Afinal Sempre Há Um Plano!

Comparar com o que o SE Costa disse ontem aos 3′ do programa Antena Aberta. Cá para mim, pensando que ia para outros ares, o homem deixou-se por uma vez ultrapassar pelo ministro que já tinha, na véspera, apresentado o plano inexistente. Que, claro, se dirá agora que é outro.

O programa ‘Includ-Ed’, que recorre a práticas pedagógicas inovadoras que envolvem a comunidade, foi elogiado pelo ministro da Educação: “É uma grande oportunidade para Portugal”

O programa ‘Includ-Ed’, para combate ao abandono e insucesso escolares através de práticas pedagógicas inovadoras que envolvem a comunidade, chega este ano a 50 agrupamentos de escolas do país, foi anunciado esta quarta-feira no Bombarral.

A inspiração foi colhida em Barcelona e a DGE tem até bastantes outros materiais online, traduzidos dos originais, porque parece que não há nada de novo por cá. Até aquilo das tertúlias que o ministro Tiago sugeriu não passa de uma cópia das Tertúlias Literárias Dialógicas dos anos 80 do século XX.

Não é a invenção da pólvora seca em pacotinhos, mas é do tempo áureo do Pisang Ambom com laranja.

sleepy

O Texto Para O Educare Deste Mês

Na edição que ficou hoje online está novamente o de Setembro, pelo que publico aqui o “novo” (já enviado há uma semana, mas que não parece ter perdido “actualidade”).

Isto está tudo ligado

A agenda mediática tem andado, em matérias de Educação ou afins, muito ocupada com fenómenos como a escassez de professores em vários grupos disciplinares e a violência e indisciplina nas escolas. Mas têm tratado ambos de forma estanque e sem parecer existir qualquer percepção da forma como estão ligados.

A falta de professores é algo que resulta de múltiplos factores para além da questão da deslocação e preço de quartos ou casas para alugar. Desde que me lembro, sempre existiram milhares de professores, contratados mas não só, obrigados a deslocar-se e a pagar para se instalarem para o novo ano lectivo. Na primeira metade dos anos 90 do século XX, quando havia ainda contos de réis, um quarto alugado na periferia de Lisboa, com mais ou menos serventias, levava 25 a 30 contos de um ordenado que, em termos líquidos, ficava pouco acima dos 100, em caso de horário completo. Fora as deslocações semanais para casa. O que era diferente é que mesmo com horário completo inicialmente, era comum que ele pudesse ser completado e até final do 1º período isso significava um ano de tempo de serviço. Havia instabilidade de ano para ano mas, em regra, existia alguma estabilidade durante o ano. Durante esse período, em que nunca concorri como contratado para muito longe e sempre para horários superiores a 145 horas, nunca passei pela necessidade de uma dupla colocação ou a ter de completar horário em várias escolas. É certo que estive um ano inteiro com 21 horas e outro com 18, mas nada que se compare com o que se passa agora.

Por estes dias, a situação de dupla instabilidade alia-se à degradação material das remunerações (se um quarto consumir 300 ou 400 euros de um salário inferior ou a rondar os 1000 líquidos, será racional a opção por aceitar uma colocação longe de casa?), à desvalorização simbólica da docência e à incerteza quanto à possibilidade de alguma vez se ingressar na carreira. O burnout precoce de muitos professores contratados é uma realidade e não apenas um problema dos “velhos” e o sentimento de desânimo e desmotivação é natural quando se anda em regime de turbo-professor e 7-8-10 turmas em 2 ou 3 escolas.

Não é de estranhar que, assim, sejam muitos os horários que ficam por preencher e, como consequência, existam turmas que durante meses inteiros estão várias horas por semana sem aulas, acabando por deambular pelo espaço escolar nem sempre com um propósito claro ou útil e perdendo rotinas de trabalho em sala de aula. O que também prejudica todo o processo de adaptação quando, por fim, chega @ docente substitut@ e é necessário estabelecer uma relação estável de trabalho. Acresce a isto que a desregulação dos procedimentos de colocação/contratação têm permitido um modelo em que não é raro que quem aceitou um horário, dias ou semanas depois o recusem, indo em busca de outra colocação. O que é a outra face da precarização da docência.

Esta desorientação ao nível de uma gestão míope dos recursos humanos que se pretende de “boa governança”, fascinada pelas poupanças feitas e pelos objectivos alcançados de “redução da despesa” transmite-se com uma grande rapidez ao quotidiano da vida das escolas e potencia situações de instabilidade nos alunos, quer porque ficam com muito tempo desocupado, quer porque muitas vezes não chega a existir tempo para estabelecer uma relação produtiva de trabalho entre os grupos-turma e @s professor@s que chegam e partem, sendo encarad@s como ocasionais. E quando essa base se esboroa, muito mais entra em colapso. Mesmo que se esconda isso com uma política de sucesso por decreto.

Acham que a indisciplina e o desrespeito em relação aos docentes é um fenómeno desligado da sua escassez e da precarização da sua situação laboral? Pensem melhor…

pg contradit

 

A Sério Que Já Não Me Admira…

… que uma das estratégias de quem não consegue tolerar que discordem do seu “belo pensamento” seja atacar a “formação” (académica, profissional) das pessoas que “desalinham” do rebanho moderno. Em regra, quem assim faz, não nomeia os atacados, em público apresenta pose delicada, cosmopolita e tolerante, enquanto em privado expele répteis diversos em tom alterado quando o tema é essa discordância e os discordantes. Digamos que a estrutura emocional da intolerância é muito envernizada para se apresentar uma capa de tolerância pública que “venda” o “produto”.

Admito que estou nos antípodas desse tipo de atitude, porque gosto de expor publicamente o que penso pela minha cabeça em privado, sem usar o interruptor on/off (o que pode ser confirmado por muita gente que até me conhece só de mail ou telefone e a quem digo que pode publicar o que bem entenda, sem limitações) e preocupo-me pouco com “alianças estratégicas” para escalar seja o que for. E quando me sinto mal, desligo e vou à minha vida, pois se ficarmos muito tempo num lugar, ainda escorregamos no musgo e nascem-nos fungos em sítios recônditos.

Se discordo de alguém não lhe tento ir de forma soez às canelas, insinuando falhas de “formação”. Por exemplo, tenho o maior respeito pessoal e profissional pela presidente do CNE, mas discordo das ideias que mantém há muitas décadas e acho que já deveria ter saído daquela “zona de conforto”. Discordo frontalmente das ideias do SE Costa, mas – mesmo achando curiosa a sua opção por se especializar em gramática portuguesa no estrangeiro – não acho que seja por ele ter falta de habilitações. Ao ministro Tiago aponto falhas imensas em matéria de pensamento sobre Educação, mas nunca coloquei em causa a sua formação científica. Claro que há excepções… nunca me ocorreu reconhecer competência científica ou pedagógica para falar sobre Educação aos mst desta vida ou aos pais albinos. Mas mesmo assim, em regra, preferi dar-lhes forte no que disseram ou escreveram, mais no que aquilo que (não) estudaram.

Por isso mesmo, diverte-me a falta de subtileza com que certos arautos da tolerância inclusiva, fiquem tão descompensados na sua altivez por não aderirmos todos à sua Fé que se tornam o equivalente a fundamentalistas religiosos que só conseguem ver ignorância e maldade nos incréus e nos que questionam os modelos únicos da “boa palavra”. Ficam com os carretos completamente passados mas, curiosamente, é essa a crítica a quem os tenta fazer ver luzes de outras cores com frontalidade.

Claro que isto se torna mais irónico, usando o mesmo truque de não nomear quem se verá retratado a ler isto e ficará uns dias a produzir posts sociais enviesados, com aquele fel mal disfarçado com falso aroma de mel.

Otavio

(no mandato anterior passaram-se coisas na sombra, com vista a desacreditar estes ou aquelas, de uma falta de decência enorme, só que, por não serem feitas à moda do engenheiro e para que não se notasse tanto, ficaram quase sempre pelos bastidores; só que… mais tarde ou mais cedo quase tudo se descobre e acabamos por perceber que, se calhar, aquelas pessoas mesmo sempre assim, apenas o perfume do poder lhes transtornou mais a natureza…)

6ª Feira

Um abuso que continua a existir, em especial por causa das regras dos “profissionais”, mas que se começa a estender a outras “zonas” é a de querer que pessoas que estiveram doentes ou a fazer tratamentos, com atestado e não a passear e a colocar fotos de praias dos trópicos nas redes sociais “reponham” as aulas que não deram. Ou seja, depois de terem descontado no salários os 3 dias da praxe a ainda a percentagem relativa aos dias seguintes, há quem queira que as aulas não dadas então sejam “repostas”, mas sem reposição salarial. E há escolas e agrupamentos em que me é contado que, quando se fala na “greve ao sobre-trabalho” surge a ameaça de, nesse caso, descontarem o valor correspondente, levando a uma dupla penalização por cada “falta”. E claro que há quem faça, não lhes caia em cima no ano seguinte uma horariozinho daqueles de rachar calhaus. E ainda há quem venha dizer, com aquele ar compungido do colaboracionismo hipócrita, que não adianta “criar mau ambiente”.

(mas também há os que levaram esta malta ao colo todo o mandato anterior e agora que as coisas não correm com a feição esperada, tenham súbitos acessos de apoplética indignação, funcionando como contraponto aos representantes de directores que muito “denunciam” mas nada fazem)

Entendamo-nos… se há abusos de atestados, verifiquem-nos e não façam chuveirinho (no meu caso, o último remonta a 1998, mas como não tenho “profissionais” estou mesmo com vontade de assumir a saturação que tudo isto me está a fazer chegar ao nariz e meter o primeiro deste milénio) e não andem a castigar as pessoas por causa de regras da treta de “cursos” em que os alunos são os primeiros a faltar que se desunham e a apresentar justificações do país das maravilhas que os órgãos de gestão e “chefias intermédias” aconselham muito a aceitar para que não se registe o absentismo (e quase abandono) que efectivamente existe. O primeiro caso é de mera decência (o de não forçar as pessoas a fazer aquilo pelo qual não são pagas), o segundo de mera honestidade (admitir todo e qualquer tipo de justificação de faltas para dar a ilusão de um sucesso do escafandro na “diversificação da oferta”).

É bem verdade que me lembro muito bem de muito boa gente fugir com o lombo ao trabalho e outras habilidades nos anos 80 (como aluno e professor) e 90, quando foram “professores” vultos que por aí andam, desde opinadores mediáticos a autarcas ex-responsáveis parentais (e que quase aposto que seriam dos que mais abusavam e se puseram a andar quando perceberam que a sério não aguentavam), mas isso não justifica que quem cumpre tudo o que pode, ainda a mais seja obrigado, enquanto a quem nada faz, pouco ou nada se exige.

Com a colaboração activa dos rabos sentados.

fantastic3