O Luís Braga Explica As Coisas…

num texto que está público no fbook e que me autorizou a reproduzir aqui.

A jornalista não leu bem os números e não percebe o efeito de diluição dos registos dos atos violentos nesse conceito de “ilícitos”. Por exemplo, na tabela inclui furtos que, por definição, são não violentos, mas ainda são “ocorrências de natureza criminal”. Em vez de agregados de números devia comparar entre anos categorias de crimes. Por exemplo, destes dados, publicados no jornal, pode concluir-se algo sobre a evolução das ofensas corporais e injúrias? E se for ver a fonte (como eu fui) encontraria um facto anómalo. Em 2017, um ano antes destes dados, no Relatório de segurança interna (Rasi) não há dados desagregados por crime, na página da violência escolar. Além disso, a jornalista não sabe claramente o que são cifras negras de criminalidade. Fala disso vagamente no texto, mas, no título tira-se conclusão contrária à observação que faz. Trabalhei 6 anos nesta área da monitorização de estatística de crimes e num serviço do MAI que participava no programa Escola Segura e, com essa experiência e a leitura dos RASI e destes números, concluiria que a criminalidade violenta registada é demasiado alta nas escolas (uns 2,5 atos em média ano por agrupamento) e que está, quando muito, estabilizada nesses valores e nunca a diminuir. E ainda há para analisar a evolução regional a que o Rasi dá acesso. Um estudo que podia valer a pena, pelo que diria sobre espaço urbano e zonas deprimidas e distinção entre área da GNR e PSP em registos. Além disso, criminalidade violenta é diferente de ocorrências de natureza criminal que é o conceito usado aqui. Hoje zanguei-me com o Público e apeteceu-me ir pedir devolução do dinheiro por me venderem um produto adulterado. Não quero acreditar que façam propaganda da “boa governação”, mas quase parece. E a ideia subtil de que levamos na cara porque estamos cansados é quase pornográfica.

Violino

Os Especialistas Instantâneos Em Obstetrícia E Ecografias Várias

Durante anos as coisas nem chegaram à superfície. Durante alguns dias foi assunto circunscrito à CMTV. Agora já toda a  gente fala e escreve sobre o assunto das ecografias à la minute de um médico muito específico, como se fosse ele o único a ter tal conduta. Até o bastonário da Ordem dos Médicos apareceu a pedir desculpa – olhando-nos lentes nos olhos, abandonando os seus característicos óculos e agora até diz – dias depois de afirmar que a Ordem não tivera conhecimento de nada (4º parágrafo), nem que o teria de ter – que por ele já tinha demitido uma série de gente. Vamos deixar-nos de hipocrisias, pois somos muitos os que conhecemos histórias deste tipo e em primeira mão. Há gente excelente e medíocre em todas as profissões, mesmo naquelas que necessitam de 17 ou 18 de média no acesso ao curso.

Cá por casa, conhecemos um excelente especialista (nem de propósito, o que foi escolhido para resolver a situação que está na génese de muita asneira) e um abrenúncio de bata que, nem por ter já falecido, deixarei de recordar sempre como uma besta quadrada que também só teve oportunidade de o ser uma vez na minha presença. Porque ficou a perceber que lá por ser “doutor-médico” não tinha o direito de ser estúpido e displicente. Da segunda vez, já sabia ter maneiras à mesa e até ensaiou cortesias, mas era tarde e por mim até dar-lhe um “boa tarde” era saliva gasta em excesso. Claro que o primeiro nos foi indicado por quem sabia diferenciar o trigo do joio. Quanto ao joio, conseguiu nunca ver aquilo que mesmo eu – gajo de História, logo com certa diminuição mental de acordo com a escala dos créditos académicos correntes – conseguia ver e lhe tinha sido assinalado pelo colega num exame anterior.

Se me queixei dele? Não, porque tudo acabou por se resolver sem necessidade da sua intervenção e também porque é certo e sabido que alguns dos maiores incompetentes são aqueles que mais protegidos são pelas mecanismos efectivamente “corporativos”, arrastando-se as coisas até aparecerem nas televisões.

Voltando ao que interessa: era bom que o senhor bastonário da Ordem dos Médicos (o tal que tanto apareceu a criticar os enfermeiros) arrumasse a sua própria casa e não andasse tanto aos ziguezagues; no caso da imprensa “respeitável” talvez fosse interessante não saltar para a caravana só depois dos “tablóides” martelarem os assuntos à exaustão.

Shame

(para mim, a Medicina é a mais nobre profissão de todas, pois lida com a vida e com o combate à doença e morte, mas isso não significa que todos os que a exercem mereçam vénias e mesuras à sua passagem quando dela fazem mero negócio)

Importa-se De Repetir?

Numa semana marcada por várias agressões entre alunos e professores, os números oficiais disponíveis desmentem que haja uma escalada de violência dentro dos portões da escola. O que preocupa os especialistas é o cansaço e o envelhecimento da classe docente e a crescente indisciplina dos alunos.

Os números disponíveis na minha conta da água desmentem a sua falta na minha torneira, o que me preocupa enquanto não especialista é a seca e o baixo nível de água nas barragens.

Ou qualquer coisa assim, porque o meu cansaço com estatísticas marteladas é imenso. E não pensem que é apenas má língua… todos sabemos o que se passa em matéria de “reporte” de muitas “ocorrências”. Basta questionar os alunos acerca do que observam no seu quotidiano que, em termos de violência verbal atinge níveis absolutamente indescritíveis de abuso e em termos físicos não vai mais longe porque ainda se conseguem fazer alguma intervenção, com destaque para o pessoal não docente. Os RASI podem apresentar uma descida das ocorrências nos dois últimos anos, mas seria bom tentar perceber como é que, à micro-escala, isso foi possível.

Se as escolas são, globalmente, espaços seguros? Sim, ainda são. E não são mais porque as associações de directores falam muito mas agem pouco, parecendo achar que ganham mais com o soft power e o falar mansinho.

Ouroboros