Domingo

Se existe algo evidente e dificilmente contestável é que grande parte das reformas que nos últimos 25 anos nos foram apresentadas como incontornáveis e essenciais para a nossa modernização falharam ou ficaram muito aquém do desejável. As queixas de meados dos anos 90 continuam a ouvir-se, os mesmos lamentos, as mesmas ladaínhas por parte de muitos dos que tiveram responsabilidades governativas ou no chamado “tecido empresarial do país”, incluindo ainda aquela espécie curiosa que se dá pelo nome de “economistas” ou, ainda mais curiosa, a sub-espécie dos “analistas económicos”.

Pata além de erradas ou desadequadas, muitas das medidas tomadas, muito do ambiente vivido, foi em alegre compadrio, nepotismo e cleptocracia de Estado do 2º mundo (não tão desenvergonhada como a do 3º, mas muito longe dos mecanismos das sociedade mais civilizadas). Como em todos os países pobres a que chega subitamente dinheiro para o “desenvolvimento” é muito substancial a parcela que fica em quem decide ou ajuda a decidir ou intercede por quem precisa. Quem precisa, raramente recebe a tempo e horas e quase sempre é com base em algum esquema de amigo, conhecido ou empresa prestável que leva muitos por cento do que se consegue.

Uma das poucas reformas que tem sido travado ou desacelerada nas últimas décadas é da regionalização, ligada aos chavões demagógicos da descentralização e da gestão de proximidade. Travada e desacelerada, mas não parado, avançando de forma subreptícia através da formação de associações de municípios ou mais recentemente através da municipalização de serviços públicos fulcrais como a Saúde ou a Educação. E quem se opõe é porque é arcaico, centralista, estalinista, muitos istas. Claro que se poderia referir que a tradição municipalista (recorramos a Paulo Merêa e Marcelo Caetano) é medieval entre nós, pelo que pré-moderna. tendo o Liberalismo oitocentista procurado eliminar exactamente os resquícios que permaneciam de práticas arcaicas desse tipo, tidas por incompatíveis com a modernidade.

Mas isso agora não interessa nada.

O que me interessa é notar como se vão empilhando os casos de corrupção e nepotismo de proximidade, sem sequer ser preciso evocar casos relativamente recentes nas maiores autarquias do país. Por todo o lado, quais cogumelos só necessitando de investigação devidamente direccionada pela comunicação social ou autoridades judiciais, surgem casos e mais casos, quase sempre associados aos partidos mais próximos do poder e, ao que parece, aos que afirmam ter o adn contrário. Em dois anos, 15 casos de suspeitas. A maioria em autarquias do PS. Mas também há casos recentes ligados ao CDS. Ou abrangendo o Grande Centrão. E há, claro, o caso mais mediático de Pedrógão Grande. Os valentins, avelinos e felgueiras deixaram larga descendência e há mesmo isaltimos de volta.

Não serão estas casos a regra, dizem alguns. Mas começam a ser muitos para serem apenas excepções. Quando temos dezenas de casos, mesmo que em alguns só exista fumo, é porque haverá algures fogo. E quantos são os que são conhecidos por quem lá vive e e se sabe não serem investigados?

A entrega da gestão da Saúde e da Educação, à sombra de verbas do Portugal 2020 é um erro, como outros erros existiram no passado. Quando isso for evidente, existirão investigações, descobrir-se-ão casos, serão tecidos lamentos, poucos serão responsabilizados, muito menos criminalmente até ao fim. Não é que a História esteja condenada a repetir-se… a natureza humana e de boa parte da nossa classe política é que é o que é e não mais do que consegue ser.

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