… seria que quem defende a gratuitidade e reutilização dos manuais também considerasse errada a cobrança de dinheiro, por pouco que seja, por folhas que devem ter obrigatoriamente o carimbo da escola/agrupamento para serem feitas as respostas a testes cujos enunciados se encolhem (sem linhas/espaço para os alunos responderem) para poupar fotocópias. Ainda mais patético quando quem dirige tais “unidades de gestão” enfileira na doutrina flexível do fim dos testes, dos exames, das avaliações, dos rankings e de tudo isso. E são pessoas, em alguns casos, bem próximos de um certo governante muito civilizado para o exterior.
Dia: 4 de Julho, 2019
Alentejo 2020
Concordo sem reservas que as zonas mais desfavorecidas devem ter um tratamento preferencial na distribuição de verbas (comparticipação de verbas europeias entre 77% e 85%). Embora não seja já o bastião de outrora, ainda boa parte do Alentejo é vermelha. Talvez seja essa uma das razões da real politik do PCP com a geringonça, porque assim sempre se acede com mais facilidade aos dinheirinhos da União Europeia de que se se dizia que não deveríamos fazer parte. Aqui estão os projectos aprovados até 31 de Março deste ano. A tabela em excel fica aqui: 2020ALENTEJO projetos_aprovados_31MAR2019.
No âmbito dos “TEIP, PIEF, Mais Sucesso” há 18 projetos a custarem mais 16,6 M€ (14,1 de comparticipação). O projecto que leva mais dinheiro (mais de 2 milhões de euros) apresenta a seguinte fundamentação:
Esta operação pretende dar uma resposta global às diferentes problemáticas identificadas na fusão de diferentes diagnósticos efetuados, promovendo assim, os valores de Identidade, Qualidade, Autonomia, Inovação, Participação e Cidadania, pilares fundamentais a uma Escola que se identifica como um Movimento de vontades no prosseguimento de objetivos Nobres comuns, recusando o elitismo e rompendo os seus próprios muros.
Caramba… que naco de prosa.
E depois há os PICIS, 37 deles, 34 de municípios e 3 de Comunidades Intermunicipais, que levam um valor unitário mais baixo, mas mesmo assim são 17,1 M€ (14,5 em comparticipações). A fundamentação parece ter sido fotocopiada. Há conco municípios que apresentam a mesma:
Esta operação materializa o contributo específico que o Município de […], de forma complementar e articulada com a ação do Agrupamento de Escolas, se propõe desenvolver com vista a promover a igualdade no acesso ao ensino, a melhoria do sucesso educativo dos alunos e a qualidade e eficiência do sistema de educação a nível local.
Mas a minha descrição favorita é a de outros cinco que optam por outro prato da ementa:
O Município de […] decidiu apostar no desenvolvimento de uma abordagem de intervenção sistémica e holística do aluno e da problemática do insucesso e abandono escolar.Foi assim delineado um plano integrado de combate ao insucesso que integra a estruturação de uma equipa multidisciplinar e promove o desenvolvimento de novas metodologias e conteúdos pedagógicos,bem como a construção de uma ferramenta de monitorização de todo o meio escola
Como menções honrosas destaco:
É um projeto com profundidade e densidade pedagógica que envolve todos os atores num mesmo desígnio: a promoção do sucesso escolar como base num “território educador” que tem como ideia mobilizadora “uma adaptação emergente e uma mitigação do desperdício com vista à vitalidade do futuro”. (Odemira)
Esta candidatura, de âmbito social, visa tirar partido das sinergias existentes na comunidade como instrumento de prevenção ao abandono escolar e promoção do sucesso educativo; estruturando-se ações em domínios do conhecimento que são cruciais para a integridade dos indivíduos. Pretende-se um amplo envolvimento comunitário em torno deste projeto no qual a componente de territorialidade é determinante para implementação e sucesso da iniciativa. (Castelo de Vide)
O projecto consiste numa intervenção multifacetada tendente ao desenvolvimento de práticas socializadoras, identitárias e potenciadoras do desenvolvimento pessoal das crianças e jovens, que contribuam para a redução do insucesso e abandono escolar, melhorando as questões da disciplina em contexto escolar. (Beja)
Um “Avanço Civilizacional”…
… seria todas as famílias terem condições para comprarem os manuais para os seus filhos e poderem ficar com eles para memória futura. Lá em casa ninguém era doutorado acima da 4ª classe mas ensinaram-me a estimar os livros e a guardá-los, como os meus pais guardaram os seus.
Já agora, quando for tudo com tablets, nas “salas do século XXI”, também será tudo para devolver?
5ª Feira
Leio, maravilhado, que nas escolas com “semestres” os alunos estão mais motivados e até mais disciplinados. Depois, lendo melhor a notícia, percebe-se que são os alunos apenas de um concelho e que, como é natural, não se lançam estas coisas cá para fora sem ser como exemplo da bondade da medida. Em outras escolas, apenas algumas turmas foram envolvidas e, claro, o que existe é uma “perceção” e não um qualquer estudo a sério. Der qualquer modo, não duvido que qualquer estudo reforçasse esta “perceção”, nascida do esforço por encenar a inovação e o sucesso, porque o marketing educacional está aí em forma para justificar os milhões para os PIPP, os PICIS e tantas outras coisas com is de “inovação”.
Mas quem sabe é quem lá está, a aconselhar, a implementar, que nada me espanta ser um herdeiro dos tempos do guterrismo-benaventismo, a aplicar a nova visão… só faltando dizer que com três períodos até poderiam existir menos testes do que com semestres, apenas dependendo da forma como as coisas se fazem. O resto é algodão doce. Em tons de rosa, claro.