Previsões Do Dia Antes

É estranho que se pré-comentem os resultados de algo que só sai amanhã, como se estivesse a ser feita um prognóstico no final de um jogo que não acabou para todos.

Há aqui algo esquisito, porque me parece que estão a ser misturadas muitas coisas numa só, dando a entender que estão em “exame” apenas umas políticas e não outras. Mas depois conclui-se afirmando o contrário.

Como é óbvio, a autora do artigo já sabe os resultados e eu, assim sendo, tenho quase a certeza que todos os poderemos adivinhar.

Amanhã será publicado o resumo do desempenho dos alunos na edição de 2018, e por tal importa compreender quem são os alunos que foram convidados a fazer este teste, para assim podermos compreender que políticas podem ter tido efeito no desempenho destes jovens.

As regras estabelecidas pela OCDE obrigam a que apenas alunos com 15 anos que frequentem o sistema de ensino pelo menos no terceiro ciclo possam ser selecionados para este teste. Assim, ficam de fora todos os que já tiverem abandonado ou que estejam mais atrasados no sistema.

Estes alunos nasceram em 2003 e iniciaram o primeiro ciclo em 2009, em 2018 os que nunca chumbaram estavam no 10.º ano ou similar.

Quando iniciaram a escola era ministra da Educação Maria de Lurdes Rodrigues, que tinha desenvolvido a escola a tempo inteiro, encerrado escolas pequenas dispersas pelo país, introduzido as atividades extracurriculares e tinha zangado muito os professores ao tentar implementar um sistema de avaliação. Um mês após o início das aulas, novo governo era eleito e a sua sucessora, Isabel Alçada, dedicou-se a acalmar os professores e teve como medida mais icónica um célebre vídeo em que tratava os meninos como pequenininhos.

Depois, em 2011, veio Nuno Crato, com a introdução de exames no 4.º e 6.º anos e a revisão curricular a ancorar-se em teoria e focada na importância das aprendizagens, mais conteúdos, mais avaliação. Eram os anos da crise, cortes orçamentais em toda a linha do serviço público. Escolas descapitalizadas e professores a receber menos. Cortes no número de funcionários, alargamento do número máximo de alunos por turma e encerramento de disciplinas como área projeto ou estudo acompanhado. Os nossos alunos PISA estavam então no segundo ano de escolaridade.

(…)

Se os resultados do PISA 2018 forem bons, ou seja, se os alunos portugueses mantiverem ou subirem, temos de concluir que fazer muitos exames e aprender num sistema virado para os resultados foi uma boa experiência, e colocou alunos portugueses numa linha competitiva com os seus pares. Se os resultados forem fracos, então o governo atual tem argumentos para dizer que muitos exames, e programas de conteúdos ambiciosos, devem ser repensados. O atual governo verá o seu programa educativo parcialmente avaliado em 2021. Os resultados das políticas de educação devem ser interpretados olhando para percursos longos de aprendizagem. Com ciclos governamentais de quatro anos não é possível avaliar políticas enquanto o governo que as lançou está no poder.

Bola de cristal

17 opiniões sobre “Previsões Do Dia Antes

  1. Dados:
    Exame PISA – 2018 a alunos que entraram no 1º ciclo em 2003
    ministros durante esse lapso de tempo:
    David Justino (1 ano)
    Maria Carmo Seabra (meses)
    Maria de Lurdes Rodrigues (4 anos)
    Isabel Alçada (2 anos)
    Nuno Crato (4 anos)
    Margarida Mano (1 mês)
    Tiago Rodrigues (3 anos)

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  2. pior, não é jornalista, é uma “cientista” com agenda política … o título do texto é clarinho, clarinho. Além de pré-concluir de acordo com a política “pedagógica” (curiosa expressão) deste governo.

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  3. A afirmação de que os resultados do programa educativo deste governo serão parcialmente avaliados em 21 bem como a afirmação de que se deve olhar para percursos longos de aprendizagem ao interpretar os resultados sugerem que a ideia de uma agenda política é um pouco forçada.
    Como é óbvio a” previsão” de que iremos ter duas possíveis interpretações não pode falhar.

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  4. Por acaso, tenho por casa uma simpática jovem da !”geração de 2003″.
    Penso que não serei “especialista” por causa disso em matérias de PISA, mas garanto que me lembro bem de tudo que ela aturou e não foi só a um@ ME.

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  5. A resiliência é a imagem de marca do nosso “sistema educativo”. Em 30 e muitos anos de ensino já vou (vamos) no quinto ou sexto programa da disciplina de filosofia. Há dois anos as aprendizagens essenciais introduziram uma nova versão ( que os manuais não acompanharam). Pobres alunos e pobres de nós. E se fossem só os programas.

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  6. Aproveito a deixa do colega Jorge Mendes para acrescentar que na língua materna a situação é bem pior. O assunto merecia, aliás, uma exploração à séria por quem de direito (o problema neste momento é que não há ninguém com esse estatuto: sindicatos e associações de professores demasiado desacreditados e tomados por nichos conotados com as fações ala esquerda vs. direita… uma vergonha, enfim…)

    Olhemos para o Português no Ensino Básico e observemos a instabilidade desde 2000:
    2000 – Programa de Língua Portuguesa (ME-DGEBS, 1991)
    2001 – Currículo nacional do Ensino Básico – Competências Essenciais (ME-DEB, 2001)
    2009 – Programa de Português do Ensino Básico (ME-DGIDC, 2009)
    2012 – Metas curriculares de Português (MEC, 2012)
    2015 – Programa e metas curriculares de Português do Ensino Básico (MEC, 2015)
    2018 – Aprendizagens essenciais (DGE, 2018)

    O mais curioso disto tudo é que, em vários momentos, documentos que incluem orientações contraditórias coexistem…

    É de estranhar como é que tudo ainda corre tão bem…

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      1. Tem sido uma vergonha… e, verdade seja dita, os documentos curriculares têm vindo progressivamente a perder qualidade e atualidade em termos didáticos! Tivemos a porcariazinha das Metas e a introdução dessa coisa que não existe enquanto domínio autónomo chamada “Educação literária” e agora, já em regime de Costa II (sim, porque este Costa das AE é o mesmo Costa do programa horrendo – porque impraticável – de 2009), temos uma porcariazinha ainda mais pobrezinha com as AE…
        E estava capaz de apostar que nos próximos 2 ou 3 anos vai mudar novamente…

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  7. Tudo uma grande vergonha !
    Baralha,baralha, distribui ,recolhe,baralha e volta a baralhar.
    Não há respeito nem um mínimo de organização ou de gestão.
    Pobres alunos e pobres professores, obrigados a aturar tanta palermice e tanta pseudo inovação ( já com netos ).

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  8. Seja como for, independentemente da lista dos “responsáveis”, é imprescindível uma descida nos resultados do PISA, para validar uma mudança de “paradigma” gloriosa. Também é inevitável, se recordarmos a polémica da edição anterior, com a seleção cuidadosa da amostra para efeitos estatísticos.

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