Antigamente Era o “Programa Mínimo”

Os americanos têm uma coisa semelhante, os Common Core Standards. Por cá são aprendizagens “essenciais” que, no caso da História do 3º ciclo resumem a herança da Antiguidade a quase nada. O Egipto é pulverizado, como em tempos foi a Suméria. Agora é tudo na perspectiva da abordagem generalista dos conceitos transversais a todas as civilizações. Uma das matérias que mais interessava os alunos, torna-se “não essencial”. Estranhamente, numa altura em que tanto se fala de multiculturalidade e respeito pela diferença, defende-se que o que interessa são apenas os “contributos dessas civilizações para a civilização ocidental”. Patético.

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Da Grécia Antiga, volta a desaparecer Esparta e a democracia ateniense fica ali, meio perdida e descontextualizada. Quanto a Roma, “aterra-se” no século II, com a Pax Romana bem avançada, não há República, não há Octávio Augusto e o poder imperial aparece do nada.

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Isto é demasiado pobre. Isto é cortar, cortar, cortar, até encaixar em duas ou três aulas semanais de 50 minutos, conforme os jogos de poder em torno do currículo. A História é a parente pobre do currículo do Ensino Básico, como a Filosofia é do Secundário. A Memória e o Pensamento são os inimigos desta gente que detesta “saberes enciclopédicos”, certamente desconhecendo a importância do que foi isso no período do Iluminismo. Diderot e D’Alembert organizaram a sua obra maior para combater o obscurantismo dos saberes e poderes do seu tempo. A mim, parece que as Trevas estão cada vez mais densas.

Que a APH colabore com isto só me satisfaz na medida em que nunca fui membro e, deste modo, não terei de lhes devolver qualquer cartão.

Municipalizemos!

Funcionária perde 400 euros de salário

Provedoria emite parecer para verba ser devolvida.

Ana Paula Alves, chefe de serviços administrativos na sede do Agrupamento de Escolas de Felgueiras, recebia o salário através do Ministério da Educação há 30 anos, até à descentralização de competências para a autarquia.

“A Câmara passou a gerir os recursos humanos e eu passei a receber, em 2011, menos 400€ do que o que sempre recebi. Enviaram- -me uma carta a dizer que tinha terminado a minha mobilidade como chefe”, referiu a lesada.

A Câmara de Felgueiras não contemplava no mapa de pessoal o cargo que Ana Paula Alves exercia até então desde 2004, e não o ampliou. “Passaram a pagar-me como se eu fosse assistente técnica e eu mantive sempre as funções de chefe”, explicou. O processo ainda corre em tribunal. A mulher, de 55 anos, perdeu o caso em primeira instância, mas recorreu. Aguarda agora a decisão do recurso.

“O tribunal não me deu razão por não ser chefe de carreira, mas esquece-se que os concursos para ser chefe de carreira já acabaram há anos”, disse. Entretanto, a Provedoria de Justiça emitiu um parecer em que se lê o pedido à câmara municipal para que devolva o dinheiro a Ana Paula ou ao ministério.

Agora a parte mais fantástica da notícia:

Contactada pelo CM, a Câmara de Felgueiras mostrou-se solidária com as reivindicações da funcionária, mas revelou que nada poderá fazer enquanto não for conhecida a decisão do recurso, que foi já apresentado em tribunal.

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A Longo Prazo, Propriamente Quando?

As aprendizagens “essenciais” para HGP têm algumas curiosidades resultantes do esforço por cortar conteúdos, de modo a conseguir encaixá-los no tempo disponível para a disciplina. Ou seja, são “essenciais” porque não há tempo para mais. Mas há outro tipo de curiosidades, de tipo conceptual, ao tentarem encaixar o discurso na retórica do Perfil do Aluno. Só assim se entende a seguinte passagem, relativa à transição para as sociedades neolíticas (5º ano):

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Eu leio isto e vou em busca das “noções de cidadania” no resto da lista de aprendizagens… numa perspectiva de longo prazo.

Mas não as acho, nem sequer em dois momentos (eu até já nem falo no caso da implantação da República) naturalmente essenciais para a criação e desenvolvimento de uma noção de cidadania e de cidadãos: instauração do regime liberal e da democracia. E acho estranho.

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O Apagar Progressivo da História

No 2º e 3º ciclo o corte é especialmente sensível em relação à herança da Antiguidade Clássica e ao legado muçulmano. Mas fala-se da origem da ideia de “cidadania” no Neolítico, mesmo se o conceito desaparece dos que devem ser destacados a propósito do liberalismo, do 5 de Outubro ou do 25 de Abril. Parece que é com a chancela de uma APH cada vez mais preocupada em parecer bem e ser politicamente correcta. Ora… um dos principais valores do conhecimento da História é ir além das modas e desafiar as certezas passageiras dos poderes.

Da herança muçulmana à CEE. Há temas que quase desaparecem da História

No próximo ano lectivo, os professores terão orientações mais vagas sobre o que deverão abordar em sala de aula no ensino básico. Será um dos efeitos das “aprendizagens essenciais” que se encontram agora em consulta pública. Sociedade Portuguesa de Matemática diz que é uma “catástrofe absoluta”.

clio