4ª Feira

Há uns dias o Paulo Prudêncio escrevia sobre o conceito de “grupo fechado” numa perspectiva ainda um pouco abstracta sobre a forma como na sociedade e nas escolas as cliques no poder tendem a enquistar-se, fechando-se sobre si mesmas na forma como tomam decisões. O tema é-me por demais sedutor, para não voltar a pegar nele e ir concretizando um pouco mais como o “grupo fechado” se tornou uma realidade que, na vida política ou escolar, marca a forma como os cidadãos (na sociedade) e professores comuns (nas escolas) se vão sentindo excluídos dos processos decisórios exactamente por quem exalta a “inclusão” fala muito em “afectos”.

Em relação à Educação, este mandato começou por uma espécie de pacto em que o “grupo fechado” até poderia passar por outra coisa, pois percebeu-se que o poder político cooptou boa parte da comunicação social como estratégia para controlar o fluxo de informação e reduzir interferências estranhas. A confluência de todo o centro-esquerda nessa estratégia conseguiu torná-la bastante eficaz e só mesmo com os incêndios e o caso de Tancos sofreu brechas significativas. No caso da Educação, o pacto foi bem costurado e sempre que foi colocado em causa, tivemos direito a respostas entre a agressividade e a vitimização, mas sempre procurando dar a entender que a Verdade Única era a do Poder. A isso penso voltar em outra altura com mais paciência do que hoje.

Quanto à vida nas escolas, a tempestade quase perfeita que no último ano concentrou o fracasso da recuperação do tempo de serviço (revelando como a adesão sindical à estratégia do “grupo fechado” foi um erro na perspectiva da maioria dos docentes) com os efeitos dos reposicionamentos resultantes das vinculações extraordinárias e agora do (não) faseamento da “bonificação” mitigada, levou a que fosse desaparecendo alguma da sonolência que se instalara sobre os procedimentos internos da avaliação docente e de transparência de outros processos, como a circulação da informação interna sobre essa mesma avaliação e seus efeitos. Para muita gente, foi um choque talvez maior do que a porta na cara de centeno&costa quanto aos 9-4-2. Percebeu-se que, afinal, muita coisa acontecera durante o congelamento que só agora com o degelo de tornou parcialmente perceptível. Percebeu-se que os “grupos fechados” por esse país fora tinham tomado decisões anos a fio sem grande controle externo, desde que seguissem, mais ou menos, as directrizes superiores. E os “grupos fechados” reservaram para si o pouco que houve de magras fatias de gelado à base de água e corantes. E passou a controlar a informação a nível local, como aconteceu a nível nacional, replicando a estratégia das cliques no poder, com honrosas excepções.

E agora há por aí uma revoada de invocações histriónicas diversas divindades quando se toma consciência de que as ultrapassagens resultantes da desregulação dos procedimentos e de decisões políticas e administrativas  altamente questionáveis existem mesmo, bem como os estrangulamentos na progressão na carreira são, no seu conjunto, ainda mais penalizadores do que na formulação inicial do mandato de Sócrates/MLR.

Não foi por falta de aviso. Mas há quem se tenha acomodado, há quem tenha confiado e ainda há quem se tenha aproveitado. Ess@s são @s que agora fingem não saber bem de nada e sacodem as mãos como se de nada consigo se tratasse. Mas perfilam-se para receber as condecorações a distribuir pelo “grupo fechado”.

As Medalhas do General2

10 opiniões sobre “4ª Feira

  1. Acordai, que já é tarde!
    Nada é irremediável, costuma dizer-se, mas estou plenamente convencido que esta trajectória não terá retorno. Nem o conserto será possível.
    As cercaduras dos “grupos fechados” excluem muitos (e bons; inúmeras vezes, os melhores).

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  2. Gostei muito. Muito da triste a realidade.

    Tal e qual ! …”Não foi por falta de aviso. Mas há quem se tenha acomodado, há quem tenha confiado e ainda há quem se tenha aproveitado. “…
    …” os estrangulamentos na progressão na carreira são, no seu conjunto, ainda mais penalizadores do que na formulação inicial do mandato de Sócrates/MLR.”…

    Até dói a alma !

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  3. E o papel do grande Nogas no meio disto tudo ?
    Recebia um rebuçadinho de fruta, cantava grande vitória e adiava para data / reunião posterior…
    Tentou negociar aquilo de que poderia vir a usufruir.
    É um fartote desta gentinha toda. É o que sinto e sempre senti.

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