Afirma o SE Costa a abrir o boletim Noesis deste mês:
Um sistema de saúde deve ter como objetivo a prevenção de todas as doenças.
Um sistema de segurança deve ter como objetivo a erradicação de todos os crimes.
Será assim tão estranho que um sistema educativo tenha como objetivo a erradicação do insucesso?
Não, não é estranho, embora eu pensasse que o objectivo central seria a constante melhoria da aprendizagem dos alunos o que podemos definir como “sucesso”, mas não necessariamente como ausência de retenções.
Mas o que é mais demagógico é que:
- No sistema de saúde não se culpam os enfermeiros e médicos se os doentes não curarem as doenças por não cumprirem as prescrições ou se voltarem a ficar doentes devido a comportamentos inadequados. E a maior parte dos doentes nas urgências são de condição socio-económica mais desfavorecida.
- No sistema de segurança – embora exista momentos em que há quem entre nesse caminho – não se culpam os polícias pela reincidência de actos criminosos ou se os proíbe de prender quem os pratica (bem… aqui até há quem ache que…). E a maior parte dos criminosos presos são de condição socio-económica mais desfavorecida.
- Já agora, no sistema de justiça acusam-se os juízes pela reincidência de réus condenados e aconselha-se que os crimes fiquem por punir (não falo, claro, daqueles que nasceram para serem arquivados), em especial os daqueles que são de condição socio-económica mais desfavorecida.
No caso da Educação, os primeiros suspeitos pelo insucesso são os professores, em especial os não-pipis ou aqueles que não amocham perante a cartilha da desresponsabilização da sociedade envolvente pelo combate às desigualdades ou dos alunos pelo seu desempenho ou da demagogia sonsa do SE Costa.
Porque é disso que se trata: de pura e sonsa demagogia que promete o mais fácil e populista, como se quem insiste em apontar falhas à prática fossem apenas pessoas sem princípios, sensibilidade ou sem o maior respeito pelos alunos que fazem o melhor que sabem e conseguem. Pelo contrário, é o respeito pelos alunos e por não os mistificar com um sucesso de pacotilha, fabricado em laboratório, que faz com que ainda há quem resista a estas investidas a transbordar de infernais boas intenções.
Que pena o SE Costa não aplicar toda a beleza dos seus princípios de justiça social e a sua subtileza retórica na crítica ao modelo de legislação laboral que afasta as famílias dos seus educandos, de um modelo de proto-desenvolvimento económico que mantém Portugal com um dos maiores níveis de pobreza e desigualdade social da UE ou da regra do trabalho precário com baixos salários como factor de “competitividade”.
Quanto anos de governo e a esse nível só desabafos assim como que se fossem em privado para centeno não ouvir. Não chega e revela falta de coragem política.
Porque a Escola e a Educação podem muito, mas não podem tudo. E é tudo o que lhes é pedido por alguns. Que, como uma certa antecessora, apostam tudo na conquista da “opinião pública”.