Centralista E “Estalinista” Me Confesso Em Matéria De Concursos (E Detesto Marquises Mal Amanhadas)

A peça do Observador é longa, tem muitas perspectivas e testemunhos, pelo que merece leitura atenta para perceber o esforço conjunto de diversos grupos de pressão para condicionar o concurso de professores à sua medida (autarcas, directores, “especialistas”). Não são apenas os directores que querem um poder de selecção “imperial”; note-se que há muita gente a considerar que o modelo privado é que é o certo e que entre esses estão pessoas que andam a servir de consultores a autarquias na implementação de “projectos” para os quais querem, claro, “os professores certos”. Os seus. Basta seguir os nomes de certos “especialistas-consultores” e é fácil encontrá-los pelo país.

Não nos deixemos enganar acerca do tom académico de certas intervenções, porque é a fachada para um projecto político de total fragmentação da contratação dos docentes e da sua pulverização por entidades locais ou regionais depois de muito dizerem que não queriam tal competência. Em tudo isto, os directores não passam de peões que, quantas vezes por causa da vaidade, nem repararam que são apenas comparsas úteis de quem quem pretende desarticular por completo a classe profissional mais chata para o poder político nos últimos 10-15 anos.

Quanto às minhas declarações, o meu agradecimento à jornalista por ter mantido algumas das partes mais divertidas e que traduzem por completo o meu pensamento, certamente “arcaico”, mas em nenhum momento interessado em esquemas manhosos e opacos. Só é pena que pareça ainda desconhecer este quintal.

Entre quem contesta o atual sistema de concursos, e todas as suas ramificações, há ainda quem prefira regressar ao “velho e estalinista” concurso único: um algoritmo informático que ordena os professores por graduação (média do ensino superior mais tempo de serviço) e no qual os mais bem pontuados têm direito de preferência na escolha da escola. Esse é o modelo preferido de Paulo Guinote, autor do extinto blogue “A Educação do Meu Umbigo”.  Para o professor, os diretores querem para si, aquilo que não querem para as suas equipas: “Eu não escolho parte [d]os meus alunos e tenho de ensiná-los a todos.”

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“A corrente mais demagógica, quando se fala de concursos de professores, é a que defende [que se devem] por os diretores a contratar”, diz Paulo Guinote. “A minha posição em relação aos diretores, pessoas estimáveis, é que não querem para si o que querem para os outros. Quando entro na minha sala, não escolho 25% ou 30% dos meus alunos. Eles entram todos e tenho de lhes prestar o meu serviço e garantir a todos o melhor possível. Os senhores diretores, como ótimos gestores que certamente são, conseguirão trabalhar com os professores que lhes aparecem.”

Apesar disso, o professor considera aceitável que as direções contratem técnicos especializados para certa oferta que a escola tenha, como quando não há grupo de recrutamento, como é o caso da carpintaria.

Mas o sistema não pode ser distorcido, diz Guinote, “como nos anos 90 do século XX, quando os diretores guardavam certos horários” para os miniconcursos. “Quando toda a gente estava colocada, havia alguém — que não tinha concorrido — e que sabia que tinha um horário naquela escola. A regressão a esse ponto em que os diretores guardavam horários para as pessoas que queriam… Não quero voltar a esse modelo. Quero que seja claro e o mais transparente possível dentro dos grupos de recrutamento que existem”, argumenta o professor.

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Dúvidas, Paulo Guinote não tem. O modelo antigo era melhor do que o atual ao qual se foram fazendo acrescentos. “Imagine que havia uma casinha muito bonita e nós fomos fazendo marquises, e marquises e marquises. Tirem as marquises da casa. A casa original até não estava má, podia não ser extraordinária, mas era óbvia, tinha porta, duas janelas, um telhado e uma chaminé. Depois começaram a fazer a mezanine, a estufa e o anexo, tudo para acomodar situações que se foram sucedendo desnecessariamente. Tudo em nome de poupar e de flexibilizar.”

Com o sistema informático que agora existe acredita que seria mais fácil fazer concursos muito mais eficazes do que há 20 anos, quando era tudo feito à mão. Mas lembra que há uma transparência nas listas que agora foi adulterada com remendos ao concurso. “Houve um período, não vou dizer dourado, mas quase, da transição do analógico para o digital, que é o fim dos anos 1990, início do século XXI, em que os concursos estabilizam. E depois em 2003, 2004, o David Justino decide racionalizar e tem uma ideia boa, era a favor da liberalização, mas centralizou tudo e acabou com os abusos. A partir daí foi o descalabro com todo o tipo de remendos.”

Paulo Guinote lembra que durante o mandato de Maria de Lurdes Rodrigues, quando se criou a figura de professor titular e que levou à maior contestação de sempre de professores, os titulares só podiam candidatar-se vagas de titulares. “Depois, no mandato de Nuno Crato, vieram as vinculações extraordinárias impostas pela União Europeia”, diz o professor, o processo conhecido como norma travão e que se mantém até hoje, obrigando a vincular aos quadros todos os professores que tenham três contratos sucessivos, anuais e completos (22 horas semanais).

Os “remendos” não ficaram por aí. “A seguir ainda houve os concursos repetidos por causa dos abusos da secretária de Estado Adjunta da Educação, Alexandra Leitão… Mas o primeiro grande problema foi com a ministra Mário do Carmo Seabra, foi um desastre total no fim do governo de Santana Lopes. As colocações saíram tarde, saíram erradas, houve um problema com o sistema informático e correu tudo mal.” Apesar do desaire de então com o programa, Paulo Guinote lembra que hoje em dia o sistema informático  já não tem esses problemas.

Os problemas são de origem humana… 🙂

PG Verde

 

Esta Senhora Doutora Do Superior Ainda Não Viu O “Melhor” Que Está Para Lhe Chegar

Porque apenas vislumbrou o descalabro e já está assustada e pede mais “revoluções” no ensino. A “revolução” que anda por aí é outra e não é a do interesse por artigos “científicos”, a menos que sejam na vertente holística.

Quando faço provas orais, aviso previamente os alunos que uma nota superior a 16 valores implica leituras adicionais. Antecipo também a primeira pergunta que costumo fazer: “Conte-me como se preparou para esta prova e diga-me por favor que leituras fez?”. A partir da resposta, vou puxando temas do programa curricular. Mesmo assim, um número significativo de estudantes apresenta-se à prova sem ter lido integralmente qualquer artigo científico e, muito menos, um livro. E eu lá fico perplexa perante tamanho desinteresse.

O que fazer, então? Uma revolução no ensino em todos os graus. É preciso mudar disciplinas, programas, conteúdos e, claro, a formação de professores. Haja coragem e espaço político para isso.

smile

 

Sim, Sempre Ficamos Com A Conta Redonda De 15 Disciplinas No 3º Ciclo

E depois ainda há quem fale na fragmentação do currículo ou na necessidade de o “emagrecer”… cada um quer a sua fatia, mas depois, ai que as crianças têm muitas aulas e tal, corte-se na História, nas Ciências ou nas Artes (ainda existem no currículo?).

E que tal o “voluntariado” ser voluntário?

É uma ideia peregrina, certo? Assim como ser algo feito na comunidade, em “tempo devidamente valorizado” com as famílias… num espírito de responsabilidade social e não apenas de um quilinho de feijão para o caso da jonê?

Marcelo quer disciplina de voluntariado nas escolas e mais atividade em empresas

Marcelo Rebelo de Sousa sugeriu mesmo a introdução, “nos currículos, de um tempo devidamente valorizado para essa forma de responsabilidade social”, como acontece noutros países.

marcelo-rebelo-de-sousa-borat

(caro Presidente, dedique-se a coisas mais a sério, do tipo “regionalização já no terreno, a fingir que não” e deixe-se de floreados…)

Instantâneos Maternais

Fim da manhã… papelaria a ver os últimos especiais da National Geographic (o da Idade do Absolutismo é bastante bom para a malta de História não totalmente convertida aos formatos digitais). Entra uma mamã com duas petizas sucessivas, 3 e 4 anos, mais coisa, menos coisa. Uma delas, agarra-se logo àquelas embalagens com coleccionáveis da Playmobil ou parecido, agitando e fazendo cair de tudo um pouco em redor. A mamã, sem olhar, diz “menina, isso não é para mexer”. E agarra-se a uma revista de sociedade para ver se quem é a última socialite disponível para amar. A criancinha, sem qualquer consequência após o aviso, nem parou para pensar e continuou a revoltear com tudo. Está pronta para ser um@ daquel@s alun@s do PISA que afirmam nem sequer ouvir o que os professores lhes dizem nas aulas. Ou para se revoltar se existir alguma consequência disciplinar, no que certamente terá o apoio maternal.

baby

 

 

6ª Feira

Cresci a assistir às “proezas” dos condutores tugas grunhos, daqueles com ar constantemente congestionado, com manobras erráticas e paragens inesperadas, como se fossem génios da fórmula 1 arraçada de todo-o-terreno, para quem uma simples buzinadela a chamar a atenção é uma ofensa dirigida a todos os ancestrais que deve ser lavada com sangue. Esta semana, por acaso, tenho-me cruzado com um assim, que me faz parecer pessoa delicada em todos os aspectos, incluindo o físico. Até os míticos óculos escuros logo pela matina apresenta quando encena perseguições cuja máquina não aguenta devido à sua massa e peso. Enfim. Mas agora vou envelhecendo a assistir à nova geração de condutores millenials que são uma versão muito mais sofisticada de criatura estúpida, aliando o poder económico para um carro razoavelmente potente, egos já criados na era do “quero, logo tenho” e com zingarelhos acoplados para ameaçar que fotografam, filmam e fazem não sei mais o quê na app se alguém não anda a 150 na estrada e não se desvia no segundo certo ou abre uma terceira via numa estrada de duas para sua excelência (que aposto estar preocupado ao sábado com a pegada ecológica e até anda de bicicleta para ser saudável), passar e poder lançar o seu turbo nas estrelas.

Phosga-se que há manhãs bem bonitas, as pessoas é que as desfeiam.

Majestic sunset in the mountains landscape. HDR image