A Cultura Da Inocência

Diz-se que a lei determina (em Portugal e não só, embora dependa) que ninguém é culpado até isso ser provado em Tribunal e transitado em julgado. O que entre nós é levado aos extremos dos extremos, pois, perante crimes evidentemente cometidos, acabamos tanta vez sem que alguém seja considerado criminoso, não apenas com recurso a “tecnicalidades” processuais, mas em especial porque quase toda a gente se presume inocente, sempre. E quem se admite culpado – como os “arrependidos” – é na maior parte dos caos vilipendiado. E cansa, cansa bastante, esta “cultura” que parecemos ter apurado e exportado para aqueles territórios que colonizámos uns bons séculos. Podemos ter fracassado em muita coisa, mas não nesta forma muito peculiar de sermos sempre inocentes de tudo. Mesmo que tenhamos sido apanhados de robalo no bolso, filmados no acto, gravados a confessá-lo. Haverá sempre forma de dizer que a prova não existe e se existe é inválida. E se não é inválida é porque está fora de prazo. E se está no prazo, é porque desapareceu do disco rígido ou ficou ilegível, inaudível. E se não desapareceu, já prescreveu.

Ou foi o vizinho que fez. O primo que se equivocou. A mulher a dias do cunhado que malandrou.  O Bocage que flatou.

Somos um povo de inocentes, assombrado por males cometidos a partir do ar puro, por conspirações tenebrosas, por cabalas infindas.

E se alguém diz algo ou se queixa é populista, demagogo ou coisa pior. Ficam logo encrespado e gritam “caça às bruxas”.

Ide catar-vos.

M€rd@ para isto, que já farta.

omo

 

Conversa À Porta De Uma Escola, Algures, No País Da Descentralização

Funcionária não docente nº 1: Ouve lá, mas aquilo é mesmo greve? Porque diz que é manifestação.

Funcionária não docente nº 2: É manifestação. Greve é dos professores.

Funcionária não docente nº 1: Então não podemos faltar.

Funcionária não docente nº 2: Agora somos da câmara. Temos de esperar para saber.

Funcionária não docente nº 1: É que depois temos falta injustificada.

Funcionária não docente nº 2: Pois… é melhor esperar para ver o que a câmara diz. A câmara tem de dizer o que vamos fazer.

E é assim… eu ia de passagem, não fiquei para o desfecho. Mas dá para perceber que, no fundo, é o novo patronato que decide porque isto da democracia de proximidade tem destas coisas.

E que fique claro que se o “patrão” dos professores fossem @s director@s a conversa seria a mesma. Só faltaria o “não” antes de “docente”.

homens-da-luta