E Podemos Esperar Deitados

Eu não diria que a indisciplina é “o” cancro escolar, até porque deriva de outras causas externas que metastizaram, mas o Alberto Veronesi tem toda a razão ao afirmar que “não há ninguém, nem social, nem politicamente que se solidarize com a causa e tome medidas para a erradicar das escolas!” E poderia acrescentar, sem receio de falhar muito, que cada vez é menor o apoio ou a solidariedade de proximidade.

Porque temos uma esquerda maioritariamente marcada por uma ideologia desresponsabilizadora e contemporizadora com o que acham ser “natural” ou, melhor ainda, “rebeldia” justificável contra a “Autoridade”. Há os mais velhos que, antes de irem estudar para boas universidades estrangeiras, ficaram traumatizados com a escola primária ou o Liceu e há os mais novos que já cresceram num certo clima de condescendência com a bandalheira e confundem isso com “liberdade”.

E porque temos uma direita que até se afirma muito disciplinadora mas que quando chega ao poder está mais interessada em redistribuir as fatias do orçamento para os grupos de interesses amigos e rapidamente esquecem outras promessas (caso notório de Crato, por exemplo, cuja prática nesta matéria negou em quase tudo o que afirmara publicamente anos a fio).

A indisciplina não pode ser erradicada por completo das escolas? Concordo, haverá sempre algo que assim pode ser classificado, mas pode ser prevenida ou tratada de uma forma muito mais eficaz do que com abordagens sociológicas confusas na fundamentação, psicologizantes de terceira categoria e politicamente embaraçadas com o facto de, afinal, todos serem “centenos” e ficar para a escola a missão de aplainar desigualdades que a estrutura económica não consegue reduzir (e nem quer) e o mercado laboral aumenta com a desregulação dos horários e precariedade dos vínculos contratuais.

A indisciplina – não apenas na sala de aula dirigida aos docentes, mas também aos colegas e ao próprio espaço escolar – não é uma inevitabilidade. Mas quase se torna assim quando quem tem o poder para alterar as coisas prefere embarcar nas fotos da moda e em teorizações “afectivas” de que ouviram falar, lhes parecem bem, mas seriam incapazes de fundamentar num debate a sério. Ou pior, quando quem tem esse poder de proximidade tem como primeira preocupação culpar @s professor@s (que só consideram ainda colegas, de forma oportunista e hipócrita em ocasiões seleccionadas) por quase tudo o que acontece de menos positivo, pois eles é que são “os adultos”. Talvez se tirassem o rabo do cadeirão e fossem dar uma aulinhas numa escola em que não soubessem do seu cargo talvez tivessem desagradáveis surpresas e mudassem logo a “perspectiva”.

manguito

2 opiniões sobre “E Podemos Esperar Deitados

  1. Caro Paulo

    Dizem que o alegado carácter permissivo ou desculpabilizante do chamado Estatuto do Aluno contribuirá, também, para a indisciplina? Que opina?

    Se acaso, fora da sala de aula ( no café, no cinema, na missa dominical ), a criatura adoptar os mesmos comportamentos “disruptivos”, pode invocar seu estatuto de aluno ou é imediatamente posto na ordem?

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  2. Paulo,
    Falo – te com total sinceridade .
    És um caso muito raro !
    Escreves no teu dia a dia posts cada vez melhores. Muitíssimo bem escritos , muitíssimo verdadeiros , muitíssimo actuais e sintéticos.
    És sem qualquer dúvida um caso muito raro . Assim ? Com esta frequência ?Deste modo ? Como dá cá aquela palha ?
    Paulo ,envio – te um grande abraço ,o meu obrigado e muitos , muitos parabéns que tanto mereces .

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