Retroactivos e “Factos Alternativos”

Paulo Trigo Pereira escreveu numa sua declaração de voto que ““importa sublinhar que os sindicatos reivindicam retroativos relativamente a todos os anos que as carreiras estiveram congeladas”.

Consultando a Infopédia, como nome comum, um “retroactivo” corresponde a “montante que corresponde a pagamentos devidos e que estão em atraso”, sendo mais usado na forma plural (como o faz PTP). Ora, isto é completamente falso. Em nenhum momento, mesmo de mais intenso conflito, professores ou sindicatos, exigiram ou sequer sugeriram receber qualquer montante pelos anos em que a sua carreira esteve “congelada”. É verdade que vários políticos na área do PS usaram esse termo no passado mais ou menos recente, com esse sentido implícito, mas sem qualquer correspondência com as reivindicações dos docentes. Sendo claro e conciso, é mentira que sejam exigidos “retroactivos” relativos aos anos de congelamento da carreira.

Numa segunda acepção, como adjectivo, o termo “retroactivo” refere-se, de acordo com a mesma fonte, a algo “que tem efeito sobre factos passados; que modifica o que já foi feito”. Só que, também neste sentido, a declaração de PTP é falsa e induz em erro de um modo pouco compreensível em alguém que gosta de se apresentar como rigoroso nas suas análises. O facto de, a partir do presente, o tempo de serviço docente ser contado tal como foi desempenhado, é quase o antónimo do sentido referido de “retroactivo” como algo que altera o passado. Em nenhum momento se pretende alterar esse passado, os anos de “congelamento” não podem ser alterados, aconteceram, produziram os seus efeitos entre 29 de Agosto de 2005 e 31 de Dezembro de 2007 e entre 1 de Janeiro de 2011 e 31 de Dezembro de 2017. Os professores não progrediram no tempo certo, anos afio, apesar de se afirmar que eram medidas “transitórias”. As perdas materiais aconteceram, assim como as simbólicas. Durante anos, um estatuto de carreira em vigor foi suspenso pelo mesmo governo que o aprovou. Pior, foi aprovado durante a primeira fase desse “congelamento” e só produziu efeitos durante 3 anos desde então, duração inferior à de 9 dos seus 10 escalões.

O que PTP afirma é uma falsidade, seja qual for a acepção que adoptemos, como nome ou adjectivo, sendo ridículos os contorcionismos linguísticos usados para dar a entender que se pretende mudar o passado, como o actual PM tem tentado fazer acreditar. O passado aconteceu. As perdas aconteceram. Não se pede nada do que foi perdido ou uma indemnização pelos danos causados.

É uma pena, mas não uma surpresa, que os “factos alternativos” façam escola no nosso Parlamento.

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O Ódio do Primeiro Anão Aos Professores É Apenas Proporcional À Sua Completa Falta De Rigor

Já sei que devo dar escassa trela aos escribas do regime, em especial aos que escrevem sem qualquer controlo de qualidade apenas porque o patrão deve ter uma dívida de gratidão eterna a alguém. Para mim é a única explicação para que ele possa continuar a errar semana após semana nos detalhes mais simples das suas diatribes. Dir-me-ão que um detalhe não invalida um argumento… depende… se o homem erra de forma consistente e recorrente o que critica, quem me diz que esteja sequer em condições de desenvolver um raciocínio de forma lógica?

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Expresso, 1 de Dezembro de 2018

Repare-se que ele escreve que “Andamos há meses sem fio a vê-los com o dístico”. Este dístico:

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É que o que a cabecinha do primeiro anão pensa tem apenas uma vaga relação (acertou nos anos, nada mau) com a realidade. Ou seja, o primeiro anão produz “factos alternativos” como se fosse verdade. Ou pós-verdade. Como a dos 600 milhões… mas essa vem de fontes “oficiais”, certificadas na manipulação de um despesa sem receitas, que depois economistas de 3ª linha ampliam.

Siga para bingo, que já é o costume. Se o patrão acha que o trabalho está bem feito, quem sou eu para protestar? Limito-me a não comprar o Expresso para não contribuir nem com 1 cêntimo para o pagamento desta evidente falta de qualidade (e nem falemos da demagogia chorosa com os “civis”).