A partir desta semana, todos os domingos, este blogue publicará a crónica de um colega a que propus que apresentasse uma visão diversa e mesmo contraditória da minha, pois há quem diga que estou demasiado amargo e sombrio, pelo que este espaço precisa de uma espécie de raio de luz que ilumine os recantos da Educação que, por deformação, eu tendo a obscurecer. A este colaborador desejo os maiores sucessos.
Crónica dos Domingos Felizes – Uma Apresentação
Chamo-me João Tiago Eumesmo Feliz dos Santos, tenho 58 anos (eu sei que pareço mais novo, mas tudo vem de dentro, mesmo a idade que projetamos) e sou professor por vocação e missão, de História mas isso nem é o que que importa mais, porque o que interessa para mim é tudo aquilo os alunos desejem aprender e é nesse pressuposto que exerço a minha função com toda a dedicação e apego que as minhas capacidades permitam.
Convidado pelo autor do blogue para fazer uma crónica semanal sobre o meu quotidiano, muito lhe agradeço por poder expressar uma visão do ensino, que eu classifico como “instrução” porque muito debate ainda há por fazer sobre o que podemos entender por “educação” neste novo mundo admirável de oportunidades e novos paradigmas que nos ofereceu este milénio. E agradeço porque reconheço que neste blogue há demasiada acrimónia, demasiada zanga, demasiadas críticas a tudo e mais alguma coisa, e é necessário um contraponto de positividade e uma atitude pró-activa e, em simultâneo, autorreflexiva de quem sente que devemos extrair sempre o melhor do que existe, agradecendo pelo papel que temos na sociedade e na formação dos cidadãos do amanhã, sendo uma perda de tempo a permanente insatisfação com o que podia ser ou o que não é, pois esse é o caminho que nos leva ao derrotismo, à falta de alegria e ao menor empenho da implementação de tudo o que tem sido possível colocar ao dispor das escolas para que elas consigam motivar todos os alunos para o desenvolvimento das suas competências e aptidões, sempre numa perspetiva que vê o sucesso para além do mensurável ou quantificável à maneira de outros tempos, preferindo como meta a expressão dos afetos e a felicidade do Ser sobre o Fazer, pois o que importa É e tudo o resto são transições menores.
Mas dispersei-me nesta apresentação, embora ache que nos devemos apresentar sem pudores e reservas, expondo-nos nesse mesmo Ser que somos, assim abrindo caminho para uma ligação plena de intersubjetividade com quem nos rodeia, potenciando uma relação de entrega ao Outro como forma de melhor nos conhecermos e enfrentarmos as nossas humanas imperfeições.
Por exemplo, hoje, domingo, dia em que para escrever esta crónica interrompi o meu trabalho de preparação da parte inicial da semana, ao qual me entrego com prazer ao contrário de colegas que sempre estão a lamentar o tempo que “perdem” (que utilização tão errada do termo quando o que está em causa é algo imanente e imperativo, mas ao mesmo tempo portador de um contentamento nascido da consciência do cumprimento de um dever que nos preenche de sentido a vida) a planificar aulas, a classificar testes ou mesmo a preparar esses instrumentos ultrapassados de um conceito obsoleto de avaliação que são os testes. Não compreendo essa atitude, submersa em sentimentos negativos que naturalmente acabam por se revelar na forma como encaram as aulas, não como um espaço aberto de liberdade em que seguimos o caminho que o grupo indica, mas como momentos de transmissão de saberes quantas vezes vazios de sentido para aqueles jovens, ávidos de uma outra forma de estar na escola, uma forma em que as fronteiras da sala e dos tais saberes se estilhaçam perante a permeabilidade de uma abordagem flexível que assenta na mobilização dos alunos para projetos significantes e assentes numa cultura cooperativa que redefine o que entendemos por currículo.
Como muito bem escreve a doutora Ariana no seu livro que vou lendo com a calma e pausas para reflexão que a sua densidade e reconfiguração conceptual implica, devemos basear a nossa intervenção em metodologias que levem ao “desenvolvimento de aprendizagens mais significativas e a estratégias que possam contribuir para promover e estimular a cooperação docente”. Pena que parte dos meus colegas esteja mais preocupada em questões menores como o tempo que dizem ter-lhes sido “roubado” ou o tempo que levam a preencher as necessárias “listas de verificação” que em bom tempo o Conselho Pedagógico considerou ser uma ferramenta obrigatória de monitorização do avanço dos projetos de que tenho sido, enquanto subcoordenador adjunto da Equipa Flexível para a Promoção de uma Cidadania Plena no Agrupamento, um dos humildes promotores.
A prosa já vai longa e o dever chama-me, pois tenho por acabar o relatório da formação a que fui há poucas semanas sobre a Como Promover uma Verdadeira Inclusão no Espaço Escolar à Luz do Decreto-Lei 54/2018 e ainda não li todo o material que nos foi enviado nem as webinares que estão no site da Direção Geral da Educação e que muito nos ajudam a compreender em maior profundidade os conceitos subjacentes ao novo paradigma de uma escola para todos.
Até para a semana, colegas, esperando que encarem a semana que se avizinha com a indispensável motivação para que o tempo pareça escasso para o tanto que temos a dar aos nossos alunos e ao serviço de uma Escola Pública de sucesso.
João Tiago dos Santos

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