… irei escrevendo o que penso, sem grande preocupação com as amizades que perco ou deixo de fazer. Amanhã, no JL/Educação, comento, a contra-corrente da maioria de quem lá escreverá, o Estado da Educação 2017 no que se refere a uma muito querida tese no CNE relacionada com a reforma dos ciclos de escolaridade, assim como a insistência no sucesso a qualquer baixo custo.
Termina assim:
A forma como [se] associa a retenção dos alunos a um fenómeno de injustiça social ou a uma concepção “antiquada” de escola é redutora e não se fundamenta numa análise clara dos factores que conduzem a muitas dessas retenções, como que invertendo o “ónus da prova”. A responsabilidade é atribuída apenas às “escolas”, como se os alunos fossem passivos e não tivessem um papel activo no seu próprio sucesso. Falta um estudo que preencha o abismo enorme que existe entre a análise estatística e a que envereda pela mera análise de conteúdos das opiniões de alguns dos envolvidos no processo. A representação estatística do insucesso, associada à crítica de tipo moralista, esquece que em muitos casos os alunos e respectivas famílias nada fazem, por politicamente incorrecto ou incómodo que seja afirmá-lo, pelo seu próprio sucesso, não colaborando com tudo o que as “escolas” fazem – e é muito – para superar as suas dificuldades. As “escolas” não podem colocar um pequeno-almoço ou jantar na mesa a horas a todos os alunos ou transmitir-lhes a importância de um capital educativo que não seja apenas uma ilusão certificadora. Confesso-me cansado de teorias que afirmam que o “insucesso” é sempre culpa de uns e nunca de outros. Percebo a demanda utópica, a crença na bondade natural dos indivíduos, o “sonho” de querer provar uma tese, mas devo afirmar com clareza que parte dessas teses padece de equívocos graves, por bem-intencionadas que sejam. E acabam por ser, de uma forma perversa, injustas. Porque ao indiferenciarem a forma de chegar ao sucesso, ao quase culpabilizarem os alunos que querem mesmo desenvolver aprendizagens e serem melhores, estão a padronizar o sistema pelo maior denominador comum. Quando o sucesso é o que todos conseguem, qual o estímulo para se ir mais além?