Não sou dos que acham que todas as aulas podem ou devem ser perfeitas ou a roçar a imaculada qualidade de uma série educativa da bbc. Mas é claro que me irrita quando se percebe que o objectivo é dinamitar tudo aquilo e fazer com que o tempo passado naquelas quatro paredes não passa de um duelo de vontades. A minha contra a de 20, 25 ou 28. Há dias em que fico satisfeito com um empate. Há turmas que são um desafio permanente, em que uma aula que corre bem até nos pode dar a ilusão da segurança e de ter conseguido até à próxima em que o corpo a corpo nos arranca quase toda a energia. Não gosto muito de particularizar o presente, por razões menos óbvias do que aquelas da privacidade. Mais o facto de ser indispensável um pacto de confiança, não escrito ou falado, mesmo nos casos mais desesperantes. Uma das minhas turmas é daquelas que ficará em qualquer galeria de memórias que venha a fazer, mesmo que passe mais 30 anos nisto. Esta semana, por fim, tive a sensação de que foi percebida a mensagem básica da necessidade do respeito mútuo entre seres humanos e dos seus respectivos papéis. Não pela imposição, não pela negociação, mas pela desejável compreensão. Senti que, quase pela primeira vez, mesmo se o assunto não era do seu máximo interesse – a geografia da Hélade e a economia da península balcânica há mais de 2500 anos (sim, eu sei, as “aprendizagens essenciais” passam ao lado disso tudo) – a turma, enquanto conjunto muito heterogéneo de desvairadas gentes, me decidiu tratar com o que posso designar como cortesia e seguir a aula com aquela atenção mínima exigível e o trato indispensável entre si ao nível da civilidade inter-pares. E pareceu algo sustentável, como agora se diz para muitos fenómenos.
Foram quase três meses.
Respirei fundo quando a aula terminou.
Só falta o resto.