Os Centros De Explicações, Os Exames E As Desigualdades

Há mais uma notícia sobre o negócio em causa. Como é costume, não é bem o negócio que está em causa, mas sim a investida contra a existência dos exames. Se o interesse fosse o de ir além da espuma dos dias, talvez fosse interessante investigar quem dirige alguns desses centros e quem por lá tem responsabilidades. Talvez – isto é um suponhamos, claro – talvez se encontrassem alguns nomes interessantes que conhecemos (ou não) de outras paragens ligadas, por exemplo – outro suponhamos -, a centros de “inovação pedagógica”. Então os centros de “alto rendimento” agora parecem cerejas… são uns atrás dos outros. E quem os coordena? Quem angaria os “clientes”? Onde? Etc, etc, etc…

E acreditam mesmo que as “explicações” são só por causa dos “exames”? É porque não conhecem a realidade de muitas famílias para quem os centros de “explicações” são apenas uma das valências dos velhos atl em que se deixa a petizada até os pais (ou outros adultos responsáveis) conseguirem chegar a casa, cortesia da desregulação dos horários laborais.

Que só quem tem dinheiro é que consegue chegar aos melhores centros, aos de “alto rendimento”? Isso é como com os colégios… também só vai para os de topo quem tem 600-800 ou mais euros para gastar mensalmente. Mas o fim dos exames não vai alterar nada disso. Apenas deslocará coisa para um patamar acima. Ou acham que será com sucesso a 100% no 12º ano que as “desigualdades” desaparecerão?

É que os exames, apesar de tudo, ainda abrem espaço a mais do que apelidos e contas bancárias no acesso à Universidade, a menos que acreditemos que os “pobres” são todos naturalmente “burrinhos”. Podem dizer mal deles (dos exames), mas ainda servem para nivelar alguma coisa. Quando vencer a desregulação do acesso ao Ensino Superior, por via do fim da avaliação externa, é que irão ver como as “desigualdades” mordem a sério na entrada nas Universidades. Porque acreditam que esse acesso não irá depender do capital cultural e financeiro das famílias na mesma ou ainda mais?

O que está em causa não é nada isso… mas podemos fingir que sim. Era bom que as intenções fossem mesmo as de promover a igualdade de oportunidades. Mas não é. Pelo contrário, o resultado será a rigidificação de um sistema de castas (muito presente no nosso mundo académico de “topo”) que aceitará excepções. Só isso. Excepções.

Avestruz

 

Pelo Educare

Um dos textos que me deu mais gozo escrever nos últimos tempos.

O reino deles não é do nosso mundo

Ainda encontro textos que me transmitem a noção de que existem pessoas com os pés na Terra quando falam da Educação em Portugal na nossa comunicação social. Mas, a sensação geral quando assisto a debates com especialistas na matéria ou a declarações de alguns governantes é a de que eles são soberanos ou cortesãos de um reino que não pertence ao meu mundo e ao da generalidade dos professores que teimam em encarar a realidade sem filtragens ideológicas ou conveniências tácticas.

pg contradit