João Ferreira (PCP) na Sic Notícias, com ar algo compungido, explana o guião do PCP acerca da greve dos enfermeiros (é confirmar na gravação): há causas justas para lutar, reclamações que devem ser ouvidas, mas essa luta não deve ser feita prejudicando o SNS. Como já se percebeu que o crowdfunding não tinha esqueletos escondidos, agora avança-se para o facto de a greve “cirúrgica” poder estar a ser manipulada pelos privados, que assim ganham com as cirurgias deslocadas para os seus serviços, mas sem que João Ferreira adiante números sobre tal transferência.
Já se percebeu, greves na área da Saúde só se não colocarem o SNS em causa, ou seja, apenas se forem feitas de modo que os grevistas percam dinheiro e o patrão-Estado não seja colocado em causa. Reparem como a lógica é perfeitamente similar à de outros quadrantes:
Extrapolando para a Educação, fazer uma greve às avaliações, no terceiro período ou ao 12º ano será algo prejudicial para a Escola Pública, mesmo em fundo de greve, porque isso poderá desvalorizá-la e fazer com que as famílias desloquem os seus alunos para o ensino privado, para evitarem as consequências de tal greve. Em coerência, o PCP deve contrariar qualquer greve de professores ou pessoal das escolas que coloque a Escola Pública em risco, pois isso poderá ser uma manipulação dos interesses privados, ávidos de mais alunos.
No meu caso, acho que mais greves que só servem para os professores perderem dinheiro e deixá-lo nos cofres do Estado, é um modelo de sindicalismo em forma de martírio que nos deixa no século XIX, quiçá no século XX, mas recusando qualquer renovação bem dentro do século XXI. Os deuses da ortodoxia nos livrem de se ameaçar a estabilidade da geringonça com formas “surpreendentes” de greve. Tenham isso em conta quando forem “consultados”. Porque a defesa da Escola Pública estará sempre à frente do “corporativismo” de uma classe docente vista como privilegiada, mesmo por quem diz defendê-la.