Era tão bom que o CNE fosse mais regulador e menos actor… Que estivesse mais enquadrado na realidade e preocupado em evitar as distorções da verdade no discurso político sobre a Educação em vez de fazer propostas que aparecem em introduções de documentos oficiais, mas depois são apenas posições pessoais. A actual presidente do CNE merece a minha estima pessoal (coisa rara, confesso, na área dos ocupantes de cadeiras do regime no establishment educacional), mas ganharia muito em não prolongar o que foram as péssimas práticas do seu antecessor, mais preocupado em fazer política e menos em evitar que o CNE se tornasse um reduto de combate ideológico. Agora é de sentido inverso, mas as duas posturas estão erradas, no meu entendimento de leigo. E não é apenas porque discordo das soluções preconizadas. Ou não. Ou talvez.
Para ficar claro, o que é isto de acabar com o 2.º ciclo? Não é acabar com o 5.º e o 6.º ano…
[Risos] Alguém me dizia assim: mas os alunos passam do 1.º ciclo para o 3.º?Mas também não é mudar o nome, pois não? Se dissermos que o 5.º e o 6.º ano passam a ser integrados no 1.º ciclo fica tudo na mesma. Qual era a sua ideia?
A ideia é a estrutura ser mais semelhante, ou seja, o 1.º e o 2.º ciclo integrarem-se num único ciclo em que a modalidade 3+3 seria possível: os três primeiros anos do básico seriam mais parecidos com a nossa antiga primária, com um professor único, e nos três anos a seguir já haveria alguma especialização, mas sem se cair na multiplicidade tão grande que é hoje o 2.º ciclo. É uma transição mais suave.Não tem nenhuma solução preferida?
Pessoalmente, gosto desta, mas isso não tem importância nenhuma. [risos]Outra solução de que se fala muito é o 6+6, em que o 3.º ciclo do básico fica agrupado com o atual secundário [10.º ao 12.º ano].
Sim, o que proponho é quase o 6+6. Dentro do agrupamento dos seis primeiros anos há muitas soluções possíveis, mas a mim parece-me importante manter os primeiros nove anos no básico como um ciclo unificado, não os juntaria ao secundário.Esta solução de que fala não é uma proposta oficial?
Não e gostava que isso ficasse claro. Uma recomendação do CNE tem um processo moroso e tem de haver um estudo prévio, um debate nas comissões, ir a plenário, ser votado. Este assunto já foi debatido no CNE há bastante tempo, mas teria de ser atualizado. É uma posição pessoal minha, que coloquei no prefácio do “Estado da Educação” e fiquei espantada com o volume que tomou.
Já agora… o que se segue não passa de um achismo, sem qualquer relação com o que se passa verdadeiramente após 2-3 dias de aulas. O que se vê é mais euforia do que outra coisa E, já agora, deveria perceber que a explicação é incongruente com os dados do próprio relatório sobre as mudanças de ciclo, mas…
Os números mostram que, de facto, os anos de transição têm mais retenções. Mas porque é que acha que isto acontece?
Do 1.º para o 2.º ciclo acho que é óbvio. Podemos perceber bem a confusão dos miúdos quando saem daquela escolinha para uma escola maior onde têm vários professores, várias salas. Andam atordoados à procura da sala, do professor, a tentar adaptar-se. Acho que se percebe, que é muito evidente. Do 2.º ciclo para o 3.º já não saberia dizer. Mas que é um facto é.
(e repare-se que nem peguei naquela de com os chumbos se aprender pelo medo… seria demasiado elementar desmontar o paradoxo do discurso em torno desta posição…)