Andou emplumada anos a fio a defender de forma deslumbrada o “engenheiro” até que, muito mais tarde do que o razoável, se arrependeu, como aquela malta que descobriu as maleitas do maoísmo depois de milhões de mortos ou do estalinismo bem depois da queda do muro.
Tenho imensa dificuldade em levar a sério aquela indignação televisiva das 6ªas à noite, como se CFA não fosse, há décadas, parte integrante do establishment político-mediático que nos foi progressivamente afundando. Comprei o Expresso desde 1983, pelo que tenho muita facilidade em encontrar tudo aquilo que CFA (não) denuncuiou em devido tempo.
Nos últimos tempos, a ausência da prática de um qualquer jornalismo relevante levou a que tenha figura de emplastro permanente na revista do Expresso, numa posição próxima da do MST no primeiro caderno. Parece uma espécie de confraria da caridade do Balsemão (que também se estende a outros antigos “jornalistas” que agora têm avença apenas para “opinar”).
Tenho eu alguma coisa a ver com isso?
Até tenho.
Porque eu ainda tento perceber o que é que ela efectivamente defende. Algo que nem ela parece perceber. Porque esta semana lança-se numa prosa sobre os direitos (que acha exagerados) dos trabalhadores do sector público e sobre a precarização (que acha exagerada) existente na maioria do sector privado. E acha tudo mal, não se percebendo o que acha bem.
Eu sei o que acho bem… nivelar por cima, não cair na armadilha de defender a mediocridade como norma desejável. Mas CFA limita-se a fazer aquela ladaínha habitual da “falta de reformas” nos tempos de “prosperidade”. Ora bem… onde estava CFA nesses tempos, quem apoiou e o que escreveu? Alguém ainda se lembra como andou colada a quase todos os poderes? Desde Mário Soares a Sócrates, incluindo mesmo o Santana Lopes quando presidente da CML (entre 2002 e Janeiro de 2006 foi a directora da Casa Pessoa, de onde saiu quando o dinheiro faltou).
Será que CFA não consegue perceber o seu papel em tudo aquilo que critica, exactamente por ter alinhado, nem que seja por omissão, em muita coisa que deveria ter sido denunciada a tempo?
Acredito que as vacas andem menos gordas pelos lados da Impresa e que isso lhe cause natural desagrado (nisso, tem a minha solidariedade, mesmo se a minha vaquinha tenha sido sempre magrita e longe dos milhares de outras), mas ao menos poderia esclarecer o que defende?
Se estão mal os direitos e a insatisfação dos trabalhadores públicos e os deveres e subserviência dos trabalhadores privados, onde está a justa medida? Nas poltronas do Expresso, de telemóvel em punho, em amena conversa de comadres com as “fontes”?

(já agora, clarita, há professores que também levam a comida para o local de trabalho…)
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