Percebe-se agora como, afinal, era essencial que o SE Costa continuasse ao leme da sua grade reforma educativa, aquela que promete uma Escola Pública de 2ª escolha e que ilude quem nela fica com um sucesso e uma “igualdade de oportunidades” que não passa do nome, como bem demonstrou a sua antiga colega e actual ministra Leitão ao justificar a sua opção, como encarregada de educação, por colégios privados de elite.
A herança na Educação dos Costas (António e João) será visível daqui a uma década, para não dizer antes (se contarmos a partir de 2015), quando tivermos um dos sistemas de ensino mais desiguais da Europa e uma completa clivagem entre “ricos” e “pobres”, porque a promessa de sucesso a qualquer custo, desde que custe pouco, é demagógica e a maior mistificação que se pode fazer aos tais grupos desfavorecidos que se diz querer defender, mas de quem se quer apenas o voto em troca de miragens.
João Costa já é um demagogo experiente, que procura apelar a adesões emocionais, através da demonização das posições contrárias, chegando a qualificar quem com ele discorda de recusar a Educação como direito universal. De acordo com o senhor secretário de Estado da Educação, quem não salta para a sua caravana só pode ser insensível e querer o pior para os alunos. Pelo contrário, quem respeita os alunos dificilmente pode estar de acordo com “planos” que se limitam a burocratizar o insucesso e a implementar medidas perfeitamente ineficazes em tempo real como as actuais EMAEI ou o modelo de tutorias ao molho. Quem quer uma Escola Pública de qualidade e conhece a realidade para além das visitas em modelo vip, sorrisos e florzinhas, não pode aceitar como boas tiradas que se baseiam num raciocínio maniqueísta e simplista que nos quer passar a todos um atestado de simplórios.
Rejeitar o plano do SE Costa não é rejeitar “esforço” algum. Como aquela do “fácil é chumbá-los”, ele apresenta as coisas de forma popularucha. Rejeitar o seu querido plano (que há pouco dizia não existir) não é rejeitar o desejo de um sucesso pleno para os alunos. É rejeitar a batota, o truque burocrático, a mal disfarçada imposição administrativa. É ser honesto com os alunos e rejeitar as teses que colocam o ónus de todo o insucesso em professores do século XX, incapazes de entenderem as imensas profundezas das teses aprendidas por alguns nos anos de estágios feitos… no século XX, com teorias do século XX, nascidas de problemas do século XX.
O artigo da Visão de hoje (pelo menos deu agora a cara e não mandou enviados de uma fragilidade assustadora), com o apropriado destaque, é apenas mais uma peça no seu “legado” que provavelmente justificará em futura obra sobre o tema do “Sucesso vs Insucesso – Uma Dicotomia Disparatada na Educação”..
E já agora… isto não é uma disputa entre a boa Esquerda e a má Direita porque, que me lembre, politicamente, o actual SE Costa foi um imenso vazio político em períodos bem delicados da nossa vida colectiva e só meteu a cabeça de fora quando já era seguro. Nos anos de chumbo primou por tratar da vidinha.
Se isto é, de certa forma, dar a ler um pouco do próprio remédio ao SE Costa? Espero que sim, c’um caneco, que eu cá não sou de sonsices e nunca fui à catequese.