Para Quando Um Plano De Não-Retenção No Ensino Superior?

Porque é um desperdício de meios financeiros e capital humano o que se anda a passar ,pois mesmo em licenciaturas bolonhesas (não estamos a falar de Medicinas ou coisas assim), nem metade dos alunos as completa com um percurso directo de sucesso em 3 ou 4 anos. Penso que este insucesso poderia ser combatido com um PNPSE para o Ensino Superior, ao qual se deveria estender a lógica dos PIPP. Porque é sempre possível às instituições e aos professores trabalharem mais com os alunos e diversificar melhor as suas metodologias e abordagens pedagógicas.

O estudo da DGEEC de 2018 é o seguinte:

PERCURSOS NO ENSINO SUPERIOR
Situação após quatro anos dos alunos inscritos em licenciaturas de três anos

Há muitos dados interessantes, mas este quadro é um resumo bem revelador do flagelo do insucesso escolar no Ensino Superior, sendo que o dinheiro dos contribuintes não é infinito e deveriam existir medidas para estancar esta hemorragia, pois o custo por aluno é elevado e não sei quantos milhões poderíamos poupar para outras áreas da governação como a promoção do Turismo ou os incentivos fiscais para aposentados estrangeiros que se fixem no país. Ou para chineses com cartões de crédito dourados.

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E para quem diz que a nota de ingresso não prevê o desempenho dos alunos, embora possam ter razão nas excepções, não a têm na regra, como bem se pode ver.

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Mas, claro, devemos esquecer esse método arcaico e ineficaz de “selecção” dos alunos.

3ª Feira

Sim, hoje voltei a fazer algo que não acontecia há muito. Não sei dizer se foi algo mais do que o costume, se foi aquela pequena gota que faz a água transbordar do copo, se foi uma espécie de statement para o resto do ano. Mas parei uma aula, após ser sucessivamente interrompido por m€rdinh@s sortidas enquanto procurava iniciar um raciocínio sobre o que estava projectado – de forma muito moderna – na tela e que teria a seguir muitas coisas animadas e interactivas. Após um curto, sonoro e expressivo “desabafo” acerca do sentido da vida escolar (foi pouco tempo, garanto), achei por bem que os últimos 30 minutos fossem deixados aos alunos para que fizessem o que bem entendessem, naquela base da liberdade para descobrirem sozinhos o conhecimento e desenvolverem competências. Pareceram algo aturdidos com tamanha liberdade pedagógica. Estranhamente, ou não, foram os 30 minutos mais silenciosos (quiçá por estupefacção) até ao momento do ano lectivo. Até aos 10, ainda pensaram que seria daquelas vezes em que, depois de resmungar, um tipo recomeça pela enésima vez a explicar porque o humanismo e o antropocentrismo estão na base da civilização moderna (era uma aula sobre o Renascimento, tinha a seguir coisas giras do Leonardo e não só, mas nada com interesse para a vida futura dos alunos claro, em especial se gostarem da ignorância como métrica vivencial); aos 20 minutos já tinham percebido pelo sorriso irónico que desta vez era mesmo a sério. Ao fim da meia hora, saíram cabisbaixos, parecendo ter percebido que para os professores as aulas também podem ser uma “seca” e que fácil é um tipo não se chatear e passá-los a todos, pois nem carece de justificação ou verificação. E ainda eram 10 da manhã. O resto do dia correu com uma leveza tal, que quase me senti premiado como o pior professor do ano pelo comité dos directores-pipis.

Onde andam as arianas, os rodrigues e os costas quando ocasionalmente precisamos deles para nos ensinarem como fazer “mais” e/ou “melhor”, estabelecer um “compromisso de aprendizagem” ou um “contrato educativo”?

Haddock

(sim, sou mesmo professor dos que dão aulas, como respondi ao Ricardo Costa que de tanto ver quem não dá aulas há décadas a discutir Educação, até estava admirado; e assumo os meus estados d’alma sem confettis e perlimpimpims)

 

Por Aclamação

Não fui eu que recebi, foi-me reencaminhado:

Exmo. Sr. Dr.

A Pró-Inclusão acaba de realizar o seu 6.º Congresso Internacional – Educação Inclusiva: Olhares pelo Caminho, nos passados dias 24, 25 e 26 de outubro, na cidade de Santarém.

Neste congresso foi aprovada uma Declaração Final que temos o prazer de lhe fazer chegar.

A Pró-Inclusão ao longo dos seus 11 anos de existência tem pugnado por uma educação de qualidade para todos sem exceção e considera que cabe à Educação a promoção dos Direitos Humanos através de uma escola inclusiva, equitativa e de qualidade. Estamos certos de que comunga connosco estes valores.

Mantemo-nos firmes na promoção da Educação Inclusiva e, assim, sempre saberá onde nos encontrar quando necessitarmos de cooperar.

Com cumprimentos muito cordiais,

David Rodrigues

Presidente da Pró-Inclusão

Conselheiro Nacional de Educação

Declaração Final do VI Congresso da Pró – Inclusão

Os 350 participantes do VI Congresso Internacional “Educação Inclusiva: olhares pelo caminho”, presentes em Santarém, aprovam, por aclamação, a seguinte Declaração Final:

  1. Estamos conscientes do caminho de progresso que foi feito para a construção de uma educação inclusiva.  Para este caminho muito contribuiu uma vontade política constante ao longo do nosso regime democrático bem como o protagonismo das famílias, dos professores e de toda a comunidade educativa.
  2. Estamos agora mais conscientes do caminho que nos falta percorrer para atingirmos uma efetiva educação equitativa e inclusiva. O caminho que percorremos conduziu-nos até à situação favorável em que nos encontramos, mas também nos permite ver melhor em quantidade e qualidade as medidas que são mais prementes para que a educação de qualidade chegue a todos e a tempo.
  3. Precisamos de continuar o que se mostrou correto, de reforçar o que se revelou frágil e de inovar no que se mostrou desadequado. Citamos a urgência de consolidar as medidas legislativas que apontam inequivocamente para uma educação equitativa, inclusiva e de qualidade para todos os alunos sem exceção, precisamos de reforçar os sistemas de suporte e apoio aos alunos que dele precisam, precisamos de promover e apoiar novas formas de ensinar, de aprender e de avaliar nomeadamente através de políticas que encorajam a inovação da escola e formação a todos os níveis e para todos os agentes educativos.
  4. Assumimos o compromisso de não pactuar com modelos educativos que promovam a exclusão dos alunos que mais precisam de educação, que mais podem beneficiar de interação e de participar em processos que os levem a aprender e a se desenvolver como pessoas humanas e cidadãs. A Inclusão é um processo e não pactuamos com aqueles para quem a educação ou é perfeita ou é uma fraude.
  5. Queremos convidar todas as pessoas que se interessam por educação, sejam elas, famílias, docentes, técnicos ou alunos para que, em sintonia com a Compromisso de Cali da UNESCO proclamado em setembro de 2019, a apelar para que se criem em todas as escolas portuguesas ambientes seguros, acolhedores, positivos, humanos e livres de qualquer forma de violência de forma a assegurar a motivação, a implicação e promover resultados positivos de aprendizagem e de educação para todos.
  6. Estamos seguros de que não nos enganamos quando optamos por um sistema educativo que persegue a equidade, a inclusão, a participação e a cidadania de todos os alunos. O caminho da inclusão é o caminho da justiça social, o caminho que nos permitirá construir um país de que nos orgulhemos: mais justo, sustentável e humano e assim tornar mais próxima a consumação dos Direitos Humanos. Para todos os humanos.

Santarém, 26 de outubro de 2019

Aplauso

 

Pelo Público

O triunfo da demagogia na Educação

Tal como o mandato de 2015 começou com a eliminação demagógica das provas finais de 4.º e 6.º ano, o mandato de 2019 começa com a promessa demagógica de um plano de não-retenções que só fará sentido se, como culminar do processo, forem eliminadas as provas finais do 9.º ano.

PG PB