Os Professores Começam A Ficar Escassos Para O Século XXI

Já em Outubro, ainda há gente por colocar em alguns grupos disciplinares. No fim do ano lectivo passado já começavam a chegar pessoas que nem profissionalização tinham, em contratação de escola. Agora, passam as RR e ou não chegam ou chega quem andou anos por fora, a fazer outras coisas ou em AEC, porque os que estavam mais à frente desistiram. E que passaram ao lado das sucessivas reformas dos últimos anos e perderam mais o fim à meada do que quando se aparecia a dar aulas aos 21-22 depois de se ter sido aluno até aos 17-18 naqueles mesmos pavilhões.

O tempo acelerou e não perdoou.

A destruição criativa não é bem isto. Vai cavar-se um fosso enorme em termos geracionais daqui por uma década se as coisas continuam assim. Não sei se a ideia é transformar todos em arianazinhas e joõezinhos, formatados à medida dos mandantes, públicos ou ocultos, de agora. Só que daqui a uns anos, andarão por certo lá por fora em gabinetes especializados e terão deixado por cá apenas terra queimada.

23 opiniões sobre “Os Professores Começam A Ficar Escassos Para O Século XXI

  1. Eu olho à volta, na sala de Professores, e aquilo parece um lar de terceira idade; quem não tem cabelos brancos é porque os pinta. E penso cá comigo: é esta colecção de velhotes que está a preparar os jovens que serão o futuro do país?
    Estes velhotes (a maioria inegavelmente bons Professores) praticamente a esgotar o prazo de validade ou que já o ultrapassaram há muito, vão preparar os jovens do futuro? Mas a maioria destes Professores vive no passado, não entendem a actual geração de jovens nem estes entendem os seus Professores. São mundos muito diferentes, referências por vezes antagónicas.
    Numa aula de Filosofia, perguntar se alguém leu um qualquer livro de Sartre ou viu um filme de Bergman…só se for por piada de mau gosto.
    E o pior (falo por mim) é que eu estou muito longe dos meus alunos, não os entendo nem tenho grande vontade de os entender. Estou velho de mais para isso. O meu mundo é composto por livros de Sartre (e outros, claro) e por filmes de Bergman (idem) e estou-me a borrifar para a cultura duma geração que só sabe do mundo o que vê num smartphone.

    Estamos todos a envelhecer rapidamente. Porventura a envelhecer demasiado para podermos continuar a fazer um bom serviço. Não nos deixam reformar e isso é um enorme erro que o futuro cobrará demasiado caro.

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    1. Entendo-o, mas não diga isso, José!
      Quando o leio, não sinto que esteja a ler um ‘velho’, seja lá o que isso for.

      Como é natural, há diferenças, mas no essencial jovens e adultos, velhos, se quiser, não são assim tão diferentes. Na minha opinião, é muito mais uma construção social do que outra coisa.

      No fundo, todos gostam das mesmas coisas: música, viajar, conviver… O que muda é o formato, o estilo, a tendência…

      Mas ainda bem que existem contrastes. Afinal, um jovem é um jovem e um adulto é um adulto.

      (Para não pensar que estou a ser tendenciosa, digo-lhe que não sou propriamente velha 😉).

      Boa semana!

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      1. Ó Ana, não é que eu me sinta muito velho, uma vez que tenho imensos planos para o futuro.
        Sinto-me é desmotivado pela total falta de perspectiva de carreira (34 anos de ensino e bloqueado para sempre no 6º escalão, sem qualquer hipótese de progredir ao 7º) e afastado, culturalmente, dos alunos, que têm vivências muito diferentes da minha. Receio já não conseguir ajudá-los tanto como eles merecem.
        Mas constato tudo isto com naturalidade; não me choca envelhecer, choca-me é termos um país que confia a educação dos seus jovens a uma classe de sexagenários (ou perto disso) que mereciam retirar-se, depois de uma vida de trabalho, com dignidade. Mas não lho permitem. Tenho visto (todos nós o vemos nas nossas escolas) coisas muito pouco dignas para os Professores, que se arrastam à espera da reforma e acabam por sair de cabeça baixa e ignorados por um sistema a que deram o melhor das suas vidas. É um mau serviço que o país presta aos Professores e, sobretudo, aos alunos e ao futuro do país.

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    2. Eu ainda me faço entender, mas é porque reduzi a linguagem a uma clareza que ultrapassa a divergência de vocabulários.

      Observo o mesmo que o Chorão e essa é a minha fonte de revolta contras a dupla de Costas, mais o Tiaguito e o Centeno que se embrulham a falar, mas são comprovadamente geniais, e a outra senhora com ar abrutalhado com a descendência na escola dos alemães.

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      1. Compreendo tudo isso, Paulo!
        E por compreender é que por vezes também me permito ficar revoltada com as mesmas figuras (e outras, porventura menos visíveis)…

        Não gosto de falar destes aspetos recorrendo à palavra vítima (falta-me outra a esta hora…), mas na verdade tanto alunos como professores têm sido ‘vítimas’ da irracionalidade, do desinteresse, da falta de visão a médio e a longo prazo dos políticos que nos têm governado. Eles querem lá bem saber da educação!
        De igual modo, também não lhes interessa o SNS, a segurança social, o ambiente, a agricultura, etc. A visão deles está focada em outras coisas bem mais lucrativas…

        De qualquer modo, tenho como principio (talvez ingénuo, e com certeza de muito pequeno alcance) defender os colegas, dar-lhes uma palavra de incentivo… Não resolve nada, eu sei, mas pelo menos a mim sabe-me bem.

        Cada vez mais tem ficado claro que não podemos contar com (quase) ninguém… Que tenhamos pelo menos o apoio dos colegas.

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      2. Reduzir a linguagem ao mais simples possível já é o que faço há anos. Mas ensinar Filosofia exige algum rigor, algum raciocínio abstracto e há limites além dos quais já não posso ir, sob pena de ficar a dar cultura geral ou conversa de café e já não Filosofia. Os alunos têm de passar todos, saibam ou não, exige o patrão, lá na sua cadeira ministerial. Portanto, fingimos. Pactuamos, calamo-nos, assobiamos para o lado e passamo-los. A todos. Viva o sucesso do sistema. Somos todos muito bons.

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  2. E a quantidade de gente que fica colocado nas RR aceita o horário e no dia a seguir denuncia o mesmo? E por vezes até são horários completos e anuais! Desculpa de alguns “concorri só para ver se ficava, mas já tenho trabalho no privado”. E os alunos há várias semanas sem aulas. Que sistema de concursos é este? Um sistema que não considera todos os horários disponíveis como o destacamento dos professores bibliotecários por exemplo. E quanto mais o governo manda cortar nas horas mais horários incompletos cria que acabando por ficar para esta fase das RR podem ser pouco apetecíveis para quem é contratado e mora longe da escola. Mas com certeza que se poupa dinheiro com isto!

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  3. .
    “Já em Outubro, ainda há gente por colocar em alguns grupos disciplinares. No fim do ano lectivo passado já começavam a chegar pessoas que nem profissionalização tinham, em contratação de escola.”

    Começam a escassear docentes em algumas áreas do 2º, 3º cilos e Ensino Secundário. É verdade.
    Tal não ocorre relativamente a “educadoras” e “professores primários”

    Porque será Dr. Paulo?

    Porque será?

    Explique ás “massas” a razão de ser deste fenómeno que está no seu inicio e que se irá acentuar se o Statu quo (defendido por si e pela femprof) se mantiver.

    .

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      1. Caro Dr. Paulo

        O “irritante” é mesmo a “ortografia”? Duvido….mas…….

        Vamos lá chamar os bois pelos nomes em vez da “conversa mole” que a nada conduz. Andar a carpir dizendo que não há “professores” é mentira.

        Repito! É mentira… Veja o caso as “educadoras/Babás” e dos “Professores Primários” formados nas ESEs, e nos ISPs (maioritariamente privados a leccionarem cursos de aviário e/ou à bolonhesa)

        Quanto à “Carreira” (única) por si defendida, só conheço a 737 entre a Praça da Figueira e o Castelo.

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    1. José, eu ainda estudei Kierkegaard, Kant e Hegel…
      Nas tardes livres, tínhamos obrigatoriamente de consultar várias paginas e tirar apontamentos do ‘website’ 😊 “História da Pedagogia”, de Nicola Abbagnano, e em espanhol. O professor até era relativamente jovem, mas era muito exigente.
      Falecemos todos, eu incluída, como pode ver 😊.

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  4. Caro Doutor Engenheiro Karambolas da Silva,

    Refiro-me a grupos disciplinares de outros ciclos, em que mesmo em contratação de escola mal aparece alguém e se recusam é mais uma ou duas semanas sem aulas.

    Porquê? Porque desde a MLR até ao jovem Tiago, a “reversão” da representação dos professores pelo poder político é uma ilusão.

    O que “irrita” é o aparente desdém de quem não tem coragem para assumir por inteiro o desprezível “Temos Pena” do actual PM. A sua terminologia para se referir a profissionais qualificados é execrável, mas acredito que é o que o mandaram escrever por aí.

    Caso fosse informado (bastaria acompanhar alguns textos meus, incluindo um na revista OPS dos tempos da campanha presidencial do Manuel Alegre) e perceberia que eu não defendo uma “carreira única” para os docentes, até porque vocelências – os karambolas, abrantes e derivados – não sabem usar sequer esse conceito. Eu defendo uma diferenciação funcional na carreira docente, embora com a obrigatoriedade do exercício da docência em todas e a limitação efectiva de mandatos e não uma legislação com lacunas à medidas das perpetuidades no poder.

    Sim, eu sei que estarei a escrever sobre o que não entende.
    Mas, afinal, não é essa a sua função… essa é apenas expelir bílis e azedume.
    Mas nem isso é grande coisa.

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