Mas Quem Começou As Fake News?

De forma não tão sistemática, com canais específicos, mas de forma cirúrgica? Haverá na nossa imprensa “de referência” quem se chegue à frente a contar nem que seja um pouco do que sabe? Daquilo que se combina(va) ao almoço, com uns telefonemas? Pseudo-notícias ou factos plantados, nem sempre com assinatura ou entregues a estagiários, na base de dossiers pré-cozinhados e não verificados? E nem é bom recuarmos até aos famosos “factos políticos”…

Agora andam muito preocupados com o assunto, que no Brasil e na América e os russos e tal, mas onde está a lista dos tais avençados que ninguém quis divulgar, ou melhor, que alguém decidiu que se não divulgava?

Genesis1

 

O Problema Do Fact Checking Pode Ir Além Dos Factos A Verificar

Descobri o que era um “verificador de factos” (fact checker) com Jamie Conway, o desorientado protagonista de As Mil Luzes de Nova York de Jany McInerney, que comprei naquela vaga de meados(segunda metade dos anos 80 que nos trouxe também as estreias do Breat Easton Ellis e do David Leavitt. Talvez como deformação da formação em História ainda em processamento, tinha a ingénua crença de que as pessoas procuravam escrever com algum respeito pelos factos, mesmo quando produziam “opinião”.

Apesar do livro ser sobre toda uma outra coisa, percebi que na imprensa americana “de referência” tudo o que pudesse ser objectivamente verificável o era, mesmo em artigos de opinião, e que os autores eram informados da necessidade de corrigir erros factuais, mesmo em colunas de “opinião”. Sendo a liberdade de expressão um valor sagrado, também era sagrado o direito a ser processado por quem emitisse opinião fundamentando-a em falsidades. Ou seja, de acordo com esta lógica podemos chamar a maior besta a uma qualquer pessoa desde que o motivo para tal esteja factualmente correcto. Ok… o senhor tal gosta de ajudar cãezinhos abandonados? Eu posso expressar a minha pior opinião sobre ele, desde que não falseie o que ele faz. Outra coisa é adjectivá-lo porque o viu a surripiar um chocolate no supermercado X na rua Y, quando não existe nenhum supermercado X na rua Y, mas na Z logo ao lado e na rua Y existe é o supermercado Z.

Alguns do maiores escândalos na imprensa americana teve origem na descoberta da falsificação de factos por repórteres ou articulistas de alguns dos seus mais importantes órgãos de comunicação. Por vezes, mesmo detalhes em peças de jornalistas com uma longa carreira de rigor. Com Dan Rather falhou esxctamente a verificação ou validação da veracidade de documentos usados para abordar a carreira militar de Bush Jr.

Por cá, nada disto se passa. Nem em peças jornalísticas e muito menos em artigos de opinião. Quase nada é verificado, em especial se a fonte é “oficial” ou “amiga” ou o que se escreve se ajusta às crenças pessoais. E não falo em selecção de factos, algo sempre necessário perante massas de informação cada vez maiores que é impossível reproduzir, mas na sua truncagem ou manipulação deliberada. Há erros inocentes, falhas causadas pela pressa, por enganos no processamento de informação e existe outra coisa… aquilo a que se passou a chamar “factos alternativos” e “narrativas” cuidadosamente preparadas para ser divulgadas em redes comunicacionais,

A produção de informação raramente é escrutinada e os “provedores” que foram aparecendo, tirando os do Público e alguns do DN, raramente foram além da superfície do problema quando se apresentavam queixas. Ainda é recente a triste reacção do “provedor” da RTP à denúncia de uma série de falsidades de um comentador de um programa onde devia apagar a luz sempre que ele fala, não por causa das “opiniões”, mas sim da forma errónea como apresenta como factos o que são puras invenções.

Mas a inexistência de fact checking não é o único problema. Outro é o de, quando existe essa tentativa, quem está encarregue de fazer a verificação dos dados não ter qualquer formação específica na área em causa ou falhas evidentes na capacidade de analisar criticamente a informação disponível.

Exemplifico com algo comum na Educação: quando um qualquer governante faz declarações políticas com base em dados tidos como “oficiais”, o habitual é ou nem sequer contestar a fiabilidade desses dados ou usarem-se duas fontes “externas” de informação para confirmar (ou não) o que foi afirmado: a OCDE e/ou a PORDATA. Qual o problema? A fonte dos dados dessas organizações é o próprio ME e as suas publicações oficiais. Pelo que se está a verificar algo afirmado por alguém do ME recorrendo a informações só teoricamente “independentes” pois foram obtidas junto do próprio ME.

Se o fact checker for preguiçoso ou ignorante na matéria, acaba-se como há uns meses no DN, com o fact cheking a precisar ele próprio de ser verificado. Pelo que não chega anunciar-se que se está a fazer verificação de dados; é preciso saber como verificar, onde buscar a informação, como a analisar. Não chega comparar números ou listas de compras. O fact cheking não pode ser encarado com condescendência ou como uma área menor do jornalismo e muito menos se deve circunscrever à análise do discurso político. O próprio discurso jornalístico deve ser verificado antes de ser produzido. Tal como a “opinião” não pode ser uma espécie de selva onde tudo vale.

Not sure if you should trust what you’re reading?  Get in the habit of fact-checking! 

Fact-checking and accountability journalism project

Deciding What’s True

The Rise of Political Fact-Checking in American Journalism

The 2018 FactCheck Awards

We highlight the unique and unusual campaign videos from the midterm elections.

E Ainda Ganhamos 25€ Por Cada Exame Que Classificamos!

O bestial, genial, MST voltou ao ataque no Expresso de ontem, apresentando crenças visceralmente irracionais como se de factos se tratasse, a coberto do amplo conceito de “opinião” pelo é empregado pelo Balsemão. O que eu gostava mesmo é que ele, que tanto critica os imensos privilégios dos trabalhadores do Estado, declarasse quanto recebe por cada coluna escrita para o Expresso (já sei, é a sua vida privada, ninguém tem a ver com isso), quanto tempo demora a escrever cada uma (com a riqueza da pesquisa que se nota nos factos que apresenta, deve ser coisa para uma hora com paragem para abastecimento de combustível e mudança de pneus) e, já agora, como isso poderá ter-se reduzido nos últimos anos ou então como poderá ter sido obrigado a desenvolver outras “coisas de definição ampla” para o grupo em que deixou de estar em exclusividade como antes (já sei, será do foro do estado de espírito psicológico do escriba, é do foro do sigilo profissional).

Ahhh…. e lembrei-me que adoro sempre estes aristocratas do privado tão preocupados (teoricamente) com as imaginárias operárias de Rabo de Peixe que entreviu nalguma viagem de férias ali pelos anos 90 do século passado quando ainda era um jornalista a sério e não a criatura amarga em que se transformou por não ter sido ainda colocado em vida no Panteão Nacional.

MST 10Nov18

(já agora, “alguns e algumas vezes” falaram-me “teoricamente” em números do género 5000 à peça, mas devem ser opiniões mal informadas… ou então ultrapassadas pelas necessidades de reestruturação financeira do grupo… o que poderá, alegadamente, ter ajudado a perturbar um pouco mais a objectividade das análises)