A próxima reunião à mesa das “negociações” está marcada para 4 de Março.
Dia: 27 de Fevereiro, 2019
Um Almoço Pleno De Hipocrisia
Por acidente, ligo por vezes o rádio na TSF quando estão por lá algumas das criaturas políticas que mais me arrepiam os neurónios. O programa de hoje voltou a juntar o ex-senhor feudal Carlos César com o vice laranjinha e ex-ministro interrompido da Educação David Justino, cada um deles com uma faceta de uma insuportável hipocrisia em relação à questão do tempo de serviço dos professores, simulando uma diferença de opiniões que não existe, sendo que cada um diz o que a cartilha do momento lhe aconselha, por questões de táctica política.
David Justino tem a obrigação de saber que o Parlamento é o centro do poder legislativo e que o que afirmou no programa (Qualquer solução para os professores saída da Assembleia “arrisca-se a ser inconstitucional”) é um completo disparate e tanto mais grave em alguém que gosta de apontar imprecisões bem menores a outros. Gostava de saber onde estava David Justino quando em outros tempos o PSD alinhou em interferências bem mais evidentes nas competências do poder executivo (o chumbo do PEC IV foi o quê? não está em causa a bondade, mas a questão formal… mas esse é apenas um exemplo entre muitos possíveis). O PSD e o próprio Justino têm nesta matéria dito quase tudo e o seu contrário, porque querem ganhar votos, mas sem se comprometerem seja com o que for. Talvez gente muito distraída vá na conversa, mas – repito com todas as letras – o Parlamento é a sede do poder legislativo e o Executivo responde perante o Parlamento e não o contrário.
Quanto a Carlos César foi de um desplante enorme ao afirmar que se o problema fossem só os professores, já tudo estaria resolvido. É absolutamente insuportável ouvir este senhor dizer “que o país não ia colapsar” se o Governo despendesse 490 milhões de euros para repor os nove anos, quatro meses e dois dias que os professores exigem, mas a resposta teria de ser a mesma para todas as classes ligadas à função pública que viram as suas carreiras congeladas.” Nem os valores são os que ele afirma, nem é aceitável que seja a mesma pessoa que, com outro interlocutor, no mesmo programa, há menos de ano e meio afirmasse que estava à espera de um acordo para breve.
Sim, se o país não colapsa com milhares de milhões a cada esquina para salvar bancos que nunca ficam salvos até nova injecção de capital, muito menos colapsaria se devolvesse aos professores o tempo que efectivamente trabalharam. O descrédito da classe política passa por aqui, por gente que passa por “senador” de uma República de que se apropriaram e na qual gozam de uma total impunidade, digam o que disserem, não façam o que não fizerem.
Um afirma que é “inconstitucional” o Parlamento legislar. O outro que o problema são os polícias, os magistrados, etc, etc. Querem ser levados a sério? Acaso se levam a sério? Ou apenas dão palmadinhas nas costas um do outro, felizes com a convergência implícita. Isto não é cortesia argumentativa, é falta de decoro à vista de todos.
Uma Circular – Finalmente – Com Algum Sentido
A mais de um nível. Embora seja o mesmo ministério que não equipa as escolas e agrupamentos com o pessoal não docente indispensável.
Claro que não me admira que, na mesma peça, surja quem se preocupa mais em defender o seu domínio sobre o currículo do que em reivindicar condições físicas adequadas nas escolas para a prática da disciplina, discorde da medida. Porque fazer Educação Física em áreas sem quaisquer condições como sótãos, pavilhões ainda com amianto ou com o revestimento a dar as últimas ou fazer a miudagem do 5º ano sair em 10 minutos da escola para pavilhões a centenas de metros de distância e voltarem no intervalo não é problema que considerem relevante.
(já agora… era tão bonito que existisse coragem para se falar em certas práticas de avaliação no Secundário, agora que conta para a média e é preciso provar que há alunos que beneficiam disso… sendo naturalmente mais fácil que isso aconteça com os que pouco pescam do resto…)
Interessante
Working With Dually Classified Learners
A group of educators has developed an instructional model to support English language learners with special needs.
Andam A Sair Despachos
O 3-A/2019 é sobre o “Regulamento das provas de avaliação externa e das provas de equivalência à frequência dos ensinos básico e secundário”. Não sei se não será o último nestes moldes.
Isto é um “suponhamos”, claro.
A Velha Desigualdade Está De Boa Saúde (Embora Não Se Recomende)
Um mito piedoso dos tempos pós-modernos é que as desigualdades se atenuaram, na Educação ou mesmo no acesso à Cultura. Não é bem assim. Talvez todos nos tenhamos elevado um pouco, mas as diferenças permanecem. Claro que se estivermos uns minutos numa média ou grande superfície (numa boa e velha mercearia ainda se fazem contas no papel e pesos em balanças com escala) a observar as rotinas automatizadas de grande parte do pessoal e clientes percebemos que se a tecnologia falhar, fazer contas e trocos será para iluminados com a sapiência da aritmética básica e da tabuada. A escolaridade obrigatória foi feita ao pé coxinho ou de muletas e na altura ninguém se dava ao trabalho de pensar que o século XXI reservava uma nova proletarização da maior parte da mão-de-obra que agora não possui os “meios de produção”, nem sequer os rudimentos de saberes já de si rudimentares. A “transversalidade” fica-se pelo espírito crítico em relação ao futebol, aos casacos e amores do goucha e saias da cristina ou pela gritaria quando o petiz está perto (para ficar calado) ou longe (porque o obrigam a estar calado de vez em quando na escola).
Mas continuamos a ter as elites que se desvanecem em concertos da gulbenkian (os pagos, que aqueles à borla têm sempre alguns indesejáveis), em teatros por Paris ou em museus na Grande Maçã. Gente que se orgulha de saber o que acha desnecessário os outros saberem, que exibem isso como marca distintiva e diferenciadora, em tertúlias destras ou canhotas, nas quais se lamenta este triste destino de um Portugal sempre atrasado por causa de uma populaça que não aprende, nem mesmo quando tuquetuca estrangeiros de sandalinha pela capital e arredores mais vistosos. Alguns armam-se em eças e gostariam de ser ortigões ou fialhos, mas são apenas albuquerquezinhos, salcedes e palmascavalões ou, nos melhores dias, carvalhosas. Querem ser actores, autores mesmo, mas não passam de tipos, caricaturas do que já foi e ainda é, para azar nosso.
Não sei porquê, ocorreu-me isto quando esperava que me passassem meia dúzia de víveres enquanto uma dupla de jovens (um de cada género tradicional) em caixas contíguas tentava comunicar com gente lá de fora, inquirindo se queriam factura como number fiscal, assim mesmo que o Inglês desde a Primária do engenheiro fez escola e nos tornou quase todos poliglotas.
E prontesss… a criatividade fica-se pelo “bom dia” a qualquer hora porque, dizia o jovem caucasiano rastafari, “o dia não se parte e é sempre bom dia”. Com tamanha lição de vida, agarrei na minha corvina e numas batatitas daquelas rosadas, boas mesmo para quase tudo, e fui-me à minha vida, porque essa tem as suas partes e aquela já me estava a esgotar o pouco que sobrou de paciência da manhã, digo, do dia.
4ª Feira
A sério… ouvir logo pela manhã pedir “uma sandes mista, sem manteiga e com pouco fiambre e queijo” quase (quase) tira o apetite a uma pessoa.