Agora Que Já Li O Texto Todo Do Pacheco Pereira, Subscrevo 99,9%

Em especial esta parte que ando a repetir há uns anos, sem grandes resultados, porque, lá está, sou um zeco alegadamente má língua, incapaz de ver como o futuro se parece com o passado.

Por fim, e o mais importante, há uma desvalorização do papel do professor, de ensinar, de transmitir um saber. Vem num pacote sinistro que inclui o falso igualitarismo nas redes sociais, o ataque à hierarquia do saber, o desprezo pelo conhecimento profissional resultado de muito trabalho a favor de frases avulsas, com erros e asneiras, sem sequer se conhecer aquilo de que se fala. É o que leva Trump a dizer que se combatia o incêndio
de Notre-Dame com aviões-tanques atirando toneladas de água, cujo resultado seria derrubar o que veio a escapar, paredes, vitrais, obras de arte. É destas “bocas” que pululam nas redes sociais que nasce também a hostilidade aos professores. É o ascenso da nova ignorância arrogante, um sinal muito preocupante para o nosso futuro.

E é muito grave que essa desvalorização tenha um dos seus epicentros exactamente no ministério da Educação e que existam governantes que definam como “professores do futuro” aqueles que alinham na sua própria desqualificação. Achando que é recompensa o selo de asnos com que acabam por se passear por aí.

Burro2

Be Afraid…

… porque entrámos numa espécie de ambiente típico de seitas religiosas. Só que que se trata de Educação e alguns dos sacerdotes são incrivelmente ineptos, para mão dizer estúpidos.

Passei por um conjunto de conferências viradas para o futuro da educação que decorre perto da minha localização. Quando entrei, o conferencista dizia: “a avaliação formativa e sumativa deve ser acompanhada por um texto descritivo. Com o excel automatizam-se as grelhas (o descritivo corresponde à inserção de um dado numérico)”. Compreendo todas as apreensões com o futuro.

Só pela situação se percebe a mediocridade dos conhecimentos do “conferencista”, embora esteja ao nível da larga maioria do nicho de “formadores” nestas matéria patrocinados pelo ME e seus secretários.

O problema é que, nas últimas semanas isto tem-se repetido a um ritmo quase diário por escolas e centros de formação do país na tentativa de deixar a reforma inscrita a reforma costista de forma indelével no nosso sistema de ensino.

E não vale a pena andarem em off a dizer que este ou aquele é só má língua e mau carácter, porque se fosse assim, muita coisa teria sido dita e escrita que não foi. Os mentirosos são os que lá estão. Pena é que não investiguem muito do que anda a acontecer nos bastidores, beneficiando do ruído da “luta” entretanto interrompida.

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Sábado

Chateia-me que mesmo quem apareça a defender os professores, sinta uma espécie de imperativo em colocar um “mas” ou em fazer um qualquer reserva inicial. É o caso de Pacheco Pereira que talvez pudesse perceber melhor que as nossas “muitas culpas” não serão assim tantas, sendo antes algumas e outras nem sequer nossas. A tradicional acusação em relação à avaliação mereceria uma análise mais “fina” quanto ao que existe, ao que poderia existir e ao que, nas condições que temos, é impossível existir.

Os professores têm muitas culpas, deveriam aceitar uma mais rigorosa avaliação profissional, mas isso não esconde que têm hoje uma das mais difíceis profissões que existe. E que, sem ela, caminhamos para o mundo de Camilo.

Burnout