É Realmente Uma Pena…

… que todos aqueles que, da esquerda à direita, levaram os últimos dias a elogiar José Mário Branco e a dizer que foi com ele que descobriram isto e mais aquilo, não tivessem tido a oportunidade de o apoiar quando ele quase não conseguia gravar o Ser Solid/tário. Há desde os que, nessa altura, o ostracizavam de forma bem activa (da esquerda à direita) aos que andavam em cueiros quando ele ainda passava na rádio ou nem nascidos eram quando ele gravou que com os tempos se mudam as vontades como o bom e velho Camões já adivinhara.

pieintheface

 

A Tertúlia Dos Génios Financeiros Do Burgo

A meio da manhã caí de cabeça numa espécie de “debate” na TSF com os cinco presidentes dos maiores (?) bancos a “operar” (deve ser no sentido da ablação de órgãos) em Portugal, tudo a abrir com o genial presidente do Banco de Portugal e a fechar com o secretário de Estado que é primo do (ainda?) Special One. Até deu para Paulo Macedo contar a história (que é mais um poema) de Mário Henrique Leiria, o que motivou entusiasmo na plateia e jornalistas presentes, como se fosse a primeira vez que ouvissem falar n’A Nêspera.

E vamos assim.

Monty

(continuo a achar maravilhosas as iniciativas, cheias de parcerias, apoios e sinergias, em que surgem a falar pessoas de grande currículo em qualquer coisa sobre o futuro do país, com moderação e promoção de órgãos de comunicação social que precisam muito de publicidade e coisas desse tipo)

6ª Feira

Os pais do 54 (agora 116) e do 55 já vieram a público defender as suas crias e como pensam que elas devem crescer no novo mandato. Pelo país, decorrem formações múltiplas com apóstol@s das palavras, curiosamente com apresentação de currículos extensos de onde está, quase sempre, ausente qualquer prática daquilo que enunciam como sendo dogma da única fé verdadeira, inclusiva e autónoma.

As coisas estão em movimento com a aparência de sucesso, embora existam sinais de perturbação quando se quer colocar uma segunda linha a chegar-se à frente. Continuo a achar que foi uma crueldade colocarem a presidente do CNE na ribalta, enquanto secretários e conselheiros se resguardavam. Ou andar a preparar campanhas mediáticas, prometendo de forma anónima falsas poupanças para cativar “os contribuintes” e alguns “liberais” e se estabeleciam comparações falacciosas com outras paragens, querendo que acreditemos que todo o sucesso é finlandês ou algo assim, prometendo aos alunos um sucesso que cai por terra quando, concluída a escolaridade, perceberem que o mundo real não acredita em nada disso. Sim, arranjam-se uns cursos de banda curta e terceira linha nos politécnicos ou universidades mais carentes de clientela, na sequência do paupérrimo princípio do “aprender para fazer”, Basta perguntarem-lhes se foram essas vias em que colocaram ou pensam colocar a descendência.

Continua a dar-se a entender que os “exames” são a causa de todos os males e desigualdades (embora sejam aqueles em que os apelidos menos contam quando chega à altura da avaliação) e mesmo que para o acesso à Universidade devem deixar de contar, para que possam ser elas a escolher os seus alunos. Como está mais do que demonstrado (quase iria escrever “todos os estudos demonstram/provam” como certos enunciadores do lugar-comum), esse modelo cria um sistema que aumenta as desigualdades, criando nichos de excelência para os tais 1% (por cá talvez 5%), enquanto os restantes 99% (ou 95%) se acotovelam no resto.

Acredito, a sério que sim, que alguma desta malta que assim pensa e tem o poder de decidir, até tenha boas intenções. Mas quer-me parecer que ou ficaram ceguinhos algures no tempo ou então têm um défice de informação enorme sobre o funcionamento do mundo real.

O que se passa com o SNS é um bom exemplo do que teorias de “boa governança” provocam quando aplicadas por gente parva. Ainda há dias um médico já reformado do SNS, agora no sector privado, explicava-me resumidamente como tivera de enfrentar, a dada altura, “gestores” que usavam como argumento para as suas teses o seu currículo e desempenho no sector privado ou, num caso específico, nos CTT. Como se tratar doentes e entregar cartas e encomendas fosse o mesmo. No caso da Escola Pública, acham que a educar crianças e jovens se devem aplicar princípios de gestão de recursos humanos equivalentes aos de qualquer empresa de vendas a retalho.

O resultado será, atrás da menorização permanente dos professores através da desvalorização do seu saber profissional e científico, apoiada no discurso sem vergonha na cara de alguns directores de escolas-pipis e uns quantos pedagogos de cartilha, o da erosão final da credibilidade do que o ministro Tiago pretendeu inovar no início do outro mandato designando como “Serviço Público de Educação”.

E que não se deixem enganar mais aqueles que consideraram que a redução dos apoios do Estado a colégios privados (sendo que a teia de um dos grupos vai sendo esquecida com a passagem do tempo, mas incluía vultos sempre muito próximos das equipas ministeriais do governos PS) foi em primeiro lugar uma medida de defesa da “Escola Pública”. Foi, sim, uma medida de poupança que, a médio prazo, visava que fossem apenas as “famílias” a suportar por completo a opção pelo ensino privado, opção que irá aumentar À medida que cada vez mais forem os que escolham fugir da desorientação que vai afectando o sector público da Educação, como já acontece no da Saúde, desde o esgotamento dos meios humanos à degradação das condições técnicas de funcionamento.

Estes senhores, que se apresentam cheios de princípios, todos engomados e bem-falantes, não passam de uma nova geração de cangalheiros, talhados à maneira das novas tendências internacionais em matéria de preparação de defuntos, apresentando os cadáveres com melhor cosmética do que quando estavam vivos.

Escuteiros