Será Que Nos Andam A “Vender” A “Narrativa” Verdadeira?

Porque eu ando cansado do mito finlandês e não é por falta de informação que continuam a papagueá-lo. É por outro tipo de razões.

Finland’s recent decline in international test scores has led many to question whether its education system is truly the best.

(…)

In 2000, the Program for International Student Assessment (PISA) released the results of its first survey of education attainment. Administrated by the Organization for Economic Cooperation and Development, the triennial assessment tested the skills and knowledge of 15-year-olds around the world.

That year, Finland handily came out as a top performer, scoring high in math and science, and number one in reading. The United States’ performance that same year, for comparison’s sake, could best be described as middling. These results led many to claim that Finland had the best education system in the world. Educators and politicians swarmed to the Nordic country in the hopes of discovering the source of their golden touch.

Then things took a turn, and Finland’s standings began to slip. Between 2006 and 2012, its scores in science, reading, and math fell sharply: 18, 23, and 29 points respectively. PISA 2015 saw further drops; meanwhile, other top performers have remained relatively steady.

“Finland was on a downwards slope, not an upwards one,” writes Tim Oates, director of assessment research and development at Cambridge Assessment. “All the assumptions in 2000 seemed to be of Finland at the top and on the rise, not on the way down. And that was mistaking PISA for a longitudinal study, rather than a cross-sectional one.”

While Finland remains a top performer, it has lost its luster in the eyes of many experts, bringing criticisms of Finland’s education system to the debate.

Já em 2005, havia que explicasse a razão do “milagre” e antecipasse uma evolução problemática com base nos paradoxos que se verificavam na educação finlandesa, ou seja, que devia o seu bom desempenho em boa parte ao seu carácter tradicional, rural e herdeiro de um passado conservador e autoritário.

In conclusion, two paradoxes are identifiable in the success story of Finnish schooling. First, the model pupil depicted in the strongly future-oriented PISA 2000 study seems to lean largely on the past, or at least the passing world, on the agrarian and pre-industrialized society, on the ethos of obedience and subjection that may be at its strongest in Finland among late modern European societies. This paradox leads to the question of what will happen to teaching and learning in Finnish schools when teachers no longer believe in their traditional mission to be model citizens and transmitters of knowledge, but rather see themselves as facilitators, tutors and mentors.
What will happen to teaching and learning in Finnish schools when the pupils no longer accept their position as pupils, but rather ‘climb the walls’, as one urban primary-school principal put it?

O que aconteceu? Uma queda nos resultados!

Claro que não é isso que nos/vos contam as deslumbradas luminárias nacionais. Como aconteceu com as maravilhosas reformas descentralizadoras da Suécia que acabaram revertidas em função do aumento das desigualdades e dos maus resultados.

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Comparações Há Para Todos Os Gostos

Voltando a detalhes de 6ª feira, gostava de regressar à questão do contexto socio-económico e cultural como variável macro que explica boa parte da evolução do nosso desempenho a nível educacional e, ao contrário do que se afirma, do muito que se conseguiu em vez de se sublinhar apenas que outros estão melhores. Lembro-me, por exemplo, do AHCristo fazer um reparo lateral do género “se temos de nos comparar com a Hungria estamos mal”. E estamos. Basta ver o mapa da população abaixo da linha de pobreza.

Pois, a Hungria está 4 pontos à nossa frente. Mais do que aquilo que estamos à frente de países como a Macedónia ou Moldávia.

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Apesar das melhorias e de compararmos muito bem com Espanha, estamos muito atrás da Mittel-Europa.

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E quanto a felicidade, nem é bom falarem-nos nisso.

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Porque Será…

… que há pessoas que aparecem na televisão a dizer coisas factualmente falsas que podem ser facilmente verificadas? A menos que, claro, tudo isto se deva a dados que ainda todos desconhecemos e por isso inverificáveis. Não é por acaso que pertencem ao grupo dos que querem acabar com tudo o que sejam “testes”, “exames” ou outras modalidades de avaliação externa comparável e respectiva publicitação de resultados que gostam de adjectivar de modo negativo de forma profusa. Porque daria um certo dó demonstrar como certas “metodologias avançadas” e um fortíssimo marketing com apoio do ME se traduzem em resultados medíocres, por exemplo, em Matemática (que se apresenta como um dos casos em que se mudou a metodologia com excelentes resultados). Quando se diz que se conseguem maravilhas com as novas pedagogias e a realidade é outra. Ou quando se fica em último lugar num concelho que nem é brilhante em resultados, mas se diz ter-se tido um desempenho comparativamente melhor.  Mas eu aposto que os professores no terreno não iriam dizer “inverdades” deste tipo e é por respeito a esses meus colegas, que muito fazem, que aqui não coloco os links ou imagens. Só lamento que as “lideranças” se andem a tornar em especialistas de cosmética e relações públicas. E ainda se apresentem como “exemplares”. 

E quem me conhece sabe bem que eu não guardo estas críticas apenas para casas alheias. Porque não gosto de fingimentos e pós-verdades ou factos alternativos. Mesmo que comecem por me doer a mim as consequências dessa atitude de chutar sempre para canto as responsabilidades pelos maus resultados.

pavao

 

Autonomia Para Quem?

Discordo, por exemplo, daquela ideia de poderem contratar 25-30% do corpo docente, porque se qualquer professor”zeco” tem a obrigação de motivar os 100-150-200 alunos que lhe entram pela porta dentro, também @s ilustres senhor@s director@s deverão mostrar o que valem com o material humano de que dispõem.

Quanto à “autonomia” perdida para o poder local, têm algo a dizer?

O presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE) pediu hoje coragem ao ministro da Educação para renovar a escola pública e devolver-lhe “alguma da autonomia perdida”.

Burnout

“Crónica Dos Domingos Felizes” – 2

Publico a segunda crónica dominical do professor João Tiago Eumesmo Feliz dos Santos que eu arriscaria classificar como ligeiramente longa.

Gostaria de começar esta crónica por me congratular com o impacto da colaboração da passada semana que já despertou consciências e deu coragem a outras pessoas para assumirem sem receio a sua adesão às novas políticas educativas em desenvolvimento no nosso país. Refiro-me, por exemplo, ao contributo da colega Maria da Felicidade Santos, com a qual partilho o apelido mas não o laço familiar. É deste tipo de rede de contactos, afinidades e ouso mesmo dizer de afetos que se pode fazer uma comunidade educativa global à escala nacional que consiga impulsionar ainda mais esta mudança de paradigma que há muito esperamos.

Também apreciei muito as intervenções do senhor diretor que esteve na 6ª feira à noite no programa da Sic Notícias e que demonstrou de forma clara e cabal como o trabalho do professor deve ser reconfigurado, bem como a noção desajustada que temos de sala de aula como sendo ainda um local e um tempo de transmissão de conhecimentos espartilhados e não de construção de saberes integrais, motivados pela natural curiosidade dos alunos que devem ser a força motriz das atividades a desenvolver, tendo o docente o papel de facilitador de aprendizagens significativas para a vida futura do aluno ou aluna, não sendo de maneira alguma útil uma dispersão de conteúdos sem uma adequação às necessidades do quotidiano. Gostei em especial da analogia entre a sala de aula e um paralelopípedo e a forma como se devem basear no concreto as noções transmitidas.

A única falha que aponto ao seu raciocínio foi a falta, certamente por carência de tempo e devido às inoportunas interrupções que sofreu enquanto tentava de forma magistral apresentar conceitos que nem sempre são facilmente perceptíveis por quem se anquilosou em conceções ultrapassadas de uma pedagogia formal e diretiva, foi a falta, ia eu escrevendo, de uma abordagem do método holístico que devemos adotar para considerar o aluno como um indivíduo único e integral, assim como o próprio processo de considerar – vou afastar-me de terminologias em acelerado desuso nas escolas mais inovadoras como “avaliar” ou “classificar” – o progresso das suas aprendizagens significativas.

A conceção holística do indivíduo-aluno ensina-nos que não o podemos encarar de forma parcial ou atomizada mas sim como um sujeito total aprendente, sendo missão única e maior do professor respeitar essa individualidade nas suas inclinações e pontos focais de interesse, de modo a que mais do que centrar-se num processo de ensinagem se preocupe com o desenvolvimento pessoal pleno do ser que se encontra perante si nas particularidades que fazem dele um todo singular, não lhe impondo constrangimentos externos ou espartilhos artificiais como os decorrentes do currículo tradicional, segmentado em saberes disciplinares desarticulados.

O trabalho colaborativo de projeto deve desenvolver-se em diversos planos, desde a simbiose que naturalmente se estabelece no “espaço-sala” (na falta de um conceito mais ajustado) entre as crianças e jovens ansiosas por expressarem a sua criatividade natural e a cooperação essencial entre os docentes que constituem o chamado Conselho de Turma, neste caso no sentido da combinação transversal dos seus saberes de origem, numa recombinação original e apelativa, assim como na definição de estratégias de monitorização dos progressos feitos pelos alunos e de registo das competências desenvolvidas de acordo com o Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória, referencial nuclear para o trabalho pedagógico do século XXI.

A abordagem holística implica ainda que qualquer “avaliação” seja sempre formativa e nunca classificativa, valorizando o todo e nunca as partes, pelo que se devem evitar sistemas selectivos ou hierarquizadores do desempenho dos indivíduos, pois todos deram certamente o seu melhor, pelo que se deve limitar o Conselho de Turma a emitir um parecer qualitativo no final de cada reunião mensal a transmitir aos encarregados de educação, mas sempre numa perspectiva de positividade e estímulo. Esse parecer deve ser coordenado pelo professor titular da turma ou diretor de turma, como já é feito nas escolas com estratégias dialógicas permanentes como a que a senhora diretora do meu agrupamento fez adotar em Conselho Pedagógico e transmitiu em formação obrigatória semanal  a todo o pessoal docente desde o início do ano letivo, estando prevista uma sessão final para a pausa do natal com a presença muito esperada do senhor secretário de Estado ou, se ele não estiver disponível, de outra personalidade que ele considere por bem designar. Pessoalmente, como já afirmei anteriormente, gostaria muito que pudesse ser a doutora Ariana, pois queria me autografasse o seu livro, ou então aquela senhora doutora de que me escapa agora o nome e que percebe muito de inclusão e que costuma fazer excelentes conferências.

Em termos pessoais, já fiz a proposta que, quando esta formação terminar, se siga uma outra em Coaching e Mentoring para Docentes, se possível com uma componente em Meditação e Mindfulness. Porque há muita gente tensa em meu redor e a negatividade que transmitem é muito tóxica e baixa a produtividade do trabalho da grande família que todos devemos ser.

Alonguei-me mais uma vez, mas estas são problemáticas que me entusiasmam e poderia estar aqui horas a escrever. Fica muita coisa para próximas crónicas, não temam pela falta de assuntos.

João Tiago dos Santos

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