Já me disseram isso. Deve ser porque, por ter origem no bom e velho proletariado aqui da margem sul, me irritam aqueles que gostam de fazer a associação linear entre pobreza, insucesso escolar, ignorância, incapacidade para distinguir o verdadeiro do falso e permeabilidade aos “populismos”. Deve ser por isso que me irritam os engomadinhos do sistema. Porque sinto que, com base numas análises estatísticas muito “humanistas”, explicam o maior insucesso escolar junto das classes socialmente desfavorecidas com essa condição e daí partem para a sua imbecilidade política. Sim, pode acontecer, mas acreditem que encontrei mais idiotas e aldrabões em gente com pergaminhos do que nas chamadas “classes perigosas”. Vejam este caso de tipo instruído, mas que deixa muito a desejar em termos de “radicalismo”.
Se a falta de cultura potencia a adesão a propostas simplistas? Sim e isso fica demonstrado pelo modo como o PS reduz qualquer questão complexa a slogans demagógicos (“quem é a favor do combate às alterações climáticas é contra a descida do IVA da electricidade”, quando na factura nós já pagamos uma boa contribuição para as energias renováveis e muita da electricidade consta já ser produzida por essa via), em especial na Educação em que o maniqueísmo é a regra dos “utopistas” de tertúlia académica e dos herdeiros vitalícios do “espírito de 68” que os levou a cadeirões nos círculos do poder que nunca largam de forma voluntária.
Aliás, as contas são simples… se temos uma massa de pessoas que vive abaixo do limiar da pobreza ainda superior aos 20% e se as taxas de insucesso foram durante tanto tempo tão elevadas, é paradoxal que certos “populismos” só cheguem ao Parlamento exactamente quando temos a votar a “geração mais qualificada de sempre”, como o actual primeiro-ministro gosta de afirmar em ocasiões solenes de agit-prop institucional.
Assim como é paradoxal que quem promove medidas mal disfarçadas de esvaziamento dos currículos depois ache que o risco esteja na “ignorância”. Dizem, em coro, que o contrário de chumbar é aprender, mas aprender o quê? História aos Semestres? Ciência do Quotidiano? Matemática dos Trocos? Inglês Camarinho para servir Turistas? Geografia de Proximidade?
Não será isso que levará a que acreditemos em “fontes obscuras de informação” ou declarações absolutamente patuscas como as de certos preclaros senadores do regime?
Mas volto ao início… o problema deve ser meu, de um qualquer complexo de classe por ter lido cedo autores “radicais” como Gorki, Steinbeck, Redol, Soeiro Pereira Gomes, Sartre, Ferreira de Castro, porque os ignorantes com a 4ª classe que me fizeram nascer e me criaram gostavam de ler e deixar ler em vez de acreditarem em determinismos da sociologia para totós de certos governantes.

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