Uma Plataforma Mal Concebida

Tentem fazer a matrícula de um aluno chegado do estrangeiro e ainda sem número da Segurança Social ou nº de utente do SNS.

A plataforma informática para as matrículas dos alunos está com problemas, o que levou muitas escolas a optar por receber os processos em papel, que só posteriormente são introduzidos no portal.

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Por Caminha

Greve de professores prossegue em julho e agosto no Agrupamento de Escolas de Caminha

Reunidos hoje em Vila Praia de Âncora, os docentes do Agrupamento de Escolas de Caminha, aderentes ao fundo de greve, que representam cerca de 1/3 do total dos professores refletiram sobre o atual momento da luta dos professores, decidiram prosseguir com a greve e concluíram o seguinte:

  1. Decidimos manter e reforçar o fundo de greve que tem sustentado a sua continuidade. A greve irá manter-se ativa neste agrupamento até ao limite das convocatórias (que incluem o mês de agosto). Tal decisão foi votada por larga maioria dos presentes (95%), ponderando todas as circunstâncias, numa decisão dialogada, não conflitual, coletiva e coordenada. Mantemo-nos assim associados a um conjunto de centenas de outras escolas, onde tem sido tomada a mesma decisão, com efeito na não realização de milhares de reuniões.
  2. Apesar de os meios de comunicação social destacarem nas suas notícias a vertente sindical das greves de professores, que há 2 meses se realizam nas escolas, estas, muito mais que uma iniciativa sindical foram uma iniciativa voluntária e coletiva dos próprios professores. Quando alguém convocou greve (poder que só os sindicatos têm) houve, como neste agrupamento, professores a aderir em número significativo. E, mesmo depois de 13 de julho, quando se gerou desmobilização, a greve mantém-se neste agrupamento e em muitos outros e tem grande impacto na realização de reuniões de avaliação. Há, neste momento, cerca de 30 turmas cujas avaliações ainda estão por realizar e que assim podem continuar em setembro. Esse número inclui turmas do 1º, 2º, 3º ciclo e secundário.
  3. Quem tem feito a força da greve, depois de convocada, são os grevistas e a sua vontade livre e esclarecida. E na greve deste agrupamento não houve sindicatos a controlar, mas sim docentes que, por si, decidem o que fazer em cada momento, até mesmo contra a vontade declarada dos sindicatos, a que alguns pagam quotas. Aliás, a maioria dos grevistas (e dos presentes à reunião) não são sindicalizados.
  4. Na verdade, além de existir a ideia geral de abandono na organização por parte dos principais sindicatos, a realização das greves das últimas semanas implicou auto-organização nas escolas, muitas vezes sem apoio e até oposição de dirigentes sindicais, com a criação de fundos de greve, distribuição das despesas entre colegas e razoável sacrifício dos grevistas.
  5. Lamenta-se que esse sacrifício não tenha ainda dado quaisquer frutos, quer pela atitude furtiva e manhosa do Governo, quer pela atitude pouco diligente e frágil dos sindicatos chamados à negociação. Os resultados da “negociação” são nulos e frustrantes, porque a única solução justa e moral para este conflito é o Governo assumir e pagar a sua dívida com os professores e sem atrasos ou delongas.
  6. Da injustiça que vimos sofrendo, culpamos o Governo e a sua atitude desrespeitadora para connosco, que não tem paralelo nas benesses imorais que distribui noutros setores. Mas também fazemos reparo aos sindicatos, cujo modelo de ação precisa de se tornar mais atento à vontade e anseios reais dos professores, evitando as prisões da análise de contextos políticos, em que chegaram ao ponto de contribuírem ativamente para a desmobilização.
  7. O Estado deve aos professores portugueses as progressões aos escalões salariais justos durante 10 anos (os 9 anos, 4 meses e 2 dias, mais o ano de 2018) e as contas e definição do processo dessa reparação já deviam estar feitos e bem antes de tal norma legal de reposição ter sido ser incluída no Orçamento de Estado. Até porque, quando este governo promoveu no OE, em 2016 e 2017, a continuidade da suspensão das progressões, não consta que tenha tido grande preocupação em contabilizar com rigor a dívida que assim também gerou.
  8. Agradecemos aos dirigentes sindicais que, ouvindo as opiniões de largo número de professores, usaram o seu poder de convocar greves para lá de 13 de julho, para nos permitir sinalizar a vontade de continuar a lutar, mantendo a greve até ao limite das nossas forças e condições.
  9. Instamos os sindicatos que participaram na “negociação” deste mês a perceberem o significado profundo do que tentamos dizer ao realizar o esforço duro de manter a luta, mesmo depois de ter sido por eles desmobilizada, invocando para tal apenas razões superficiais e virtuais.
  10. Instamos os setores políticos do concelho em que trabalhamos, que, em tantos momentos, sejam da oposição ou do poder local ou central, aparecem a declarar-se influentes no rumo das suas forças políticas nacionais, que usem essa sua influência para ajudar a resolver o problema.
  11. Dadas as conhecidas e estreitas ligações políticas dos governantes do setor a este concelho e distrito, poderia ser um contributo útil que os políticos locais, que lhe são próximos, aparecessem a apoiar a justiça das reivindicações dos professores.
  12. Em relação aos políticos da oposição, nomeadamente deputados, oriundos desta zona,  relembramos a importância premente de representarem este problema e os cidadãos que nele sofrem tão graves prejuízos.
  13. Os professores presentes na reunião declararam ainda acolher toda e qualquer iniciativa futura que persiga eficazmente os objetivos de recuperação da justiça salarial, incluindo greves parciais ou gerais, vigílias, manifestações, plenários, concentrações, protestos em deslocações de membros do governo, greves de zelo ou outras.
  14. Finalmente, decidimos que, em setembro, a metodologia do nosso funcionamento será a mesma que até aqui: independentemente da chamada “orientação sindical”, decisão e debate coletivos, ao nível das escolas, sem separação entre professores por filiação sindical ou qualquer outra.

Vila Praia de Âncora, 19 de julho de 2018

respect

Ler Ou Não Ler Os Maias, Qual É A Questão?

Li, no Secundário, não por ser obrigatório, mas porque comecei e gostei, embora a descrição do Ramalhete me pusesse à prova (mas preparou-me, salvo as devidas distâncias, para a descrição da abadia a que Eco faz chegar Guilherme de Baskerville). Obrigatórias também tinham sido outras obras que não li, embora parecendo que lera, d’A Abelha na Chuva (9º) ao Eurico, o Presbítero (11º), passando pelas Viagens na Minha Terra, que só viria a ler vários anos depois.

Os Maias, como muita outras coisas, deixaram de ser de leitura ou conhecimento obrigatório há bastante tempo, como tudo o que alguns herdeiros desgovernados de algumas pedagogias acham ser chato. A Filosofia foi amputada no currículo há uns anos porque deve ser chata, A História vai tomando esse caminho (desde reduzi-la a uma sucessão semestral esquelética às queixas sobre as classificações nos exames). As Artes são o simulacro que se sabe em toda a escolaridade obrigatória e a Literatura também só interessa se não ocupar muito tempo mais de dois neurónios. Relembremos há uns anos quando alguns manuais se preocupavam mais em reproduzir diálogos de reality shows do que qualquer autor d’antanho. Por acaso, tanto na altura como agora, encontramos algumas figurinhas comuns em todo este processo.

São Os Maias uma peça essencial para que se seja um bom pai de família, marido extremoso ou cidadão exemplar? Não necessariamente, mas lá por isso há muita coisa que também não fará imensa falta. Só que os tempos são mais propícios à exaltação do corpo são em mente vazia ou de cientistas “jovens” que acham que a literatura é uma chatice (ocorrem-me passagens de uma ou outra entrevista do João Magueijo) e contrários a tudo o que pareça passado, coisa enterrada, impressa ou passível de obrigar a um esforço que ultrapasse o deslizamento dos polegares pelos ecrãs. Sim, felizmente, a miudagem até lê bastante e ainda em papel (é umas das poucas áreas ainda em expansão editorial), mas acreditem que é a contragosto de quem acha que só os capitães cuecas ou os bananas com desenhos podem interessar até para lá da adolescência.

Pode-se ler O Crime do Padre Amaro ou A Tragédia da Rua das Flores com ganho equivalente? Ou A Ilustre Casa de Ramires como se propunha nas metas curriculares anteriores às aprendizagens “essenciais”? Depende… se tomarmos por boa a análise da sempre especialista Maria Filomena Mónica, os professores de hoje, em especial quem não convive com ela ou não respirou o ar de Cambridge ou Oxford, estão “formatados” e são incapazes de ir além de ensinar os alunos a ler guiões, pelo que nada conseguirão fazer de útil.

Pessoalmente, discordo, mas difícil seria eu – que de Oxford nos anos 60, por exemplo, apenas estou habituado a ver, com embevecimento, a série Endeavour – alinhar com a perspectiva catastrofista de MFM sobre tudo em geral e particular. Claro que eu sou mais pel’As Farpas como forma de descrição sarcástica e menos incestuosa da sociedade oitocentista. Com a vantagem de serem textos mais curtos, mas a desvantagem de implicarem alguns conhecimentos prévios de contextualização histórica que, seguindo-se o currículo padrão, em especial no actual período joanino, não fazem parte do que se considera “essencial” o aluno do século XXI saber para a sua vida prática, fruição social e empregabilidade precária.

Só que lutar com Os Maias foi durante muito tempo uma espécie de rito de passagem que parece afligir muitos pedagogos cheios de compreensão para com o esforço causado por tudo o que provoca esforço (se querem que vos diga A Vida Mágica da Sementinha para 5º ano é crueldade bem mais intolerável).

Se a obra pode ser substituída por outra de Eça? Sim, se não substituírem o Eça e o que ele significa – com Ramalho, Fialho e todos os outros que tinham a competência do humor quando olhavam em sua volta com desânimo – em capacidade de análise crítica de um sociedade decadente, atrasada e endogâmica em todo o tipo de favores.

Claro que seria mais fácil o Medina interceder junto da Madonna e, requisitado o Paulo Branco e após o subsídio para um champô que nunca recebeu, transformá-la numa nova Maria Eduarda e a Belluci numa Gouvarinho morena, podendo o bíblico Diogo Morgado fazer de Carlos, numa variante de Abraão. Convidava-se o Donald Sutherland para Afonso da Maia e fazia-se uma festa no casting para o Ega e o Salcêde. O Cantona teria de aparecer (nem que fosse como Pedro da Maia).

E prontosss… tudo ficaria a contento da modernidade, da facilidade e da legibilidade da obra que fica melhor depois de digitalizada nas partes “essenciais”.

A bêmdezere, a Literatura serve exactamente para quê, se não for para boa para o comércio rápido e indolor?

Eça