa consumir margem orçamental com salários

O primeiro-ministro salienta a necessidade de gerir o orçamento de “forma inteligente” e contratar mais pessoas, “tendo em vista prestar melhores serviços aos cidadãos”.

(…)

“Não podemos consumir integralmente essa margem [orçamental] com a evolução dos vencimentos de quem já está na administração pública, não deixando margem para fazer algo que é essencial para a melhoria da qualidade dos serviços públicos e das próprias condições de trabalho do atuais funcionários públicos, que é a necessidade de abertura de concursos externos para o reforço de pessoal nos diferentes serviços”, justificou.

Portanto… melhorar as minhas condições de trabalho, não é melhorá-las. É destruir o horizonte de progressão e contratar externamente quem recebe menos e ainda bate palmas, aproveitando para umas entradas “cirúrgicas”.

AntCosta

 

Percebe-se Melhor A Demissão de Várias Equipas do JNE

E já agora, para que serve a autonomia financeira do Iavé? Só para vender livros com provas e outros “estudos”?

A organização do processo de avaliação externa das aprendizagens em Portugal é da responsabilidade da Direção-Geral da Educação, através do Júri Nacional de Exames (JNE), designadamente a realização, classificação, reapreciação e reclamação das provas de aferição dos 2º, 5º e 8º anos de escolaridade, das provas finais do 3.º ciclo do ensino básico e dos exames finais nacionais do ensino secundário. Tendo em consideração este desiderato, o JNE possui uma rede de estruturas regionais, 7 delegações regionais e 35 agrupamentos do JNE, que respondem de forma próxima e eficaz às necessidades das escolas e às exigências do processo de avaliação externa. Para o seu funcionamento, as equipas das delegações regionais e agrupamentos do JNE são constituídas por docentes destacados, por despacho superior, para estas funções de grande especificidade técnica.

De acordo com o Regulamento do JNE, os serviços prestados pelos elementos das equipas regionais do JNE são remunerados de acordo com despacho do membro do governo responsável pela área da educação, cuja regularização tem sido efetuada diretamente pela DGE. No entanto, tratando-se de remunerações complementares, verificou-se que esta regularização deve ser feita pela escola a que cada docente pertence.

Assim, vimos informar que a escola deverá requisitar o (s) montante (s) relativo a apenas uma parte do trabalho efetuado pelo (s) docente (s), no âmbito do JNE em 2017, a fim de que a regularização possa ser efetuada ainda no presente mês de maio, na rubrica 01.02.14.A0.09 – Outros abonos variáveis – Pessoal Docente – Anos Anteriores, conforme quadro seguinte:

NIF

Nome

Valor

Mais se informa, que ao total referido acrescem os encargos da entidade patronal a requisitar na rubrica de anos anteriores respetiva.

Caso a Requisição de Fundos de Pessoal referente ao mês de maio já tenha sido enviada, poderá substituí-la até ao dia 11 de maio ou em alternativa, poderá ser remetida uma requisição adicional até ao próximo dia 15 de maio.

(nota do IGeFE enviada às escolas)

Patinhas

 

Pessoalmente, Acho Que o Hotel Era em Lisboa

The OECD review mission took place on 15-19 January 2018. It included visits to Lisbon, Moita, Azeitão, Alcanena, Almada, Vialonga, Seixal, Sintra and Odivelas. (p. 6)

Atendendo a que se afirma existirem cerca de 230 agrupamentos e escolas no projecto (num total superior a 800 só na rede pública, não contando com os colégios privados e escolas profissionais), é estranho que a proporção de escolas visitadas tenha sido de 8 aderentes ao projecto (6 públicas, 2 privadas, ambas a sul do Tejo) e apenas 1 não aderente a (Odivelas, será que a fazer o papel de “critics of the project“, pois não me apercebi de mais ninguém nos inquiridos.

Assim como me parece que a representatividade da amostra limitada à zona de Lisboa e Vale do Tejo, com Alcanena ali um pouco mais fora do raio de acção, é um bocadinho… curtinha e pouco representativa… pois há quem diga que o país não é só Lisboa e um pouco ao redor.

Mas tudo bem, o que interessa é que “the visits were inspiring and, due to the wealth of information received, gave the team much to reflect on.”

So much que conseguiram mais de 70 páginas de review, mesmo sem qualquer research que se veja de metodologia de trabalho comparativo entre a forma de funcionar das escolas ditas “flexíveis e autónomas” e das outras “rígidas”; quiçá mesmo inquirir os alunos dos dois tipos de escolas e perceber, sem guião, se as diferenças são assim tantas e se não estão circunscritas a um número muito restrito de turmas. Muito menos uma amostra minimamente representativa da realidade do país e da sua rede escolar. Eu sei, dava trabalho, mais vale “reflectir” sobre os dossiers fornecidos pela equipa do SE Costa para se atingirem os insights adequados e aquilatar da qualidade dos challenges,

Até houve tempo para fotos e tudo sobre a “visualização” do “perfil do aluno” pelos alunos eles mesmos.

OCDE

Pessoalmente, Acho Fantástico

Que a OCDE já tenha conseguido fazer uma review do nosso pafismo educacional ainda o ano lectivo da sua implementação experimental iria a meio (a referência a algo mais recente é de Janeiro de 2018). Realmente, nada como ter amigos em altos lugares para se conseguir ter o balanço ainda a coisa vai a arrancar e ter conclusões escritas ainda antes do estudo em si. E depois querem que acreditemos que isto é a sério e que não é tudo um fingimento encomendado?

Reparemos no “trabalho de campo”: que já tem pesquisa e análise por uma equipa com quase tantos membros quanto as escolas visitadas

The review draws on research and analysis, as well as information gathered during one case study visit. This visit included trips to nine schools that are taking part in the pilot project, and one school that is not in the pilot project. The members of the pilot review mission included: Miho Taguma and Lars Barteit (OECD Secretariat), Connie Chung (independent researcher, United States), Valerie Hannon (Board Director and CoFounder, Innovation Unit) and Sietske Waslander (Professor of Sociology, Tilburg University, Netherlands), and Luis E. Gracía de Brigard (Founder and Managing Partner, Appian Education Ventures).

As visitas às escolas tiveram a duração de três horas e meia que, como sabemos, é o padrão para todos os trabalhos de investigação, com o objectivo de “pesquisa e análise”, em especial quando os visitantes são de fora e precisam de uns coffee-break para combaterem o jet lag.

A sério, aconselho seriamente a leitura do itinerário da equipa e a composição de alguns painéis (conheço várias pessoas envolvidas, algumas das quais só podem ter sido apanhadas nisto por convocatória vinculativa, espero) no final do volume. Volume esse que, admito, é um belo naco de propaganda com a aparente legitimidade de um estudo externo e científico”.

Já agora… antes de ser acusado de negativista e de uma visão crítica destrutiva, ponderem bem no que foi a “investigação”, o momento em que foi feita e a a riqueza da análise encomiástica para a iniciativa. Porque quem tem um pingo de conhecimentos sobre como estas coisas deveriam ser feitas numa perspectiva séria, dificilmente poderá considerar isto muito diferente de uma visita daquelas delegações dos tipos da troika para analisarem as nossas contas públicas.