Ou quase.
Um amigo disse-me que eu não iria resistir a comentar a última prosa do SE Costa, desta vez no Observador com o inebriante e apelativo título de “Apontamentos sobre o facilitismo”. O texto em si é mais um subproduto da cartilha que o SE Costa (não confundir com o EE Costa) anda a espalhar por todo o país num espírito de missionação (mas não de martírio) que fica sempre bem a uma esquerda de inspiração católica. O que desperta pouca inspiração analítica a quem já leu isto há décadas e décadas, numa espécie de ladaínha de fundo. E o destaque é logo daqueles que nos deixa esmagados, porque, afinal, é a escola a “única esperança de mobilidade social para muitos”, desresponsabilizando logo tudo o que lhe fica a montante e a jusante.
Não é justo que a escola, que é a única esperança de mobilidade social para muitos, em vez de eliminar as assimetrias sociais à entrada, as reproduza ou, por vezes, as acentue.
O que a mim não parece justo é que quem deveria ter a obrigação de esclarecer a opinião pública, a mistifique de forma voluntária. Ou seja, que descreva fielmente a realidade que promove, para depois dizer que não é nada disso que se pretende. Ora… se há coisa que sabemos em relação a esta geração de políticos é que para eles as palavras perderam significado e são meros artifícios para servirem a mentira como facto. Ou, nesta modalidade habilidosa, os factos como se fossem mentiras, parecendo que aquilo que é, não é, nem deveria ser. Mas, infelizmente, o que parece é. E só não é com muito esforço e muita energia gasta a combater a pós-verdade.
O medo dos arautos do facilitismo é simples de entender. Baseia-se na ideia de que a alternativa a reprovar é passar. Isto transforma o ato educativo num ato administrativo. Transforma a passagem de ano num mero exercício estatístico, em que se confunde o resultado com o que deve gerar esse resultado. Parte do princípio de que promover o sucesso é espoletar passagens administrativas independentemente do que os alunos aprendem. A ser assim, estaríamos perante uma fraude em que todos nos enganávamos uns aos outros. Os alunos eram defraudados porque não estariam a aprender. Os professores defraudados por se estar perante uma legitimação de uma perversão do seu trabalho. Costumo dizer que, se Portugal um dia acordar com 0% de insucesso, mas os alunos não tiverem aprendido nada, falhamos duplamente. Porque a sua avaliação foi adulterada e porque não aprenderam.

(eu costumo dizer que se um dia acordar com 0% de treta na conversa de secretários de Estado, é porque, afinal, não acordei)
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