Há pessoas que, cedendo às suas embirrações contra estes ou aqueles, isto ou aquilo, perdem a noção mais global do funcionamento de um sistema democrático e liberal. Sim, liberal, entendendo-se por isso a sua noção original de, mias do que respeitador, promotor das liberdades sociais e políticas dos cidadãos. Nunca me interessou muito a questão do salário específico dos motoristas ou a ocupação principal de um dos seus porta-vozes; pelo contrário, interessou-me muito a forma como este governo foi além de qualquer outro no passado recente (vou excluir umas coisas tipo ângelo correia quando era mai ou umas cavaquices) na limitação dos direitos laborais e numa visão para lá de maximalista do poder executivo nessa limitação. Há quem goste de depois distinguir estivadores de enfermeiros, professores de motoristas quanto à justeza das reivindicações, do tipo de vínculo laboral e outras especificidades, sem que eu perceba se é para disfarçar do resto ou mesmo por cegueira política. Porque se há especialidade nos governos do PS deste milénio é em abrir portas que depois acusa a “direita” de usar.
O ter em atenção esta especialidade ou especificidade na abertura de portas pode conduzi-lo a uma espécie de cegueira política (porque eu acho que o Paulo não está a disfarçar). Porquê?
Parece-me que os governos existem, na tradição liberal, para possibilitar que todos possamos usufruir dos nossos “direitos naturais”. Isso implica que a sua margem de acção é limitada pelas características do contrato que os legítima e estabelece. Parece-me, contudo, que se os direitos de alguém são postos em causa essa margem de acção deixa de estar tão limitada e há legitimidade para diminuir os direitos daqueles que criaram, num certo sentido, a situação.
Maximalista a visão? Dependerá das tais especificidades a que o Paulo não quer atender. Seguramente maximalista na esfera mediática e nas declarações para consumos diversos. Essa é, no entanto, uma questão diferente. Não significa que seja menos importante até porque as portas ficam, de facto, abertas.
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Ui, que cheiro bafiento!
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