Domingo

Leio com benevolência os primeiros textos na comunicação social contra o perigo de uma maioria absoluta do PS. Chegam tarde. Agora, como já escrevi, essa maioria se não acontecer, é possível com o apoio desta ou aquela bengala, que o próprio PS deseja ser o patusco mas perigoso PAN. Perigoso porque consegue sacar votos a gente que já nem sabe bem o que por aí anda a fazer na vida (tema a desenvolver, em outra altura, de forma pouco agradável para quem perceber que está a ser retratado na sua pseudo-mobilização cívica). Ou até pode ser um PSD a que a influência balsemânica deu como líder um idiota útil para a fase dos subsídios europeus, mas um idiota inútil e emproado como político a sério.

Mas quem agora começa a escrever sobre os perigos de um PS absoluto poderia fazer-nos o favor de explicar porque se calaram em outros momentos que poderiam ter limitado as hipóteses da tal maioria. Desde o início do mandato da geringonça, que eu admito ter apoiado, começou a notar-se uma espécie de “acordo de bastidores” com alguma comunicação social quanto à blindagem do que poderia ser notícia e o que poderia ser considerado “informação”. Seria interessante que quem sabe, explicasse porque, alegadamente em defesa da comunicação social “tradicional” contra o “populismo das redes sociais”, se colaborou numa política de representação da realidade e de confisco da verdade, com a aceitação de um uso da linguagem que deturpou com gravidade essa representação. Agarrando num ou outro exemplo de “excessos” das redes sociais produziu-se uma narrativa em que só a informação “oficial” deveria ser tida em conta. Não falo apenas da Educação (em que se percebeu com clareza durante 2 a 3 anos a forma como a blindagem da informação, com a colaboração consciente dos parceiros BE e PCP, funcionou como nunca aconteceu com Sócrates ou Passos Coelho), mas em quase todas as outras áreas da governação. Penso que só com o episódio de Tancos e com os incêndios de 2017 se assistiu a uma brecha nesse “acordo” e na colaboração pacífica entre governo, comunicação social (em geral) e a própria presidência que com os afectos e beijinhos funcionou como almofada dissuasora de de demasiadas coisas.

Eu gostava muito que a classe dos jornalistas, em especial de muitas direcções e chefias de redacção (não vale a pena ter esperança em “senadores da opinião” sentados confortavelmente nas suas avenças), dissesse o que sabe sobre esse período, em vez de agora aparecer a agitar perigos que ajudou a construir. Ou isso seria a sua sentença de “morte” profissional?

Já agora… também não adianta muito acreditar, agora, na bondade de gente que durante quase todo o mandato aceitou sem verdadeira oposição ou exercício de controlo democrático o regresso a um processo de manipulação do aparelho de Estado por parte de uma clique subsidiária da dos tempos do engenheiro, só que menos provinciana e, por isso mesmo, mais espalhafatosa nos sinais exteriores de abuso..

VerdadeTruth