Na vida real nem em 40… talvez em 44 e mesmo assim há quem nunca lá chegará, no presente ou no futuro mais ou menos próximo, cortesia de um sistema de quotas administrativas para a progressão. Sim, há quem tenha chegado ao mítico 10º escalão criado pelo engenheiro para atrair candidatos a “titulares”, mas esses foram os que escaparam aos garrotes na progressão. Não são “privilegiados”. Porque deveríamos ter todos essa possibilidade, mas ela nos foi roubada.
Rede Eurydice aponta Portugal como sendo o país que apresenta a maior disparidade salarial entre os professores no início e no topo da carreira: 116%, no 3º ciclo do básico. E são precisos 34 anos para que um docente consiga atingir o salário máximo.
Discutir este tipo de coisas tornou-se absolutamente surreal, porque estas “análises” se baseiam em dados “formais” que não correspondem ao que se passa efectivamente. E depois há coisas incompreensíveis… se o ECD é comum a todos os ciclos, porque se afirma que a disparidade é de “116% do 3º ciclo”? Não é em todos os ciclos?
Pensando bem… as coisas nem são bem assim. Se formos consultar as tabelas salariais para 2019, verifica-se que entre o 1º escalão (1 518,63€) e o 10º escalão (3 364,63€) existe uma diferença de 1846€, o que equivale a uma diferença de 121,6% (é possível que tenham usado a tabela de outro ano, mas nem vou verificar, não adianta). Mas esses são valores nominais. Os valores reais, líquidos, são outros. E a belíssima carga fiscal o que deixa mesmo nos bolsos d@s docentes?
Por exemplo… um@ docente não casad@, sem dependentes, no 1′ escalão, recebe em valor líquido 1 133,37€; no 10º escalão, na mesma situação, receberá 1 989,70€. São mais 856,33€. O que corresponde a um diferencial real de 75,5%.
Passemos para uma situação que se pode considerar até mais comum: um@ docente casad@, dois titulares, dois dependentes. No 1º escalão recebe, em termos líquidos, 1 174,37€; no 10º escalão, 2 006,70€. A diferença? 832,33€. O diferencial efectivo? 70.9%.
Já repararam na diferença entre o valor real e o valor “mediático” com chancela de instituições oficiais internacionais?
Vale a pena ainda tentar demonstrar e discutir isto? Com gente surda (políticos) ou que engole o que lhes é servido com aparência de seriedade “oficial” (comunicação social)? Cada vez menos… porque os preconceitos estão instalados, a preguiça ou a incapacidade analítica são a regra e um tipo já está cansado de andar a ensinar o bê-à-bá anos a fio. Porque, realmente, é “lamentável” ouvir a repetição de mentiras e ainda fazer boa cara.