A criação da disciplina de Cidadania e Desenvolvimento é daquelas medidas que parece muito béééém às pessoas muito béééém, muito dentro do seu tempo e da construção dum século XXI fraterno, solidário e humanista, que acham que a sua visão do mundo e da democracia é a única válida, por muito que seja completamente distópica.
No enquadramento oficial da disciplina pode ler-se que:
Visando a construção sólida da formação humanística dos alunos, para que assumam a sua cidadania garantindo o respeito pelos valores democráticos básicos e pelos direitos humanos, tanto a nível individual como social, a educação constitui-se como uma ferramenta vital. Deste modo, na Cidadania e Desenvolvimento (CD) os professores têm como missão preparar os alunos para a vida, para serem cidadãos democráticos, participativos e humanistas, numa época de diversidade social e cultural crescente, no sentido de promover a tolerância e a não discriminação, bem como de suprimir os radicalismos violentos.
Se bem percebem, a disciplina é uma “missão” dos professores (nos nossos tempos há que relembrar que o uso do masculino é redutor, em especial numa profissão tão feminina, mas quem escreveu isto não deve ter ido a nenhuma formação com aquele miúdo tããão esperto do Bloco sobre igualdade de géneros e bonés), mas é de uma grande ambição em relação aos alunos.
O primeiro problema é que, embora prevendo a avaliação da “componente CD”, conforme se pode ler no mesmo documento, não terá ocorrido ao legislador e aos seus operacionalizadores teóricos que a mesma entra nas contas para a retenção/transição dos alunos.
A avaliação interna das aprendizagens no âmbito da componente de CD, à semelhança das restantes disciplinas, é da responsabilidade dos professores e dos órgãos de administração e gestão, de coordenação e supervisão pedagógica da escola, a quem competirá os procedimentos adequados a cada um dos modos de organização e funcionamento da referida componente.
Tendo em conta as características desta componente, a avaliação deverá ter lugar de forma contínua e sistemática, adaptada aos avaliados, às atividades e aos contextos em que ocorre. Assim, as formas de recolha de informação deverão ser diversificadas e devem ser utilizadas diferentes técnicas e instrumentos de avaliação, valorizando o desenvolvimento das atividades.
O segundo problema é que tão doutos legisladores e teorizadores apenas ignoraram que a natureza humana, em particular a rebeldia natural e tão apreciada nos jovens (com destaque para os delegados do Bloco desde os 15 anos), faz com que a “componente CD” nem sempre tenha sido verdadeiramente entendida, em especial quando servida em 45 minutos semanais ou 90 (se for em fatia semestral), confundindo-se com a velha “Educação para a Cidadania” ou “Formação Cívica” que tinha nota mas sem efeitos na transição. E, por muito “humanistas” que @s professor@s sejam, não conseguem em 10 aulas num período, alterar uma situação que, em algumas turmas, é de absoluta descontracção e total desinteresse por nacos de prosa como o seguinte:
A componente de Cidadania e Desenvolvimento visa contribuir para o desenvolvimento de atitudes e comportamentos, de diálogo e no respeito pelos outros, alicerçando modos de estar em sociedade que tenham como referência os direitos humanos, nomeadamente os valores da igualdade, da democracia e da justiça social.
Consequências:
- Ou a “componente CD” deixa de ter classificação a contar para a transição e consta-me que já há por aí emissários de tão ditosa nova.
- Ou a pressão para garantirem sucesso por portaria/despacho/nota informativa será brutal sobre @s professor@s da “componente” e serão fustigad@s até entrarem no verdadeiro espírito da coisa tod@s aquel@s que revelarem excesso de autonomia e escassez da flexibilidade adequada.
Vamos a uma aposta?

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