Da Extrema Desonestidade Intelectual De Mário Ronaldo Centeno De Harvard Y Eurogrupo – 4

Ao longo do “esclarecimento” do Gabinete do ministro das Finanças fazem-se diversas afirmações, justificadas com números que parecem representar realidades indesmentíveis. Só que é preciso um esforço mínimo para se perceber que se baseiam em médias que misturam tudo para baralhar. Uma delas baseia-se no “facto” de em média as progressões dos professores implicarem um acréscimo salarial de 205 euros. E a partir daí faz-se a multiplicação por 100.000 professores. Vejamos os excertos do “esclarecimento” que tratam do assunto (páginas 2, 3 e 5)..

MF8

(…)

MF9

(…)

MF7

Como é habitual nestas circunstâncias, apenas um valor está certo, o resto é tudo uma enorme falsidade, construída com a aparência de rigor. O que está certo é o “aumento médio” de 205 euros, só que esse é um valor que não se aplica à maioria dos docentes. O cálculo foi feito sem a ponderação do número de indivíduos em cada escalão, dividindo apenas os valores da progressão nominal pelo número de escalões. O que está obviamente errado.

Mas são muito mais os “erros”, só com base nestes elementos. Como já acima escrevi, só cerca de 80% dos docentes estarão em condições de progredir dois escalões. Se o ganho bruto é de  410 euros, são simples as contas que destroem por completo qualquer valor muito acima dos 300 milhões  de euros adicionais até 2023.

É possível desmontar o “truque” com maior detalhe apenas com recurso aos números do próprio ministério das Finanças. Aquilo que, estranhamente, nem partidos, nem sindicatos fazem.

Eis a tabela que sintetiza os dados do “esclarecimento” com um tratamento estatístico de “amador” ignorante e corporativo em poucos minutos.

MF10

Vejamos as coisas de forma abreviada:

  1. 55% dos docentes encontram-se posicionados até ao 4º escalão (que tem quotas para progressão) e nesse caso – em termos ilíquidos – a progressão média é de 154,59 euros. Dois escalões significariam um aumento médio bruto perto dos 310 euros e não dos 410 (quase 25% menos do que os dados obtidos com a “média”).
  2. 71% dos docentes estão posicionados até ao 6º escalão (outro com quotas de progressão) e nesse caso o aumento salarial médio é de 141,86 euros, o que significa perto de 284 euros para duas progressões. O desvio em relação ao cálculo do MF é superior a 30%.
  3. O valor “médio” de 205 euros por progressão só é conseguido quando se contabilizam os 4 escalões superiores da carreira, a que só se acede ultrapassando dois patamares de quotas, sendo que, como já repeti, no 9º só é possível uma progressão e no 10º nenhuma. O máximo de docentes que poderão ter duas progressões nos termos apresentados pelo “esclarecimento” é de 81% e mesmo nesse caso, em média, a progressão seria de 344 euros ilíquidos e não de 410.
  4. Claro que as contas a sério teriam de ser feitas de outra forma, multiplicando o valor real das progressões em cada situação pelo número de docentes em cada escalão específico. Todas “contas” e totais apresentados por Centeno de Harvard y Eurogrupo na Comissão de Educação do Parlamento estão contaminados por estes erros básicos (mas voluntários) de cálculo que visam apenas enganar quem olha para eles sem a devida crítica. Os valores reais, mesmo em bruto, são muito inferiores aos apresentados e, se for considerada a “receita” directa, a diferença torna-se “colossal”.
  5. Mário Ronaldo Centeno de Harvard y Eurogrupo ou mentiu deliberadamente no Parlamento e perante a opinião pública ou então é mesmo muito incompetente em termos técnicos.

 

10 opiniões sobre “Da Extrema Desonestidade Intelectual De Mário Ronaldo Centeno De Harvard Y Eurogrupo – 4

  1. Estes posts mereciam destaque na imprensa nacional. O trabalho de análise do Paulo é extraordinário. É serviço público, pela reposição da verdade, pela dignificação da nossa classe.

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  2. O Paulo faz um trabalho excecional, por favor, PUBLIQUE-O. O problema neste país é que há demasiada gente que quer a todo o custo acreditar nesta geringonça e há demasiada gente que depende desta geringonça. Foi aqui que chegamos.

    Assim se conclui que não temos sindicatos dignos.
    Assim se conclui que não temos meios de comunicação dignos.
    Assim se conclui que não temos governo digno.
    Assim se conclui que não temos oposição digna.

    Mas, se dos partidos políticas já estamos à espera, pois sabemos dos interesses de cada um deles, as minhas grandes preocupações dividem-se em dois pilares da nossa democracia que estão mesmo no fundo do poço:

    Os sindicatos que o deixaram de ser para se tornarem o braço armado da geringonça
    Os meios de comunicação que deviam esclarecer o país e não o fazem.

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  3. Espero que os jornalistas e comentadores leiam este trabalho do Paulo. A desonestidade intelectual deveria ter limites neste país.
    Mil vezes obrigada

    Replicando o colega Maurício: Ah, Viriato!

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  4. Excelente!!!!

    Como duvido da incompetência, resta a Mentira.
    Chamá-los ao parlamento é, tão só, mais do mesmo: o FAZ DE CONTA!
    Que isto dos interesses, nomeadamente nesta matéria, andam mais alinhados que nunca. Importante é fingir trabalho,
    fingir transparência e fingir democracia!

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  5. Oh Paulo, manda isto para HARVARD E PARA O EUROGRUPO.
    Para os primeiro saber quem por lá andou e credenciaram com um diploma ( com letra pequena…) Deve valer tanto como o do sócrates. Se calhar foi ao fim de semana…!!!!!?? Harvard para mim perdeu credibilidade!
    Para os segundos ficarem a conhecer a competência técnica do artista… e as artes e habilidades do malabarista manhoso e como dizes: “intelectualmente pouco honesto”. Isto já bateu no fundo mas vai voltar a bater com mais força.Porca vida! Não param de chafurdar!!!!

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  6. Sei que raramente aqui comento, mas sei também que sou um leitor assíduo.

    Mas faço um humilde (arrojado e pesado) pedido de que faça um documento com tudo, mas tudo mas mesmo tudo, rebatido ponto por ponto, linha a linha, palavra a palavra….

    Disponibilize esse mesmo documento a todos.

    Que cada um faço o seu trabalho, por email, por carta, por postal, por sinais de fumo, por telegrama, por aerograma, faça chegar esse documento a todos os jornalistas, redações, deputados, ministros, presidentes, eurodeputados, sindicatos, comentadores, etc

    Se cada um de nós enviar um email e uma carta para cada um destes locais a exigir explicações, a mostrar a mentira, a vergonha o ultraje do que se está a passar…

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    1. Subscrevo! É um trabalho demasiado importante, que não deve ficar confinado ao blogue, por muito grande que seja a sua projeção.

      Paulo, muito obrigado!

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