Diz-se que a lei determina (em Portugal e não só, embora dependa) que ninguém é culpado até isso ser provado em Tribunal e transitado em julgado. O que entre nós é levado aos extremos dos extremos, pois, perante crimes evidentemente cometidos, acabamos tanta vez sem que alguém seja considerado criminoso, não apenas com recurso a “tecnicalidades” processuais, mas em especial porque quase toda a gente se presume inocente, sempre. E quem se admite culpado – como os “arrependidos” – é na maior parte dos caos vilipendiado. E cansa, cansa bastante, esta “cultura” que parecemos ter apurado e exportado para aqueles territórios que colonizámos uns bons séculos. Podemos ter fracassado em muita coisa, mas não nesta forma muito peculiar de sermos sempre inocentes de tudo. Mesmo que tenhamos sido apanhados de robalo no bolso, filmados no acto, gravados a confessá-lo. Haverá sempre forma de dizer que a prova não existe e se existe é inválida. E se não é inválida é porque está fora de prazo. E se está no prazo, é porque desapareceu do disco rígido ou ficou ilegível, inaudível. E se não desapareceu, já prescreveu.
Ou foi o vizinho que fez. O primo que se equivocou. A mulher a dias do cunhado que malandrou. O Bocage que flatou.
Somos um povo de inocentes, assombrado por males cometidos a partir do ar puro, por conspirações tenebrosas, por cabalas infindas.
E se alguém diz algo ou se queixa é populista, demagogo ou coisa pior. Ficam logo encrespado e gritam “caça às bruxas”.
Ide catar-vos.
M€rd@ para isto, que já farta.