Acham que a Educação está imune? Pode é ter outra roupagem.
Dia: 14 de Setembro, 2018
A Renascença Fez Parte do TPC
O Relatório da OCDE Induz Mesmo Em Erro, Não É Apenas Má Vontade Nossa
Já percebi que a generalidade da comunicação social, em especial televisões, se ficou pela leitura e quadros do “Country Note” de 9 páginas da autoria de uma Camila de Moraes do Directorate for Education and Skills.
As falhas resultam em especial de um longo quadro na última página que vou incluir em seguida. O problema é que os valores foram convertidos em dólares americanos (USD) usando as paridades de poder de compra (purchasing power parities) e foram divulgados em Portugal sem se fazer essa referência.
Ou seja, as televisões (e não só) fizeram quadros com valores que não são os reais, mas os relativos a paridades do poder de compra que só deveriam servir para comparações internacionais, mas nunca para apresentar como se fossem valores efectivos.
Exemplificando: de acordo com o quadro final do resumo, os professores ganham em início de carreira 32.887 dólares, o que às taxas de câmbio de hoje dá 28.182,68€. Na verdade, em termos reais, de acordo com a tabela salarial da carreira docente, no 1º escalão o salário mensal é de 1518,13€. Multiplicando por 14 meses dá 21.260€ brutos. O desvio é quase “colossal” (c. 7.000€).
Após 15 anos, de acordo com o relatório, o salário de um professor português será de 42.489 dólares o que dá 36.411,16€. Só que em Portugal um professor com 15 anos de carreira deveria estar no 4º escalão a ganhar 1.893,74 €. Multiplicando por 14 meses daria 26.512,36€, mas a verdade é que isso não se passa e não é referido no relatório. Devido ao congelamento de quase 9,5 anos, com 15 anos de carreira um professor está apenas no 2º escalão a ganhar 1.566,37€ que multiplicando por 14 dá 21.929, 18€. Em termos reais a diferença é brutal (14.500€).
Claro que a OCDE dirá que deu todas as indicações para que os leitores do relatório entendessem os valores usados. Claro que alguma comunicação social dirá que se limitou a transcrever os valores efectivamente inseridos no relatório. Claro que, pela conjugação das circunstâncias astrais, a opinião pública foi enganada, pois em nenhum quadro apresentado nas televisões se fez a ressalva devida de tais valores não serem reais mas apenas uma conversão para efeitos comparativos internacionais.
Quanto ao tempo lectivo e não lectivo que são apresentados como muitos favoráveis aos professores portugueses, isso resulta do simples facto de se terem contabilizado as horas semanais e multiplicado pelo número-padrão de semanas de aulas. Ora… como em Portugal há teoricamente 38 semanas de aulas, enquanto em outros países há casos com 39 ou 40 semanas (em especial no caso do 2º e 3º ciclo, tendo de descontar uma semana no 9º ano, por exemplo), é normal que o valor obtido seja menor. Infelizmente, não é feita qualquer estatística do tempo gasto em reuniões das maias variadas modalidades e extensões.